O número de mortes por dengue no Brasil é quase três vezes maior neste ano em relação ao mesmo momento de 2018. De acordo com o boletim do Ministério da Saúde, datado de 5 de junho, as mortes por dengue confirmadas até 27 de maio eram 295. No mesmo momento do ano passado, o país havia registrado 99 mortes pela doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Em todo o Brasil, o número de casos prováveis de dengue é cinco vezes maior do que no mesmo período do ano anterior, num total de 965,04 mil.
Em Teresina, a Gerente de Epidemiologia da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Dra. Amparo Salmito, afirma que, até o último dia 10 de junho, foram notificados 1943 casos de dengue, enquanto que em 2018 foram 874 casos, ou seja, os casos mais que dobraram no período de um ano, representando um aumento de 122,31%.
Crédito: Gabriel Paulino
“Nós estamos acompanhando que em 2019 houve um aumento de casos em relação a 2018, e uma das explicações foi o tempo de chuva que foi mais prolongado, e isso faz com que a água fique acumulada por mais tempo, fazendo com que o mosquito aumente a sua densidade, ou seja, mais mosquitos circulando e, com isso, os casos de pessoas doentes também aumentam”, afirmou.
A médica acredita que com a suspensão das chuvas, as notificações da doença devem diminuir nos próximos meses, mas é preciso combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, evitando a proliferação de novos mosquitos. “No caso da dengue, o que podemos modificar é o combate ao vetor, porque não temos uma vacina nem medicamento para que as pessoas possam tomar e prevenir a doença, tanto que em 2019 já estamos com quase 2000 mil casos de dengue em Teresina. Não podemos baixar a guarda no combate ao Aedes, porque ainda existe muito acúmulo de água”, acrescentou.
A gerente de Epidemiologia da FMS alerta ainda que o período chuvoso, associado à falta de cuidados domésticos, contribui para o aumento de criadouros. Em Teresina, por conta das condições climáticas, o mosquito evolui de ovo para mosquito adulto em cinco dias, situação que difere de vários locais do Brasil, em que o ciclo de criação do mosquito é de dez dias.
Mais de 670 mil ovos do Aedes eliminados
Borracharias, sucatas, hortas comunitárias, cemitérios e imóveis abandonados são alguns locais com maior propensão à proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da zika, dengue e chikungunya. Por isso, a Gerência de Zoonoses de Teresina realiza um trabalho específico nesses locais, onde já recolheu mais de 660 mil ovos do mosquito, até o dia 31 de maio de 2019.
Teresina possui, atualmente, mais de 1.200 locais monitorados, que são conhecidos como Pontos Estratégicos (PE), e estão em todas as regiões da cidade. Segundo a Gerência de Zoonoses, vinculada à Fundação Municipal de Saúde, 677.819 ovos foram retirados desses locais até o dia 31 de maio deste ano, sendo 256.144 na zona Norte; 197.042 na zona Sul; 138.305 na zona Leste, e 86.308 na zona Sudeste.
Agentes de Saúde distribuem ovitrampas para monitorar proliferação do mosquito
Estes pontos são escolhidos pelos médicos veterinários da Gerência de Zoonoses, que coordenam um trabalho de monitoramento dos eventuais acúmulos de água e ovos do Aedes aegypti. O monitoramento é feito com o uso de armadilhas chamadas ovitrampas, que atraem a fêmea do mosquito para a postura de seus ovos. “Sabemos que a fêmea, na sua fase adulta, dura em torno de 42 dias, e embora ela produza os ovos de uma vez, a postura é feita gradualmente, então precisamos fazer o esgotamento destes ovos toda semana”, afirma a Gerente de Zoonoses do município, Oriana Bezerra.
Ainda de acordo com Oriana, a periodicidade de visita nesses pontos acontece a cada 10 dias. “Se nós considerarmos que esses ovos não se tornarão adultos, com esta ação nós retiramos de circulação uma grande quantidade de possíveis larvas e vetores na sua fase adulta”, esclarece a Gerente. O trabalho é complementado com o uso de larvicida e também do UBV (máquina pulverizadora de inseticida).
Gerente de Zoonoses do município, Oriana Bezerra | Ana Cláudia Santos
Além disso, a Gerência também realiza a Faxina nos Bairros, que é fruto da colaboração entre setor público e comunidade, na recolhida do lixo doméstico, que tem potencial de se tornar criadouro do Aedes aegypti. “Durante a semana, as equipes avisam os moradores de dois bairros da cidade para fazer uma limpeza em sua casa e depositar na calçada todo o lixo doméstico, que será recolhido no sábado por um caminhão de limpeza. Pedimos especial atenção para o lixo que não é recolhido pela limpeza regular, como eletrodomésticos e móveis de grande porte”, reforça.
A Faxina tem como objetivo sensibilizar a população para criar o hábito semanal de vistoria do seu imóvel; proporcionar à população a retirada pela Prefeitura de utensílios inservíveis, principalmente os que a coleta de lixo diária não retira. (W.B.)
Aumentam em 201% os casos da doença no Piauí
No Piauí, dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) apontam que os casos de dengue seguem em crescimento. Os números mostram que os casos confirmados de dengue tiveram um aumento de 201% em relação ao mesmo período do ano passado, com um total de 3.703 notificações provenientes de 128 municípios. Em 2018, foram registradas 1.227 notificações em 75 municípios.
Crédito: José Alves Filho
Apesar do aumento considerável em todo Estado, a Sesapi aponta que em 2018 apenas 75 municípios divulgaram os boletins com as notificações da doença, enquanto, em 2019, 128 cidades começaram a registrar, por isso houve o aumento nas notificações estaduais. Para o professor Ribamar Rocha, do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Piauí, além do acúmulo de água, o lixo tem se tornado um grande proliferador da doença nos municípios.
“Todo mundo já tem a informação de que o mosquito se prolifera em poças d'água, mas evidentemente as pessoas não tomam providência. Além disso, ainda temos muito lixo em espaços públicos e no entorno das residências, e apesar de ainda não termos um estudo científico, podemos afirmar que esse aumento nos casos de dengue em todo Estado tem uma grande participação do lixo doméstico”, declarou o biólogo. (W.B.)
CRÉDITO: Raíssa Morais
Mosquito aumenta população na temperatura média do PI
O entomologista do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), professor Jean Paz, esclareceu que o Aedes aegypti aumenta a sua população na faixa de temperatura em torno de 28°C, temperatura média do Piauí. “O seu ciclo de vida é em torno de 10 dias do ovo ao adulto e os ovos são extremamente resistentes ao ressecamento, podendo suportar até 400 dias. A fase de larva dura uns 5 dias e começa no momento que a água toca o ovo e se desenvolve melhor em água que tem matéria orgânica”, completou.
Já as fêmeas são as que transmitem os vírus das doenças, por se alimentarem de sangue. “Elas conseguem encontrar suas presas através da emissão de gás carbônico (transpiração) e atuam geralmente após as 17 horas, por isso é bom fechar janelas e portas antes desse horário”, enfatiza o especialista em Biologia dos insetos e seus aspectos.
Entre outros cuidados para evitar a proliferação do Aedes aegypti, o educador declarou que a população precisa virar todas as garrafas com a boca para baixo e evitar que acumule água dentro delas, não deixar água acumulada sobre a laje, colocar o lixo em sacos plásticos, bem lacrados, deixando-os fora do alcance de animais, manter a lixeira bem fechada, manter bem tampados tonéis e barris d’água, manter a caixa d’água bem fechada e trocar a água de vasos e de plantas aquáticas. “O número de casos de dengue aumentou e as pessoas precisam ter atenção para não criar o mosquito em casa, trabalho, escolas e demais espaços”, considerou. (W.B.)