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Flor do deserto do Atacama pode ajudar a entender plantas que resistem à seca

Pesquisadores chilenos estudam a “pata de guanaco”, espécie que sobrevive em um dos ambientes mais áridos do planeta e pode inspirar soluções para a agricultura do futuro.d

Flores no deserto do Atacama | Rodrigo Gutierrez/Reuters

No deserto do Atacama, o mais seco do mundo, uma pequena flor fúcsia desafia as condições extremas e dá um espetáculo raro de cores. A Cistanthe longiscapa, conhecida localmente como “pata de guanaco”, floresce apenas durante breves e raros períodos de chuva, criando um fenômeno natural conhecido como o “deserto florido”. Agora, cientistas da Universidade Andrés Bello, no Chile, acreditam que essa planta pode conter segredos genéticos capazes de transformar o futuro da agricultura em tempos de crise climática.

Flor do Deserto do Atacama - Foto: Carolina Salaza Coloma/Flickr 

Estudo genético em busca de respostas

Pesquisadores do Centro de Biotecnologia Vegetal da universidade estão realizando experimentos de sequenciamento genético para compreender como a flor consegue sobreviver à escassez de água e às oscilações extremas de temperatura. A meta é ambiciosa: identificar características de resistência à seca que possam ser transferidas para outras culturas agrícolas.

“Com as mudanças climáticas, as secas estão se tornando um problema sério para a agricultura, para o mundo e para o nosso país”, explicou Ariel Orellana, diretor do centro de pesquisa. “Precisamos de plantas que sejam capazes de tolerar essa seca.”

O desafio hídrico do Chile

O Chile é um dos países mais afetados pela falta de água. Segundo o World Resources Institute (WRI), o país está entre os que enfrentam maior estresse hídrico no planeta. Projeções indicam que, até 2050, o vale central chileno, região responsável por grande parte das exportações agrícolas de vinho, frutas e gado, pode enfrentar secas ainda mais severas.

Flor do Deserto do Atacama - Foto: Adiction [Camila Gallo G.]-CC 

A chave está na fotossíntese

O que torna a “pata de guanaco” única, segundo Orellana, é sua capacidade de alternar entre diferentes tipos de fotossíntese conforme as condições do ambiente. Sob estresse causado pela falta de água, excesso de luz ou salinidade, ela adota o mecanismo conhecido como fotossíntese CAM, que economiza água. Quando o clima melhora, retorna à fotossíntese C3, mais comum nas plantas. “Essa flexibilidade a torna um ótimo modelo para estudar como os genes controlam essas mudanças”, destacou o pesquisador.

Mistérios ainda em aberto

Apesar dos avanços, muitos aspectos da resistência da planta ainda são um enigma para os cientistas. Cesar Pizarro Gacitua, chefe de conservação da biodiversidade na região do Atacama da agência florestal chilena Conaf, reforça a importância de estudos integrados.“Como ela produz alimento suficiente, realiza a fotossíntese, para sobreviver a condições extremas?”, questionou.

Enquanto a flor cobre o deserto mais árido do mundo com tons vibrantes de rosa e roxo, pesquisadores seguem tentando decifrar seus segredos e com eles, talvez encontrar respostas para o futuro da vida em um planeta cada vez mais seco.

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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