Brasileira de “leilão de virgindade” disse que não recebeu pelo filme

O documentário, dirigido por Sisely e produzido pela TWP, foi transformado numa série de televisão em seis partes com 30 minutos de duração cada.

Brasileira fez "leilão de virgindade" | Divulgação
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Depois de três anos e meio de produção, o documentário ?Virgins wanted? foi finalizado. O filme, que conta a história de dois jovens que leiloaram a virgindade na internet, é agora motivo de uma nova polêmica que envole o diretor, Justin Sisely, e a brasileira Ingrid Migliorini: ela alega nunca ter recebido o dinheiro do lance vencedor ou sequer perdido a virgindade; o diretor, por sua vez, diz que não ficou com o valor do leilão, mas afirma que o contrato que reservava a Ingrid uma cota das vendas do filme foi quebrado.

O documentário, dirigido por Sisely e produzido pela TWP, foi transformado numa série de televisão em seis partes com 30 minutos de duração cada. O primeiro episódio foi exibido em outubro no festival MIPCOM, realizado em Cannes, na França, e foi visto pelo G1 por meio de uma videoconferência.

Personagem central do projeto, Ingrid, que se identificou à época como Catarina Migliorini, atraiu a atenção mundial ao ter a virgindade leiloada e arrematada por cerca de R$ 1,5 milhão por um japonês identificado apenas como ?Natsu?. À sombra da popularidade da catarinense, que chegou a render um ensaio nu para uma revista masculina, o russo Alex Stepanov foi o segundo jovem a colocar um preço por sua primeira noite e recebeu um lance de R$ 5,8 mil feito por uma australiana ? conseguido apenas depois de o jovem se negar a fazer sexo com o vencedor, um brasileiro que havia oferecido R$ 6,7 mil.

Antes do inicio da participação do russo e da brasileira, havia outra dupla de virgens que abandonaram o projeto durante as filmagens: Ben, de 23 anos, e Veronica, de 21 anos, que deixaram o posto de estrelas do "Virgins Wanted" logo depois de contarem às famílias que leiloariam suas virgindades a completos estranhos.

?Difícil de assistir?

No episódio que abre a série, os participantes explicam as razões pelas quais decidiram fazer parte do filme, principalmente da sensação de deslocamento em relação aos demais pelo fato de nunca terem feito sexo em toda a vida. ?Sinto-me pressionada a fazer sexo pela sociedade?, descreve Veronica, enquanto Ben afirma que, em todos os seus relacionamentos, o máximo que fazia era ?segurar as mãos?.

Mesmo com a mudança repentina de personagens, produzindo uma cena dramática em que a câmera mostra a reação negativa dos pais de Veronica, fechando o primeiro episódio com a moça curvando-se em direção ao chão prestes a passar mal por nervosismo, Sisely afirma que o produto final ficou além de suas expectativas, e que o filme traz à tona uma série complicada de discussões.

?Sempre será controverso, principalmente quando há dinheiro envolvido. É difícil de assistir", diz ele. O diretor afirma crer que as pessoas vão se identificar com os personagens. "O público vai lembrar da primeira vez que fez sexo, e nada é tão universal quanto o sexo, principalmente pela primeira vez. É algo que todos experimentam, de algum jeito, durante a vida", diz.

Sisely afirma que recebe de 5 a 6 pedidos de leilão todos os dias, com virgens ao redor do mundo dispostos a comercializar a primeira noite ? ou, nas palavras do australiano, enxergar ?sexo e virgindade como uma commodity?.

Brasileira "decepcionada"

Descrita pelo diretor como ?uma mulher forte?, Ingrid Migliorini permaneceu dois meses em Bali, na Indonésia, antes que pudesse entrar na Austrália para realizar as filmagens. A jovem chegou a ter o visto negado duas vezes pelo governo australiano (em junho e novembro de 2011). Além do problema burocrático, a brasileira afirma que o diretor começou a descumprir as promessas antes mesmo que chegasse a Sydney, acompanhada de seu tradutor.

?O Justin ofereceu para todos os jovens que aceitassem [o documentário] US$ 20 mil, mas ele não me deu. Ele pagou despesas para mim, pagou algumas passagens, mas não foram todas. Algumas foram minha família, porque eu nunca trabalhei?, diz a catarinense. ?Ele me dava US$ 100 por semana, quando dava. Não queria dar?, afirma a estudante de geografia, contando que chegou a usar o próprio dinheiro para se manter no país.

A brasileira também se disse decepcionada com a maneira como o projeto foi dirigido. Segundo ela, Sisely interferiu demais no desempenho dos jovens. ?Não era mais um documentário, ele quis fazer um filme, me dirigir. Queria que falasse coisa que não era, fazendo mais do que era, forjando?, disse, sugerindo que o australiano teria tentado criar um ?triângulo amoroso? entre Ingrid, um amigo da jovem e o russo Alex, que já havia dito que era ?apaixonado? pela catarinense.

Ingrid diz que durante o leilão chegou a desconfiar da existência da pessoa que deu o lance vencedor, de US$ 780 mil, por sua virgindade. ?Primeiro ele era um homem de 53 anos, solteiro, que tinha muito dinheiro. Depois falou que ele era casado. Depois que era vô, depois era solteiro de novo. Sabia que algo não tava cheirando bem?, relembrou Migliorini. Quando finalmente viu o responsável pelo lance, em um encontro realizado na presença das câmeras em um restaurante, se deparou com um japonês de 21 anos de idade, que seria filho de Natsu.

Seguindo orientações de uma advogada, Ingrid conta que pediu que o dinheiro fosse transferido para a conta de uma terceira pessoa antes de consumar o ato oferecido no leilão. ?Falei: "eu faço, mas o dinheiro primeiro. Primeiro uma garantia??, diz a brasileira, que afirma ter feito outro exame para atestar sua virgindade após as filmagens.

Ingrid contou que, após o incidente, não recebeu dinheiro algum de Natsu e que, antes mesmo de conhecer o japonês, o diretor do documentário teria pedido em segredo uma porcentagem da quantia alcançada no leilão. ?Ele queria 30%, eu não aceitar dar. Ele queria, só que não poderia falar para ninguém?, acusou a jovem, sublinhando que também teria direito a 20% das vendas do documentário, que deve estrear em janeiro de 2014.

"Mentiras"

O G1 voltou a procurar Sisely após as declarações de Ingrid. Através de mensagens de e-mail da produtora TWP, o diretor definiu o discurso da brasileira como ?bizarro e bobo?, sem deixar de destacar, no entanto, que ela está muito bem no documentário. ?É difícil encarar essas falsas alegações seriamente. Catarina fez muitas alegações desde o término do documentário, dizendo até que era vítima. Simples, não respondemos às mentiras dela?, escreveu.

O diretor é categórico em dizer que a jovem "fez muito dinheiro" após o documentário, e que ele não poderia aceitar nenhuma parte da quantia obtida no leilão porque isso seria considerado crime pelas leis australianas. Ele convida o público a ?descobrir a verdade sobre Catarina? no documentário. ?Temos tudo gravado em filme, e por isso achamos que as alegações e mentiras dela são bizarras e bobas?, afirma Sisely, em entrevista por e-mail, lembrando que não se corresponde com a catarinense desde dezembro de 2012. Sisely afirma que inclusive gravou o momento em que Natsu retirou no banco um cheque de US$ 780 mil que posteriormente deveria ter sido descontado por Ingrid.

O diretor enviou ao G1 cópias de extratos bancários que registram ao menos três depósitos nominais para Ingrid (totalizando 10.691 dólares australianos, cerca de R$ 23,9 mil), além de uma série de outras despesas como saques, restaurantes, lojas de conveniência, entre outros, que seriam atribuídos a ela. A produtora afirma que, no total, gastou 35 mil dólares australianos com a brasileira (aproximadamente R$ 72 mil) entre 2010 e 2012.

A TWP também informa que tem um contrato no qual reserva para Ingrid 20% das vendas do documentário, mas que "o contrato foi rompido", e que a razão da rescisão será "mostrada no episódio 5" da série.

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