O ministro da Justiça, Sérgio Moro, avisou que deixará o governo após o presidente Jair Bolsonaro comunicá-lo que trocará o comando da Polícia Federal, atualmente ocupada por Maurício Valeixo. É a segunda vez que o presidente ameaça impor um novo nome na cúpula da corporação.
Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo no início do ano passado. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da Operação, para assumir a diretoria-geral.
Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.
Interlocutores de Valeixo dizem que a tentativa de substituí-lo ocorre desde o início do ano, mas que não teria relação com o que aconteceu no ano passado, quando Bolsonaro tentou pela primeira vez trocá-lo por outro nome. Na ocasião, o presidente teve que recuar diante da repercussão negativa que a interferência no órgão de investigação poderia gerar.
Aliados de Moro afirmaram ao Estado que o ministro não vai aceitar a troca de Valeixo nas condições que o presidente está colocando, de “cima para baixo”.
No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.
Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Ricardo Saadi do cargo, justificando que seria uma mudança por “produtividade” e que haveria “problemas” na superintendência. A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”.
Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que “quem manda é ele” e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
Cansado
Nesta quinta, 23, o delegado Maurício Leite Valeixo comunicou a todos os superintendentes regionais da corporação nos Estados, que está cansado e que já conversou com o ministro Sergio Moro sobre seu desejo de sair do comando. Ele disse a seus pares que o motivo de sua saída não tem relação com qualquer inquérito que eventualmente possa incomodar o presidente Jair Bolsonaro.
A conversa com Moro ocorreu no início do ano. Valeixo, amigo do ministro, demonstrou exaustão, reportando-se a um 2019 tenso na direção da corporação.
Valeixo reuniu-se com os 27 superintendente regionais nos Estados por videoconferência nesta quinta, 23. Também participaram os delegados federais que ocupam diretorias estratégicas da PF.
Valeixo descartou com veemência que sua decisão é movida por pressões políticas. Ele afastou rumores de que sua disposição em dar adeus à cadeira número 1 estaria relacionada à uma reação de aliados de Bolsonaro por causa de investigações que incomodam o Planalto.