SEÇÕES

Notícias do Dia

De segunda a sexta, das 7h às 9h, através da TV e Rádio Jornal, canal 20.1 e 90.3 FM, tudo o que você precisa saber em um só lugar, com apresentação da jornalista Cinthia Lages.

Lista de Colunas

Caso de adolescente estuprada expõe falhas na comunicação da polícia no Piauí

Advogada afirma que adolescente violentada por quatro dias foi revitimizada pela divulgação de dados sigilosos; “o direito à intimidade é uma porta inviolável, mas ela foi violada institucionalmente”, disse.

Caso de adolescente estuprada expõe falhas na comunicação da polícia no Piauí | Febraspa

Em entrevista ao programa Notícias do Dia, apresentado por Cinthia Lages, a advogada Rosemary Farias criticou a forma como a Polícia Civil tem divulgado informações sobre casos de violência de gênero, muitos envolvendo adolescentes. A fala ocorreu durante o debate sobre a violência sexual sofrida por uma adolescente de 15 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que ficou desaparecida por quatro dias e foi encontrada ao lado de um homem de 35 anos, em uma casa no bairro Saci, Zona Sul de Teresina.

Rosemary denunciou a ausência de critérios no repasse de informações à imprensa e à sociedade, o que, segundo ela, viola garantias constitucionais da vítima e intensifica o trauma vivido.

“O que a polícia vai divulgar? É de interesse público ou vai prejudicar ainda mais a vítima? Vai aumentar o trauma? Vai colocar essa adolescente em mais risco? Porque o que nós vimos nesse caso, e em outros, é que a polícia não tem seletividade na divulgação.”

A advogada afirma que chegou a conversar com o delegado responsável pelo caso e demonstrou preocupação com o teor das informações tornadas públicas. “Eu não estou divulgando algumas informações porque é tão sensível, entra tanto na intimidade daquela adolescente. E o direito à intimidade é um direito constitucional, é uma porta inviolável, mas ela já foi violada de todas as formas, e agora está sendo violada institucionalmente.”

Ela ainda ressalta que muitos dos detalhes divulgados à imprensa nem sequer estão disponíveis para a defesa. “Às vezes, nós advogados ainda não tivemos acesso ao processo, porque não estamos habilitados, e essas informações já estão na boca de todo mundo.”

Além disso, Rosemary alertou para a revitimização da adolescente, com consequências psicológicas e sociais graves: “A violência moral continua nas redes sociais, culpabilizando a adolescente. Ela está sendo revitimizada. É uma violência de segunda ordem que aumenta o trauma. Ela vai se recolher cada vez mais, até se sentir culpada por tudo isso.”

A advogada defende que há um jogo jurídico envolvido na forma como as informações são apresentadas, o que pode interferir diretamente no julgamento de casos de feminicídio e violência sexual: “Quando se coloca a vítima como provocadora, se tenta descaracterizar a violência sofrida. Isso pode até fazer com que o crime deixe de ser feminicídio e vire homicídio privilegiado. É uma jogada jurídica perigosa.”

Rosemary cobrou a criação urgente de protocolos por parte da Secretaria de Segurança Pública: “O erro está na falta de um protocolo. É um desconhecimento, uma falta de sensibilidade e, principalmente, de conhecimento da lei.”

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
Tópicos
Carregue mais
Veja Também