Por Álvaro Luís Carneiro
Jornalista e articulista convidado
A última sexta-feira (05) marcou uma agenda no Palácio de Karnak dedicada a um fato de relevância acadêmica para a rede estadual de ensino do Piauí. O estudante Aíke de Jesus Alves Cunha, de 16 anos, natural do município de Nossa Senhora de Nazaré e atualmente aluno do Centro Estadual de Tempo Integral (CETI) Governador Dirceu Mendes Arcoverde, turma ITA/IME, foi recebido pelo governador Rafael Fonteles em reconhecimento pela aprovação obtida recentemente no vestibular do Instituto Militar de Engenharia (IME), um dos mais seletivos e difíceis do país.
A recepção reuniu familiares, professores e representantes da cúpula da Secretaria de Estado da Educação. Em clima institucional e ao mesmo tempo descontraído, o encontro ganhou um elemento simbólico associado às tradições estudantis brasileiras: no gabinete oficial, o próprio governador, usando uma pequena máquina de corte, raspou o cabelo do aprovado. Foi um gesto simples, sem aparato, mas carregado de significado, algo que parecia reproduzir um ritual antigo, quase doméstico, de celebração entre amigos e familiares. E ali, diante de todos, evidenciava-se que não se tratava apenas de um ato performático, mas de uma participação emocionada de alguém cuja trajetória pessoal coloca a educação em um lugar central de identidade e compromisso.
A cena reencontrou o passado dos tempos de vestibulares marcados por comemorações improvisadas sem exageros, e deu ao momento institucional um contorno humano e leve. Tornou-se um registro visual de passagem: a mudança de fase, simbolizada pelo corte, revelava-se diante de pessoas presentes ao ato como um rito que permanece no imaginário coletivo.
Embora breve, o momento remetia a uma conquista que transcende o gesto comemorativo. A aprovação de Aíke em um vestibular de grande complexidade evidencia a capacidade formativa da rede estadual piauiense, estruturada com jornada ampliada, acompanhamento pedagógico continuado e metas claras de desempenho. É um dado que interessa à comunidade escolar porque sinaliza um processo concreto de democratização de acesso a espaços historicamente mais ocupados por jovens oriundos de escolas privadas e meios socioeconômicos bem mais favorecidos.
A sessão no Palácio de Karnak cumpriu a função institucional de registrar e valorizar publicamente o feito de um estudante da rede pública que alcançou um patamar competitivo. Em um contexto frequentemente dominado por indicadores abstratos, rankings e números, ali houve uma pausa humana, centrada em um nome, uma história e na materialidade de um corte de cabelo que simbolizou mudança de etapa: da escola para um curso superior de alto desempenho. O gesto permanece, não pela forma, mas pela mensagem que ecoa: quando o mérito nasce dentro da escola pública, há sempre algo a ser celebrado; quando uma raspagem de cabelo no gabinete governamental do Karnak reforça a importância da educação pública no Piauí.