Para Cremilson Almeida de Souza, o Coroa, um dos chefes do tráfico de drogas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o gerenciamento de seu negócio é baseado em uma regra direta e incontestável: qualquer pessoa que more na região e mantenha algum tipo de relacionamento com policiais – mesmo que uma simples amizade – deve ser eliminada.
Essa forma de operar está descrita no pedido de prisão feito pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) contra Coroa e mais outros três integrantes de seu grupo: Wellington Feliz Lima, o Lace, José Augusto Conceição barros da Silva, o Pará, e Marcelo Fernandes Silva, o Jebe.
Logo no primeiro dia deste ano, os três últimos, a mando de Coroa, foram até uma casa localizada na Rua Sargento Honório, bairro Sargento Roncalli, em Belford Roxo – o imóvel era a residência de Wellington Figueira de Oliveira Júnior.
Eles invadiram a residência e o sequestraram, utilizando o próprio carro da vítima, um Astra, para fugir do local. O corpo de Wellington foi encontrado horas mais tarde, no mesmo bairro, carbonizado e junto ao veículo.
Segundo o Ministério Público, ele foi assassinado por ter passado parte daquele dia em um bar no bairro Parque Amorim, bebendo e conversando com um policial que era seu amigo.
Naquele mesmo dia, Lace, Pará e Jebe atiraram contra Osiel de Paula Resende. O crime aconteceu pouco depois das 15h em frente ao número 270 da Rua Cariri, no bairro Parque São Lucas, também em Belford Roxo. Mesmo muito ferido, o alvo conseguiu sobreviver.
Os bandidos chegaram ao local em um carro azul com vidros escurecidos. Jebe fez os disparos, Lace dirigia o veículo e Pará estava no banco do carona. O motivo da tentativa de homicídio? Osiel era amigo de vários policiais que moravam no bairro.
Naquele mesmo período, Coroa divulgou uma lista de moradores de Belford Roxo que deveriam ser eliminados pelo fato de serem policiais ou manter algum tipo de ligação com agentes da lei.
"Para esses indivíduos, as coisas funcionam assim: se alguém que mora na área dominada por eles mantém qualquer relação com policiais, mesmo que seja uma simples amizade, essa pessoa deve morrer", disse o promotor Fábio Corrêa.
Segundo ele, a liderança de Coroa nas comunidades de Belford Roxo está estabelecida pelo menos desde 2016, com vários homicídios praticados por conta do conflitos com policiais.
De acordo com levantamento feito junto ao Ministério Público, Coroa já foi preso pelos crimes de latrocínio, roubo à mão armada, tráfico e associação para o tráfico de drogas. Em março de 2014, ele fugiu do Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói.
Foi na região dominada por ele que o cabo da Polícia Militar Daniel dos Santos e Silva foi morto, em maio de 2017, após acessar a comunidade Parque Roseiral atrás de um balão em queda. Ele entrou na comunidade por equívoco junto com um grupo de amigos e, ao ser abordado por traficantes, foi reconhecido como policial e baleado ao tentar fugir.
Todos os quatro – Coroa, Lace, Pará e Jebe – já têm prisão preventiva decretada pela 1ª Vara Criminal de Belford Roxo.