Calor que estamos vivendo agora estava previsto apenas para 2027, diz climatologista

Quanto ao futuro da Amazônia, Nobre afirma que, com 20% da floresta já desmatada, atingir 25% e um aumento de 2°C a 2,5°C pode levar a um processo irreversível de destruição

Calor que estamos vivendo agora estava previsto apenas para 2027 | Telemadri
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Diante dos efeitos assustadores e mortais das mudanças climáticas globais, Carlos Nobre, Copresidente do Painel Científico para a Amazônia, alertou que este ano as mudanças climáticas desencadearam desastres globais que podem se intensificar nos próximos anos. Em entrevista ao jornal O Globo ele afirmou que o calor que estamos enfrentando agora estava previsto para o ano de 2027.

O Acordo de Paris busca limitar o aumento da temperatura em 1,5°C; no entanto, a iminente COP-28 em Dubai não oferece perspectivas de alcançar essa meta. Nobre explicou que esse aumento, apesar de parecer pequeno, representa uma brutalidade ao considerar a média global da Terra.

"Este ano, estamos 1,4°C acima da média global de 1850, sendo impactados por temperaturas superiores a 40°C. 'Imagine ainda mais quente.' O IPCC alerta sobre a possibilidade de atingirmos 4°C até o fim do século, tornando cidades tropicais e subtropicais inabitáveis," destacou Carlos Nobre.

Conforme o climatologista, o Rio teria mais de 300 dias por ano acima do limite de temperatura tolerável pelo ser humano, resultando em condições mortais, principalmente para idosos, bebês e jovens saudáveis.

"Nosso corpo não evoluiu para se adaptar a isso," disse. O climatologista chama a atenção para a gravidade das consequências e pede a adoção urgente de ações para reduzir as emissões de gases que estão sufocando o planeta.

Quanto ao El Niño deste ano, Nobre esclarece que, embora seja forte, não é tão intenso quanto em 1997 ou 2015-16. Ele destaca o desequilíbrio climático global, com eventos extremos como ciclones, incêndios e calor recorde, indicando uma luta entre forças climáticas planetárias.

"Estamos no meio de uma queda de braço de forças climáticas planetárias," disse. Ele chama a atenção para a complexidade do cenário atual e a influência de diversas forças no clima.

Ao abordar a urgência de reduzir emissões, Nobre ressalta que os extremos previstos para 2027 já se manifestam de maneira mais rápida, tornando este ano o mais quente desde 1850, com impactos que remontam a 125 mil anos.

"São necessárias medidas imediatas para conter as emissões e reverter esse quadro." Nobre enfatiza a importância de ações concretas diante da aceleração das mudanças climáticas.

Sobre a possibilidade de outra onda de calor como a da semana passada, Nobre antecipa a probabilidade de altas temperaturas, salientando a dependência da umidade no verão. Ele alerta sobre a repetição de condições adversas, como o sistema de alta pressão de 2014 e 2015.

"Certamente teremos muito calor. A não ser que tenhamos de novo um sistema de alta pressão como o de 2014 e 2015, que deixou o Sudeste por mais de 40 dias sem chuva em pleno verão."

A seca na Bacia do Rio Negro é apontada como a pior da história, prevendo-se sua expansão pelo Sul, Sudoeste e Leste da Amazônia. A redução expressiva do desmatamento este ano, embora positiva, não elimina o risco, pois a floresta, uma "usina de umidade," está enfraquecendo.

"'O desmatamento tem que ser zero. A floresta é uma usina de umidade, mas essa usina está cada vez mais fraca', falou Carlos Nobre." Ele destaca a importância da preservação da floresta como um regulador essencial do clima global.

Quanto ao futuro da Amazônia, Nobre afirma que, com 20% da floresta já desmatada, atingir 25% e um aumento de 2°C a 2,5°C pode levar a um processo irreversível de destruição. Ele destaca a mudança na capacidade da floresta de absorver CO2, agora emitindo no Sul da Amazônia devido ao desmatamento.

"Cerca de 20% da floresta já foi desmatada. Se chegarmos a 25% e a temperatura global se tornar de 2°C a 2,5°C mais alta, ela entrará num processo de destruição sem volta. As florestas hoje removem cerca de 33% do CO2. Mas no Sul da Amazônia, devido ao desmatamento, ela passou a emitir em vez de absorver CO2," disse.

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
SEÇÕES