O juiz Francesco Cozzi afirmou nesta quinta-feira (16) que ainda pode haver entre 10 e 20 pessoas desaparecidas sob os escombros da ponte da rodovia que desabou em Gênova. A hipótese está baseada em informações de parentes e do número de veículos que se acreditava passar pela ponte no momento da tragédia, de acordo com a Reuters.
Na manhã de terça-feira (14), a ponte Morandi, que atravessa uma área densamente habitada de Gênova, entrou parcialmente em colapso durante uma chuva intensa. Por ela, passa a rodovia A10, que liga cidades no Norte da Itália ao Sul da França.
O premiê italiano, Giuseppe Conte, afirmou que 38 pessoas morreram, 15 ficaram feridas - sendo cinco em estado grave. O novo balanço foi divulgado após reunião do Centro de Coordenação para os esforços de socorro. Na quarta-feira, a prefeitura local falava em 39 mortos e 16 feridos.
As operações de busca, que envolvem cerca de 1000 pessoas, seguem dia e noite à procura de sobreviventes entre os blocos de concreto e as ferragens. Imagens de câmeras de vigilância são analisadas para se ter uma idéia melhor sobre o possível número de carros e caminhões envolvidas no desastre.
Causas do acidente
Para Francesco Cozzi, o desabamento da ponte em Gênova não foi uma fatalidade. As investigações já começaram e devem durar meses até que peritos estabeleçam as causas do desastre, de acordo com a Rádio França Internacional (RFI).
Uma das principais hipóteses é a vulnerabilidade da infraestrutura e do material usado para a construção, o concreto armado. O material se degrada ao longo do tempo, além de precisar de uma frequente e custosa manutenção. A ponte foi construída na década de 1960, projetada pelo engenheiro Riccardo Morandi, durante uma das épocas de maior crescimento econômico da Itália.
Os engenheiros são unanimes em afirmar que projeto não calculou o peso excessivo dos caminhões que suportam cargas cada vez mais pesadas e nem a quantidade de veículos em circulação. Além disso, não se descarta a possibilidade da erosão do solo de Gênova, uma cidade marítima.
Segundo especialistas, a ponte deveria ter sido reformada ou demolida 50 anos após sua construção. De acordo com o Conselho Nacional de Pesquisa (CNR) da Itália, “a maioria das pontes excedeu a duração para a qual foi construída. Para substituí-las por obras mais modernas, são necessários dezenas de bilhões de euros”.
Alertas
Vários alertas sobre o estado de conservação foram dados por especialistas, de acordo com a CNN.
Em 2012, Giovanni Calvini, então chefe da filial de Gênova da organização de empregadores italiana Confindustria, afirmou, em entrevista ao jornal “Il Secolo XIX”, ao buscar o apoio de sua organização para novas estradas: “Este grupo não deve pensar que a organização de trabalhos públicos não é o seu trabalho, porque em 10 anos a ponte Morandi entra em colapso e ficaremos horas parados em engarrafamentos”.
Em 2016, Antonio Brencich, professor do departamento de engenharia da Universidade de Gênova, classificou a ponte como uma "falha de engenharia" em entrevista à emissora Primocanale.
Ao jornal “La Repubblica”, Brencich explicou após a tragédia que a ponte possui cabos de aço envoltos em uma espécie de bainha, que tem a função de protegê-los da corrosão. No entanto, o sistema não funciona como deveria.
"A Ponte Morandi estava constantemente em manutenção: foi afetada por sérios problemas de corrosão relacionados à tecnologia que o próprio Morandi havia patenteado - mas parou de usar - e que se mostrou desastrosa", disse.
Estado de emergência
Na quarta-feira (15), premiê italiano, Giuseppe Conte, culpou a concessionária Autostrade per l'Italia, responsável pela manutenção da estrutura, pela tragédia e anunciou que dará início ao processo para retirar a sua concessão. Ele ainda declarou estado de emergência de 12 meses em Gênova.
Antes do anúncio feito pelo premiê, a operadora Autostrade per l'Italia afirmou que não encontrou sinais de problemas na estrutura da ponte antes do desastre. A empresa declarou ter realizado vistorias regulares e sofisticados na ponte.
Atlantia, que controla “Autostrade per l‘Italia” e gere mais de 3.000 km, diz ter investido € 11,4 bilhões para melhorar a sua rede desde 1997, no âmbito de um programa de obras de € 24,4 bilhões em 923 quilômetros de rodovias, ainda de acordo com a RFI.
Cálculos do jornal "La Repubblica" apontam que mais de 300 viadutos e túneis do país apresentam problemas por deficiência de seus materiais, excesso de uso e falta de manutenção.