O delegado Antônio Bonfim, da 5ª DP (Centro), informou na noite de quinta-feira que um duto de ar ligava o local onde estavam os cilindros de gás ao lado externo do restaurante, saindo próximo à porta do estabelecimento. Na opinião do delegado, esse duto poderia ter conduzido uma fagulha caso algum funcionário tenha acendido um cigarro perto dele.
Essa é uma das hipóteses investigadas no caso. Bonfim ouviu dois funcionários da SHV Gás, empresa responsável pela reposição de cilindros de gás no restaurante Filé Carioca - onde houve uma explosão há uma semana, matando quatro pessoas. No depoimento, Ubiraci da Conceição da Silva e Marcos Santos da Costa disseram não contar com um equipamento para medir possíveis escapamentos de gás.
- Os funcionários disseram que verificam se há vazamento pelo olfato ou com espuma, que seriam medidas pouco técnicas - avaliou o delegado.
Bonfim afirmou ainda que a polícia trabalha com a tese de que houve uma sucessão de erros e que, na segunda-feira, irá apresentar um relatório parcial com as primeiras conclusões da investigação.
O irmão do dono do restaurante, Jorge Henrique do Amaral, também depôs nesta quinta-feira. De acordo com o delegado, Jorge - que também é gerente do estabelecimento - informou que estava dentro do Filé Carioca no momento da explosão.
Ele contou ter se dirigido à escada que leva ao subsolo, onde eram guardados os cilindros, e sentiu um forte cheiro de gás, que o impediu de descer. Jorge teria, então, caminhado na direção de um alarme, quando tropeçou numa cadeira e caiu. Neste momento teria ocorrido a explosão.
Ele chegou à delegacia numa cadeira de rodas e com um dos braços enfaixado, devido a ferimentos sofridos na explosão que ocorreu no restaurante, na quinta-feira passada, e saiu sem falar com os repórteres.
Mais cedo, prestou depoimento Anderson Santiago Tavares, filho do chefe de cozinha Severino Antônio Tavares, morto no momento da explosão. De acordo com Anderson, o dono do restaurante, Carlos Rogério Amaral, tentou culpar seu pai ao depor, alegando que o funcionário havia mexido no equipamento de gás:
? Meu pai era chefe de cozinha, e não técnico de gás. Ele, inclusive, já havia comentado com minha mãe sobre um possível vazamento no restaurante por causa do forte cheiro.
A advogada da família do chefe de cozinha, Clarissa Costa Carvalho, disse que vai entrar na Justiça do Trabalho contra o dono do restaurante porque, embora Severino trabalhasse há um ano e dois meses no estabelecimento, ainda não tivera sua carteira de trabalho assinada. O processo vai incluir também a prefeitura como ré por omissão, já que, no entendimento da advogada, as condições de trabalho no local eram inadequadas.
Foi enterrada nesta quinta-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, a quarta vítima da explosão do restaurante. José Roberto da Silva, de 28 anos, trabalhava há apenas três meses como ajudante de cozinha no estabelecimento. Ele era casado com Silvia Silva, que não quis dar declarações à imprensa e tinha uma filha de cinco anos.
? Que não fique no esquecimento que ele deixou esposa e filha. Saiu de casa para trabalhar e não voltou mais - disse revoltada a cozinheira Ângela Rodrigues, vizinha de Roberto na Favela da Rocinha, que contou ainda ter ajudado a criá-lo.
Além de José Roberto, outras três pessoas morreram e 16 ficaram feridas na explosão. Duas vítimas permanecem internadas em estado grave e sem previsão de alta, segundo informou a Secretaria municipal de Saúde. Daniele Pereira, de 18 anos, está no Hospital Souza Aguiar e Igídio da Costa Neto, que também teve traumatismo craniano, está internado no Hospital Miguel Couto, na Gávea. Ambos estão no Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
Também nesta quinta-feira, o Centro de Operações da Prefeitura do Rio liberou totalmente a Rua Visconde do Rio Branco ao tráfego de veículos, na altura da Praça da Tiradentes. Após explosão, apenas uma faixa de rolamento encontrava-se liberada no trecho. Técnicos das Secretarias Municipais de Obras, Conservação, Defesa Civil e da Comlurb concluíram os trabalhos no local. Agentes da CET-Rio orientam motoristas no local.