Agentes da Defesa Civil da Bahia e do Pará retomam nesta sexta-feira as buscas por sobreviventes e vítimas dos dois acidentes marítimos, com barcos para o transporte de passageiros, que causaram a morte de, pelo menos, 39 pessoas nas últimas 48 horas. A primeira tragédia, na noite de terça-feira, com uma embarcação clandestina com 48 pessoas a bordo, ocorreu em uma área conhecida como Ponte Grande do Xingu, no Pará, com ao menos 21 mortos. Ontem, antes das 7h, a lancha “Cavalo Marinho I” naufragou perto da Ilha de Itaparica, em travessia para Salvador, provocando a morte de 18 pessoas. Na Bahia, 89 sobreviventes já foram contabilizados.
Edvaldo Almeida estava a bordo da embarcação que rumava, em mar revolto, para a capital da Bahia. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a velocidade do vento, que normalmente é de 7 km/h, era de cerca de 31km/h no local do acidente, quando a embarcação virou. O barco virou em Mar Grande, cerca de 10 minutos após deixar o terminal marítimo, por volta das 6h30. Ele relatou que se salvou por estar na parte superior da embarcação.
— Estava chovendo, começou a molhar. Veio uma onda e virou. Tinha muita gente. Eu estava em cima na lancha, na parte da frente, graças a Deus. Mas quem estava embaixo, eu acho que não sobrou ninguém. Muito triste — afirmou Almeida.
Diferentemente do acidente no Pará, o “Cavalo Marinho 1” estava com a licença em dia. No momento do naufrágio, havia 124 pessoas a bordo, sendo que a capacidade máxima era de 160. Entre os mortos, está um bebê de 1 ano, que foi retirado da água e levado para uma ambulância, onde médicos tentaram reanimá-lo, sem sucesso. Os sobreviventes foram atendidos na UPA de Mar Grande, na Ilha de Itaparica. Um grupo menor de feridos foi encaminhado para hospitais da região.
A Capitania dos Portos só foi avisada do acidente cerca de uma hora depois que o barco virou. Diversos sobreviventes relataram a demora para a chegada do socorro. O alerta, de acordo com o comando da Marinha, foi dado por uma embarcação próxima. Três equipes da Capitania dos Portos, além de três navios da Marinha, participaram do resgate.
Conforme relato de sobreviventes ao G1, por causa da chuva forte e do vento, os passageiros da lancha passaram para um lado só da embarcação, o que teria provocado a desestabilização da lancha, que virou após ser atingida por uma onda. A Marinha informou que vai ouvir os sobreviventes durante as investigações para apurar se isso provocou o acidente.
— Informação do que efetivamente ocorreu nós só teremos ao final do inquérito que está sendo instaurado pela Marinha para apurar o acidente. Nós ouviremos testemunhas, a embarcação vai passar por uma perícia e, ao final do inquérito, que tem prazo de conclusão de 90 dias, é que nós teremos um quadro efetivo — afirmou o comandante Flávio Almeida, assessor de relações institucionais da Marinha na Bahia.
MORADOR PERDE MÃE, IRMÃ E SOBRINHO
Adilton Queiroz é morador da Ilha de Itaparica, de onde partiu a embarcação. Ele perdeu a mãe, a irmã e um sobrinho de dois anos no acidente. Ele relatou que estava no trabalho, quando recebeu a informação do acidente.
— Uma situação que eu nunca esperava passar, mas infelizmente são coisas que acontecem na vida, que a gente não espera. É pedir força a Deus para a gente aguentar. A gente não tem nem o que falar numa situação dessa. É muito difícil. Minha mãe sempre viaja de lancha, mas a gente nunca esperava passar por uma situação dessa — disse Queiroz.
Em nota, o presidente Michel Temer lamentou as tragédias no Pará e na Bahia: “O presidente Michel Temer manifesta, neste momento de dor, sua solidariedade às famílias das vítimas e coloca a estrutura do governo federal para ajudar nas buscas e no apoio aos sobreviventes. As providências para apurar as causas dos acidentes e punir os responsáveis estão sendo tomadas, em todas as três esferas de governo”, diz a nota.
Já o governador da Bahia, Rui Costa, também lamentou o acidente. “Todas as forças estão mobilizadas para dar assistência e prestar socorro às vítimas”. O prefeito de Salvador, ACM Neto, também se manifestou nas redes sociais, ressaltando que "uma equipe de psicólogos e assistentes está no local para prestar atendimento social e psicológico”.
No acidente do Pará, segundo o governo do estado, o dono da embarcação disse que havia 48 pessoas a bordo na hora da tragédia. O navio Capitão Ribeiro saiu de Santarém, oeste do estado, às 18h de segunda-feira. O barco afundou por volta de 22h de terça, em uma área denominada Ponte Grande do Xingu, entre Porto de Moz e Senador José Porfírio. Chovia quando o acidente aconteceu. Muitos sobreviventes disseram que a embarcação foi atingida por uma tromba d’água — fenômeno similar a um tornado.
“A tripulação disse ter visto, no horizonte, algo com o formato de um funil, acompanhado de muita chuva e vento forte, e que teria pego o barco pela popa e o afundado. De acordo com os relatos, a embarcação girou e afundou em seguida”, afirmou o delegado Elcio de Deus, de Porto de Moz.
Ontem, três homens foram presos suspeitos de saquear o navio Capitão Ribeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado (Segup), os suspeitos estariam levando objetos e malas das vítimas do naufrágio. O trio está detido na Delegacia de Porto de Moz.