Um projeto pioneiro em todo o Brasil e no mundo orienta, com maior precisão, o cirurgião antes e durante um processo cirúrgico de retirada de tumores renais. O médico urologista Aurus Dourado e o radiologista Bruno Aragão, conseguiram desenvolver o rim com todas as suas estruturas em realidade virtual e reconstruí-lo, imprimindo em tamanho real em 3D.
O projeto é inédito no mundo e até hoje nenhum pesquisador havia conseguido digitalizar com tanta perfeição um rim, representando todas estas estruturas (sistema coletor - por onde sai a urina -, artéria renal, veia renal e até mesmo o tumor no órgão).
De acordo com o médico Aurus Dourado, em tumores renais até 7 cm, o ideal é a retirada apenas do tumor com a preservação do rim. Com esta nova evolução é possível que o cirurgião identifique com mais facilidade os vasos que estão nutrindo apenas o tumor guiando o urologista para uma cirurgia mais precisa com maior preservação da parte sadia do rim, evitando assim um clampeamento de artérias renais desnecessário.
A finalidade da impressão 3D é permitir uma melhor compreensão da anatomia auxiliando na programação da melhor estratégia cirúrgica. “A ideia é dar uma visão melhor para o cirurgião antes dele operar, para que ele possa programar melhor a cirurgia”. Desta forma, rins que antes iriam ser retirados por completo devido a tumores de localização complexa, podem ser preservados nas mãos de um bom cirurgião mais facilmente.
O especialista explica que, em um primeiro passo, foi criado um protocolo especial de tomografia computadorizada que, em seguida, foi reconstruída em um programa transformando-a em objetos virtuais. “Pegamos cada fase da tomografia e transformamos, por exemplo, a veia, a artéria, o tumor em objetos tridimensionais. Cada parte foi transformada em um objeto virtual”, acrescenta.
Com a realidade virtual e impressão 3D, o cirurgião pode identificar os vasos que irão somente para o tumor, fazendo o clampeamento apenas destes vasos, deixando apenas o tumor sem receber sangue e evitando que o rim todo fique isquêmico. Assim, o paciente poderá ser operado por videolaparoscopia, que é uma cirurgia menos invasiva, com o máximo de preservação renal e sem prejudicar o tratamento do câncer.
Até o momento, quatro pacientes já foram operados pelo médico usando a reconstrução em realidade virtual e impressão 3D com sucesso na preservação renal. Ambos com grau de enfermidade complexas, que se não houvesse utilizado esta reconstrução para um bom entendimento da anatomia seria praticamente impossível preservar o rim, acarretando a perda total do órgão.
Saber com precisão a anatomia do órgão antes da cirurgia é muito importante. “Conhecer a fundo a anatomia é fundamental, desde os vasos que vão ao rim, bem como sua relação com o sistema que elimina a urina e o tumor, para que possamos fazer uma cirurgia bem sucedida que objetiva além da retirada do tumor, a máxima preservação da função renal possível”, destaca o médico urologista.
Software possibilita interação com o rim utilizando sensores de movimentos.
Buscando outras alternativas para este tipo de tratamento, o trabalho de pesquisa e desenvolvimento na área de tecnologia continuaram. Aurus Dourado e o engenheiro da computação, Alexandre Tolstenko, desenvolveram um software que transforma o rim em realidade virtual e ao mesmo tempo permite interagir com o órgão utilizando sensores de movimentos.
“A impressão 3D é a melhor forma, porque nela se tem o tamanho real do rim, da artéria, nela eu sei o tamanho de tudo. Mas mesmo assim ainda não estávamos satisfeitos, porque precisávamos manipular durante o ato cirúrgico. Então demos um passo a mais”, explica.
Aurus Dourado e Alexandre Tolstenko transformaram o modelo digital, que é exatamente a prévia da impressão, em realidade virtual de fato, e vincularam a um software com sensor de movimento. “Na hora da cirurgia eu tenho um sensor de movimento. Coloco a mão, ela aparece no vídeo e eu consigo rotacionar, dar zoom, e identificar separadamente e com detalhe todas as estruturas renais”, coloca o médico urologista.
O software é de fácil manuseio e, como resultado final, se consegue programar melhor a cirurgia, direcionar o cirurgião para um processo mais preciso e econômico. “Conseguimos tirar o tumor, livrar o paciente do câncer, só que de uma forma que salva mais o seu rim”, finaliza.
A equipe comandada por Aurus terá artigo publicado em uma das revistas científicas de maior circulação do mundo. Eles foram convidados pelo hospital de câncer de Nova York, para realizarem estudo com equipe dos Estados Unidos, França, São Paulo e Piauí. (A.D.)