A posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), nesta terça-feira (1º), marca o início de um ciclo conservador no país, gestado nos últimos anos na esteira da crise política, dos escândalos de corrupção, da falta de segurança pública entre outros fatores.
O novo mandatário, capitão reformado do Exército e deputado federal há 27 anos, assume a chefia do Executivo nacional rodeado por militares de alta patente e pela expectativa de uma ruptura do establishment depositada nas urnas por mais de 57 milhões de eleitores.
O rígido desenho de segurança da cerimônia de posse contrasta com o estilo informal de Bolsonaro, que, mesmo após vencer a eleição, costumava sair de sua casa, no Rio, para sacar dinheiro em agências bancárias ou para tomar água de coco na praia da Barra da Tijuca, na zona oeste carioca.
A solenidade será marcada por fortes restrições ao público e à imprensa. O acesso de jornalistas às autoridades foi praticamente inviabilizado nas quatro etapas da posse — da catedral de Brasília, onde Bolsonaro participará de um culto ecumênico, ao Itamaraty, onde haverá um coquetel de encerramento. São 140 convidados, incluindo 12 chefes de Estado.
Nesse meio período, o presidente eleito desfilará de carro (que pode ser aberto ou fechado) em direção ao Congresso, onde será realizado o ato oficial de posse. Posteriormente, ele subirá a rampa do Palácio do Planalto para receber a faixa das mãos de Michel Temer (MDB).
De forma inédita, serão utilizados equipamentos de guerra como mísseis antiaéreos guiados a laser (capazes de abater aviões a até 7 km de distância) e radar portátil de detecção de aeronaves que voam a baixa altitude. Um decreto assinado por Temer autoriza as Forças Armadas a abaterem “aeronaves suspeitas ou hostis, que possam apresentar ameaça à segurança” no dia da cerimônia. O texto leva em conta todo o espaço aérea brasileiro, e não apenas a área em que haverá restrições de voo.
São esperadas de 250 mil a 500 mil pessoas na Esplanadas dos Ministérios, segundo estimativa do GSI ( Gabinete de Segurança Institucional). O órgão vetou o uso de mochilas, guardas-chuvas, garrafas, carrinhos de bebês, entre outros itens. Todos os que desejarem acompanhar a festa da posse passarão ao menos quatro pontos de revista.
Ameaça terrorista
De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social, a logística da cerimônia mobilizará mais de 3.000 agentes de forças de segurança, entre os quais policiais militares, civis e federais, além de militares das Forças Armadas e do Corpo de Bombeiro. É o maior esquema de segurança já montado para uma posse presidencial.
Um dos fatores que demandam maior preocupação por parte do GSI é a suposta ameaça de um grupo que se autodenomina terrorista e que reivindicou a autoria de uma tentativa de ataque em uma igreja em Brazlândia, região administrativa do Distrito Federal. Na segunda-feira (31), as polícias Federal e Civil realizaram uma operação para reprimir a organização — sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Brasília, Goiás e São Paulo.
Esse grupo teria, segundo informações obtidas pela Polícia Federal, divulgado a intenção de realizar um atentado durante a posse de Bolsonaro. Não foram divulgados detalhes sobre o suposto planejamento criminoso.
O assunto é sensível no alto escalão do novo governo porque Bolsonaro por pouco não morreu em um ataque a faca durante atividade de campanha em Juíz de Fora (MG), em 6 de setembro.
O então presidenciável sofreu o golpe na região do abdômen e chegou a perder praticamente metade do sangue do corpo. Ele precisou passar por duas cirurgias, sendo uma para estancar a hemorragia logo após a facada. Até hoje ele depende de uma colostomia (uma espécie de saco plástico ligado ao intestino) --em janeiro ele será operado para retirada da bolsa.
Devido ao temor de um novo atentado, até o momento Bolsonaro e sua equipe ainda não decidiram se o presidente desfilará em carro aberto com o tradicional Rolls-Royce. A escolha caberá ao próprio pesselista, que deve fazê-la em cima da hora, segundo o general Sergio Etchegoyen, atual chefe do GSI --ele será substituído pelo general Augusto Heleno a partir de janeiro do ano que vem.
"A decisão do carro aberto ou fechado, que é uma coisa menor numa festa tão grande e bonita, será decidida pelo presidente da República."
Cronograma da posse
14h45 - Desfile do cortejo presidencial da Catedral Metropolitana de Brasília até o Congresso Nacional
15h - Abertura da Sessão Solene de Posse no Plenário da Câmara dos Deputados
15h45 - Término da sessão solene na Câmara dos Deputados 16h10 - Cerimônia de Execução do Hino Nacional, seguida de salva de tiros e revista de tropas, na rampa do Congresso Nacional 16h25 - Desfile do cortejo presidencial do Congresso Nacional para o Palácio do Planalto
16h30 - Chegada do cortejo ao Palácio do Planalto
16h40 - Recebimento da faixa presidencial, seguida de pronunciamento oficial à Nação
17h - Cumprimentos dos Chefes de Governo e de Estado
17h - Posicionamento da imprensa credenciada para o Palácio Itamaraty no térreo do Palácio Itamaraty
17h30 - Cerimônia de nomeação dos ministros no Salão Nobre do Palácio do Planalto
18h15 - Fotografia oficial no Salão Oeste do Palácio do Planalto 18h45 - Partida do cortejo presidencial para o Palácio Itamaraty 19h - Recepção oferecida pelo presidente Jair Bolsonaro e primeira-dama Michelle Bolsonaro no Palácio Itamaraty
21h - Término da recepção