Roberto Burle Marx, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de paisagista, morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor de todo país e do mundo. Burle Marx deixou projetos executados inclusive em Teresina, sendo autor dos projetos dos jardins do Hotel Blue Tree Towers Rio Poty Hotel, do Palácio de Karnak, a sede do Governo Estadual, da Praça da Costa e Silva, além de sítios e pontos comerciais. Cada um deles com suas particularidades e diferentes estados de preservação.
A professora e designer de interiores, Jasmine Ribeiro Malta, destaca que Burle Marx tornou-se um nome mundial no Paisagismo, ou Arquitetura Paisagística e reconhecido por seu amor pela vegetação brasileira em toda a sua diversidade climática, da Mata Atlântica à Caatinga, que o tornaram o mais singular profissional na área.
Jasmine lembra que a geografia local alterada por sua paisagem vegetativa seguia inovações em termos de cores, traçados geométricos, e liberdade de crescimento para as plantas. Tornaram-se famosas suas expedições com a equipe de trabalho de seu escritório, para pesquisa e coleta nas matas e as incursões sertão adentro. Seu legado tem influenciado toda uma geração de Arquitetos e Designers de Interiores.
“O Burle Marx é um pernambucano radicado no Rio de Janeiro, então querendo ou não ele tem alguns elementos que influenciam o trabalho dele em termos de cultura nordestina, como a presença da cor, e ele era múltiplo, então ele era designer de joia, foi pintor, tem gravuras, mas ficou mais conhecido pelo paisagismo. Ele desenvolvia um trabalho criativo muito intenso. Por ser uma pessoa que tinha muitas referências, acabava se expressando de muitas formas, e é quem traz para o Brasil o trabalho do jardim, de não ser um acúmulo de plantas, mas um jardim que possa ser pensado como uma paisagem criada pelo homem sem interferência da paisagem natural”, destacou.
De acordo com Jasmine Malta, Burle Marx buscava preservar a identidade de cada lugar ao usar a vegetação nativa da cidade para inserir na proposição do seu trabalho. O projeto de paisagismo de Marx também é muito parecido com o trabalho de tapeçaria, conhecido por seus traçados geométricos, com espaços de círculos, de linhas orgânicas e uma linguagem própria observada em planta baixa. Já em perspectiva é possível notar trabalho de altura com uma vegetação de chão, média e alta com o uso de árvores, palmeiras e natureza livre.A professora lembra que no Hotel Blue Tree, além de ser uma edificação icônica na história da arquitetura piauiense, tem no seu jardim os desenhados de Burle Marx no ano de 1983, sendo possível de ser identificado pela escolha do paisagista por chananas, flores rústicas de um colorido intenso e grande resistência ao calor para vários canteiros.
Segundo a pesquisadora, as costelas-de-adão, que eram uma paixão do paisagista, seguem crescendo livremente e formando belíssimos aglomerados vegetativos. As fontes d’águas foram modificadas por conta do combate ao mosquito transmissor da dengue. Mas o colorido e a volumetria definidos pelo grande Mestre podem ser notados em espaços de canteiros mais preservados, ou já restaurados. Atualmente o grupo empresarial proprietário do Hotel tem buscado resgatar o projeto original dos jardins, como uma forma de atração turística e fonte de estudo e pesquisa na capital piauiense.
“Especificamente no projeto do hotel o jardim ficou aberto e se tornou mais um atrativo, ele traz para Teresina o abricó de macaco, que é possível ver no hotel, no Karnak e na Praça Da Costa e Silva. Algumas pessoas se encantaram com essa árvore e foram levando para outros lugares. Outra coisa que podemos notar é o contraste de cor, sendo que dos jardins de Teresina trabalhados por Burle Marx, o do Blue Tree é o que está em melhor estado de preservação. Eles já tentaram, ao máximo, colocar a vegetação original, mas já existem algumas interferências que a própria natureza foi dando conta”, acrescentou. (W.B.)
Descompromisso com patrimônio urbano
Jasmine Malta lembra que o Palácio de Karnak é outro espaço em Teresina onde o paisagista deixou sua obra paisagística. Segundo Malta, os espelhos d'água ainda estão presentes, mas os jardins estão cada vez mais sendo invadidos por espécies estrangeiras e não apresentam mais a volumetria e a diversidade de cores proporcionadas pela vegetação plantada em sua origem. “No palácio, os pés de abricó-de-macaco, as costelas-de-adão foram substituídos por Nim e uma ou outra vitória-régia ainda resiste às intervenções descomprometidas com o patrimônio urbano”, destacou.
Já na Praça Da Costa e Silva, o projeto de Burle Marx buscou respeitar os diferentes níveis do terreno, com espelhos, fontes e quedas d'água, e criava um microclima diferenciado à margem do rio Parnaíba. As estruturas metálicas serviam de suporte para o livre crescimento das plantas trepadeiras. E os pés de abricó-de-macaco expunham flores exóticas e seu aroma peculiar. Era um passeio domingueiro festivo e refrescante. “Atualmente os espelhos d'água foram todos retirados, inclusive tinha uma queda d'água que procurava reproduzir uma cachoeira que não existe mais. Boa parte da vegetação que foi selecionada e especificada por ele também já foi retirada, e isso é muito triste”, avaliou.
Para Jasmine Malta, é preciso fomentar uma consciência de que a valorização patrimonial é um compromisso de todos, e não apenas do poder público para contribuir significativamente para que essa memória coletiva edificada permaneça viva, inalterada e servindo ao propósito para o qual foi realizada: a convivência estética humana. (W.B.)
Quem foi Roberto Burle Marx
Roberto Burle Marx (São Paulo, 4 de agosto de 1909 – Rio de Janeiro, 4 de junho de 1994) foi um artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de paisagista.
Morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor de todo o mundo.
Seu primeiro projeto de jardim público foi a Praça de Casa Forte, localizada no Recife, cidade natal de sua mãe. É uma das seis praças de autoria do paisagista na capital pernambucana que foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Sua participação na definição da Arquitetura Moderna Brasileira foi fundamental, tendo atuado nas equipes responsáveis por diversos projetos célebres. O terraço-jardim que projetou para o Edifício Gustavo Capanema é considerado um marco de ruptura no paisagismo brasileiro. Definido por vegetação nativa e formas sinuosas, o jardim (com espaços contemplativos e de estar) possuía uma configuração inédita no país e no mundo.
Aos 19 anos, Burle Marx teve um problema nos olhos e a família se mudou para Alemanha em busca de tratamento. Permaneceram na Alemanha de 1928 a 1929, onde Burle Marx entrou em contato com as vanguardas artísticas. As diversas exposições que visitou e, dentre as mais importantes, a de Pablo Picasso, Henri Matisse, Paul Klee e Vincent van Gogh, lhe causaram grande impressão, levando-o à decisão de estudar pintura.
Durante a estada na Alemanha, Burle Marx estudou pintura no ateliê de Degner Klemn. De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Lúcio Costa, que era seu amigo e vizinho do Leme, o incentivou a ingressar na Escola Nacional de Belas Artes, atual Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Burle Marx conviveu na universidade com aqueles que se tornariam reconhecidos na arquitetura moderna brasileira: Oscar Niemeyer, Hélio Uchôa e Milton Roberto, entre outros.
A partir daí, Burle Marx passou a trabalhar com uma linguagem bastante orgânica e evolutiva, identificando-a muito com vanguardas artísticas como a arte abstrata, o concretismo, o construtivismo, entre outras. As plantas baixas de seus projetos lembram em muitas vezes telas abstratas, nas quais os espaços criados privilegiam a formação de recantos e caminhos através dos elementos de vegetação nativa. (Wikipedia)