Dois dias após a denúncia feita sobre o recebimento de uma carta anônima com ofensas racistas e homofóbicas, Júnior Santos e Maycons Aguiar, moradores de um condomínio em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, decidiram se mudar do local. O casal estava residindo na vila há um mês, mas a grande repercussão do caso e o receio de desdobramentos inesperados fizeram os dois tomarem tal decisão.
— Decidimos, por ora, não levar o caso adiante. Pode parecer ingratidão a todos os que se esforçaram em compartilhar nossa história pelas redes sociais, mas tamanha exposição tem seu preço e pode ser extremamente negativa. Da mesma forma que nos empenhamos para que o caso viesse a público, desejamos, agora, retornar à tranquilidade habitual de nossa vida. Nossa decisão mais séria até este momento foi a de que nos mudaremos de nossa casa atual. Esse é o principal desejo de nossas mães. Faremos isso com alguma tristeza no coração, porque conhecemos boas pessoas neste endereço e porque nos apegamos à casa nova. Parece-nos, porém, que a decisão mais acertada a partir de agora é pensar em nossa segurança e em nosso futuro — comenta Júnior.
O professor e o namorado, que é servidor federal, deletaram na última quarta-feira seus perfis no Facebook. E também optaram por manter os aparelhos celulares desligados. Além da mudança de endereço, Júnior afirma que outras incertezas surgiram no caminho do casal após a denúncia.
— Não sabemos, por exemplo, como seremos vistos, daqui em diante, em nossos ambientes de trabalho. Essa e mais uma grande quantidade de incógnitas têm nos sobressaltado nos últimos dias. Em outro momento, quando reconquistarmos nossa estabilidade, poderemos pensar melhor em levar o caso adiante — analisa Júnior, ressaltando que ele e Maycon já reativaram os perfis no Facebook e estão respondendo, aos poucos, as mensagens de solidariedade recebidas.
Júnior afirma não ter ideia de quem pode ter sido autor da carta. De acordo com o professor, ele e o namorado foram à 27ª Delegacia de Polícia (Vicente de Carvalho), onde foram informados de que não seria possível fazer o registro de ocorrência, uma vez que a Polícia Civil está em greve. Segundo o professor, o policial que os atendeu ainda afirmou que provavelmente não seria possível o registro, de qualquer maneira, já que não havia nomes citados nem a assinatura do autor da carta.