O Barco-Hospital Papa Francisco, da Associação e Fraternidade Lar São Francisco na Providência de Deus, iniciou nesta terça-feira, 11, sua navegação pelo mar. Ele saiu de Fortaleza, no Ceará, rumo a Belém, no Pará. A previsão de chegada é domingo, 16. No local, serão feitos abastecimento, manutenção do navio e troca de tripulação.
No dia 19, ele parte para Santarém, no Pará, onde a Marinha fará a prova do rio, testes finais, manutenção final e treinamento da tripulação, além de entregar a documentação e o licenciamento - semelhante ao que é exigido para os carros. A expectativa é que a embarcação chegue a Óbidos, onde fica a base, entre 5 e 7 de julho, quando as chaves serão entregues à associação. A inauguração oficial ainda não tem data definida, mas será entre agosto e setembro.
O recurso para a construção do barco veio do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª região, por meio de um acordo por dano moral coletivo firmado em 2013 com algumas empresas. Ele percorrerá cerca de mil quilômetros na região amazônica, atendendo a cerca de 800 mil pessoas que vivem em pequenas comunidades e cidades ribeirinhas. As bases serão os hospitais de Óbidos e Juruti.
O hospital ambulante tem 32 metros de comprimento e conta com geradores, centros cirúrgicos capacitados para fazer procedimentos de até média complexidade, aparelhos de exames de imagem e consultório odontológico, além de consultórios e espaços para outros procedimentos. O navio terá "ambulanchas", que farão o transporte mais ágil em caso de emergências e servirão para avisar as comunidades que o barco está se aproximando. Uma delas já está em Óbidos e a outra segue daqui a cerca de um mês, pois está sendo fabricada em Paulínia.
"Ele [navio] chegando em Óbidos, nós já temos todos os equipamentos, a primeira compra de medicamento, roupas, alimento, combustível, e começam os atendimentos", afirma frei Francisco Belotti, superintendente da associação. Algumas instituições já manifestaram interesse em colaborar com o projeto, segundo o frei, como Famerp, Faceres, Hospital João Paulo II, Universidade São Francisco (Bragança Paulista) e Unoeste (Presidente Prudente).
Uma religiosa fará o mapeamento dos moradores das comunidades, identificando as principais necessidades de mutirões. A base do navio em Óbidos servirá para quando ele não estiver em serviço - para esterilização, troca de suprimentos e substituição da tripulação.
Belotti considera que a sensação de ver o navio partir para cumprir sua missão nesta terça-feira, 11, é uma mistura de esperança, socorro, salvação e amor. "Estamos socorrendo um Brasil que é esquecido, muito distante de nós. Estamos em um polo de medicina, mas quando você atravessa o Estado já começa a sentir os efeitos da distância desse polo médico", afirma.
Segundo ele, a maioria dos ribeirinhos nunca viu um médico. A Santa Casa de Óbidos, por exemplo, não tem raio-x, porque o sistema de energia elétrica não suportaria o aparelho. "A própria Secretaria de Saúde do Pará alega que 80% das instituições não têm o que o navio tem. As pessoas acabam morrendo por falta e assistência e também na transferência de um lugar para o outro", diz o frei, citando as dificuldades provocadas, por exemplo, pelas cheias, quando a água invade as cidades. "Os mais vulneráveis são as crianças e os idosos. As pessoas vivem do peixe, da farinha de mandioca, da extração e ao mesmo tempo são as guardiãs da floresta. Nós estamos aqui para aliviar uma gotinha."
A fraternidade que começou em Jaci foi para o Amazonas atendendo a um pedido do próprio papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude no Brasil, em 2013. Como resultado desse pedido, em 2014 a Fraternidade assumiu a direção da Santa Casa de Óbidos, no Pará, e em 2015 passou a administrar um hospital em Juriti, no mesmo estado.