O risco de obesidade entre crianças é crescente no Brasil. Uma pesquisa inédita do Ministério da Saúde revelou que o consumo de produtos com alto teor de açúcar e gordura começa cedo no país. O estudo mostrou que mais da metade da população está acima do peso. O excesso de peso é um problema grave, porque é um fator de risco para doenças do coração e outros problemas crônicos. Além das mudanças nos hábitos alimentares na infância, os dados alertam para os crescentes índices de excesso de peso e obesidade em adultos.
A pediatra endocrinologista Regina Vasconcelos revelou que não existe nenhum levantamento específico sobre nível de obesidade ou com sobrepeso entre crianças e jovens no Piauí, mas segundo uma avaliação em que fez entre os pacientes que recebe dentro do consultório, cerca de 40% do volume de consultas são crianças obesas.
No entanto, existe um grupo com profissionais médicos e estudantes que começaram a realizar um estudo em escolas privadas com crianças entre 5 e 9 anos e fazendo uma pesquisa do Índice de Massa Corporal (IMC) para verificar se elas se enquadram no perfil de obesidade, mas ainda não tem data para conclusão.
Segundo a profissional, o brasileiro tem um padrão cultural alimentar pouco saudável, não costumando ter na dieta grande quantidade de frutas e legumes. E a tendência das carnes é que sejam mais vermelhas e menos saudáveis, entretanto, ela explica que o que acontece é que as crianças começam a ingerir os alimentos hipercalóricos cada vez mais cedo. “Eu já ouvi relatos de crianças tomando refrigerante aos 6 meses de idade ou comendo salgadinhos de milho, biscoitos recheados. No jantar, ao invés de fazer uma refeição saudável ou tomar uma sopa, os pais servem apenas um macarrão instantâneo e/ou alimentos ricos em carboidratos. Isso tem mudado o perfil e o peso das nossas crianças”, considerou.
A médica afirma que o estudo mostra que no Brasil, de cada 3 crianças entre 5 e 9 anos, uma está acima do peso, e isso se torna alarmante. Para ela, a mudança começa no nível educacional, que precisa vir de três canais principais: escolar, médica e dos veículos de comunicação. “Através da união desse tripé, trabalhando junto no sentido de informar, é onde vamos começar a mudar essa realidade, pois divulgando que em torno de 33% das nossas crianças obesas e outras estatísticas isso vai chamar atenção dos pais e cuidadores para que eles tenham que acreditar que alguma coisa errada está acontecendo”, completou.
Ela defende a criação de programas para conscientização das pessoas, devido a complexidade em tratar uma criança obesa. Segundo Vasconcelos, quando a criança começa um quadro de obesidade, ela aumenta o número de células de gordura, enquanto o adulto magro, que fica obeso, aumenta o teor de gordura dentro da célula. “Por exemplo, se um adulto que tem 20 células de gordura quando começa a se alimentar errado ou é sedentário, essas células começam a ficar mais cheias. Já a criança obesa tem um aumento no número das células, dessa forma é muito mais difícil no futuro você corrigir a obesidade infantil, além de ser um fator predisponente para várias doenças como hipertensão e diabetes”, acrescentou.