O acirramento do segundo turno das eleições para presidente do Brasil, entre o candidato Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), construiu um clima de bipolarização política no país. Em meio a isso, muitas pessoas deixam de falar com amigos e parentes por conta de divergências que vão ficando pelo caminho. Mas até que ponto isso vale a pena?
Elton Pereira, psicólogo clínico, explica que é necessário encarar a problemática por outra ótica: a da racionalidade. Para isso, é necessário pensar o que realmente vale a pena no âmbito das relações. E isso parte de um processo simbiótico que existe entre valores próprios e o valor que determinada pessoa representa para você. Além disso, ele lembra que tudo isso acaba no domingo (30), outro fator importante a ser levado em conta.
O psicólogo explica que este é um período bem simbólico, pois as discussões políticas são necessárias para o desenvolvimento humano e não devem ser tolhidas.
"Algumas relações já foram destruídas. É possível evitar futuros rompimentos de laços. São a partir de encontros de família que acontecem alguns conflitos. Algumas pessoas até se posicionam: política é igual futebol, melhor não discutir. Mas não é bem assim. A decisão de um jogo, e quem ganhou ou perdeu, tudo bem. A discussão política tem que existir, sim, pois é algo que faz diferença em nossas vidas", avalia.
No entanto, é preciso buscar o que ele define como "ponto de equilíbrio". "Não podemos jogar as discussões para debaixo do tapete. Mas também não precisamos colocar no centro da mesa. Afinal, nunca se fez tão necessário a figura das tias do 'deixa disso, menino'. Aquela pessoa que deixa o clima mais ameno em meio a uma discussão. Essas figuras, nessa reta final, ganharam destaque no seio familiar", acrescenta.
Também é preciso equilíbrio para reconstruir laços e evitar discussões.
"É preciso fazer dois questionamentos a si mesmo: quem são as pessoas que você realmente gosta? E quais suas visões de mundo que são inegociáveis para conviver com alguém? Isso vai te direcionar com segurança como se portar", aponta Elton Pereira.
Laços que terminam e o ‘efeito bolha’
O psicólogo Elton Pereira defende que, em muitos casos, não vale a pena uma reaproximação com determinadas pessoas. "Algumas relações de amizade e de família não precisam refazer os laços. O distanciamento saudável pode ser melhor. Isso após chegar à conclusão de que não vale a pena se aproximar novamente", revela.
No entanto, mesmo laços desfeitos podem ser refeitos.
"Esses conflitos podem ser resolvidos com uma poção mágica feita de: paciência, boa vontade e diálogo. Assim é possível resolver os conflitos. Mas em algumas situações exige mais tempo, onde a pessoa pode pensar e refletir melhor. Em nome de outros princípios e o que alguém representa para você, é possível engolir alguns sapos", aponta.
Para alguns, termina sendo mais fácil bloquear todos que tem um pensamento diferente, mas isso pode ser negativo para a vivência humana. Mas em alguns casos o "block" é válido. "Daí surge o efeito bolha. E isso é negativo porque você perde a oportunidade de crescer, com opiniões e ideias distintas. Mas muitos estão lá apenas para incomodar, criticar, serem preconceituosos e racistas. Aí, nesse caso, é melhor se afastar mesmo", diz.
A idolatria faz mal para homem
A idolatria é a prática de adorar determinado ícone ou figura de forma irracional. É como se a pessoa se apaixonasse por um artista, ou mesmo um político. Quando a idolatria atinge o campo da política, isso pode ser perigoso para a democracia. Isso porque os "fãs" do "ídolo" aceitam qualquer coisa que ele passar de cima para baixo, podendo configurar uma ditadura ideológica. Elto Pereira, psicólogo, é enfático sobre o tema.
"Estudos mostram que a idolatria faz mal para nossa existência. A família, por exemplo, é fator determinante para a saúde mental. Se afastar da família por idolatria, com o desenvolvimento de uma paixão, a gente fica cego e não vê erros e defeitos. Então a gente mistura os ideais", declara.
Idolatria
O comportamento individual de pessoas com características de idolatria não é o mesmo quando há um grupo de idólatras.
"Vem uma cegueira emocional, esquecendo o racional. O efeito manada é irracional. É algo de animais irracionais. A boiada segue a mesma linha de raciocínio do destino final. É melhor garantir inteligência política", destaca.
A idolatria é uma característica comum dos adolescentes, mas que chegam às tias e tios do WhatsApp.
"Percebemos uma mistura de personagens. As pessoas esquecem que é para brigar por ideias e posicionamentos, não por pessoas. É como se o meu candidato fosse eu. Tudo o que vem contra esse candidato vai contra mim. Daí gera o comportamento de fúria e agressividade", finaliza.