A mãe de um bebê de apenas cinco meses, que foi internado no Hospital Infantil de Palmas (HIP) sob suspeita de ter contraído leishmaniose visceral, doença popularmente conhecida como calazar, acusa os médicos da unidade de negligência após a morte do filho. A auxiliar de serviços gerais Nelci Barbosa dos Santos, de 32 anos, alega que uma série de falhas que começou desde o primeiro dia de atendimento, causou a morte do filho Nicolas no último sábado (8).
Nelci conta que o filho começou a apresentar febre e algumas manchas pelo corpo. Preocupada, porque o bebê nunca tinha ficado doente antes, ela diz que o levou para a unidade de atendimento infantil que fica no centro da capital. No local, depois da realização dos exames, foi revelado que a criança estava com calazar.
Segundo ela, os médicos começaram a tratar o menino com medicamentos usados para combater a doença. Mas como os remédios eram muito fortes, uma médica infectologista decidiu trocar a medicação por outra. "Depois que trocou o remédio do meu filho ele começou a piorar. Os médicos já tinham avisado que esses antibióticos eram muito fortes para o tratamento dele e que poderiam provocar a falência dos rins", explica.
Como o estado de saúde do bebê piorava a cada dia, ele precisou ser transferido para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Geral de Palmas (HGP). Nicolas havia ficado uma semana internado no HIP. "Quando chegamos lá os médicos me contaram que o fígado do Nicolas estava destruído. Ele sangrava pelo nariz, estava todo inchado. A barriga e até as costas estavam estufadas porque o pulmão dele encheu de líquido. Foi assim que perdi meu filho", lamentou.
A auxiliar de serviços gerais conta que não é o primeiro filho que perde em um hospital da rede pública. Em 2008 outro filho de apenas um ano e seis meses morreu e, segundo ela, os médicos não souberam informar que doença, ou problema a criança tinha. "Vou entrar com uma ação no Ministério Público contra esses médicos e vai ser pelos dois filhos que perdi. Isso não pode ficar assim, existem outras crianças, outras vidas em risco."
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins, responsável pelo Hospital Infantil de Palmas, além do calazar a criança também sofria de outras doenças. O atestado de óbito aponta outras causas para a morte do bebê, como pneumonia, insuficiência renal, hepática e respiratória. Dessa forma, o órgão se comprometeu a investigar a morte da criança. O resultado dos exames deve sair em 30 dias.
Já o Conselho Regional de Medicina do Tocantins, informou que a mãe pode procurar o órgão para proceder com a denúncia contra os médicos. Segundo as informações, ela deve levar os documentos pessoais, os prontuários médicos, testemunhas (se tiver) e os nomes completos dos profissionais que fizeram o atendimento ao filho dela. Dessa forma, o conselho poderá abrir um procedimento administrativo para apurar o caso.
Leishmaniose Visceral
O calazar é uma doença transmitida pelo mosquito-palha ou birigui. Ao picar, ele introduz na circulação do hospedeiro o protozoário Leishmania Chagasi. O parasita percorre o corpo do hospedeiro e atinge o fígado, o baço e até a medula óssea. Se não tratada a leishmaniose visceral pode até matar.
Nas cidades, o número da doença aumenta por causa do grande número de cachorros infectados. A doença não é contagiosa, nem se transmite diretamente de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro. A transmissão do parasita ocorre apenas através da picada do mosquito fêmea infectado.
Mortes
Em Palmas, no ano passado, 21 pessoas foram diagnosticadas com a doença. Dessas, duas morreram. Neste ano, aconteceram três casos em janeiro e apenas um em fevereiro. Nesse período, uma pessoa morreu vítima da doença.