Mauro Nazareno tem 19 anos e desde os 18 trabalha na rua. Seu ofício, usar a arte do circo para conseguir alguns trocados nos sinais de trânsito de Teresina. O jovem artista vem de uma família de baixa renda, estudou até a sexta série do Ensino Fundamental e tem um perfil como de milhares de jovens em Teresina, com grandes chances de entrar para o mundo da criminalidade. No entanto, uma escolha o fez mudar seu destino: ele preferiu ganhar o próprio dinheiro, com o trabalho, a roubar.
Mauro afirma que consegue arrecadar entre R$ 30 e R$ 40 por dia nos sinais do cruzamento da Av. Presidente Kennedy, na zona Leste de Teresina. E ele explica que começou observando a prática, bastante comum nos semáforos da região.
?Eu estava passando na rua e vi um rapaz limpando para-brisa dos carros no sinal. Eu pedi para fazer e achei legal. Comecei ganhando dinheiro com isso. Depois, vendo os palhaços nos sinais, eu aprendi a fazer malabares com bolinha. Daí eu continuei trabalhando com isso. Tem dado certo?, explica.
Além das claves, Mauro também trabalha com fogo e alterna as atividades para chamar atenção do público. Às vezes, a pintura no rosto o diferencia dos demais e chega a ser uma atração a mais, ele garante.
Com o dinheiro que consegue, Mauro utiliza para uso próprio, mas ele afirma que às vezes gosta de ajudar em casa.
?De vez em quando eu ajudo lá em casa. Levo carne, arroz, para variar um pouco?, diz.
No entanto, como todo ofício, existem suas limitações. ?O que consigo ganhar varia por dia. Tem dia que um lugar está bom e quando um lugar já não rende mais eu mudo. É também porque as pessoas ficam um pouco ?manjadas?.
Aí precisa variar. Só que essa de ficar no mesmo lugar tem um lado bom. O artista fica conhecido?, conta.
Mauro admite que trabalhar na rua tem suas vantagens e que até gosta de trabalhar com arte no trânsito, mas ele reconhece as limitações e garante ser apenas uma alternativa de vida. ?Eu gosto de fazer isso, mas é mais porque eu preciso. Se tivesse outra oportunidade eu, com certeza, aceitaria?, afirma.
Trabalhar nas ruas: uma escolha
Assim como Mauro, que trabalha com malabares nos sinais da zona Leste de Teresina, várias pessoas procuram opções de garantir o sustento frente às dificuldades de se encontrar um emprego. Muitas vezes, a escolaridade é insuficiente para se conquistar uma vaga no mercado de trabalho, outras vezes falta oportunidade.
Mas há quem utilize as facilidades de trabalhar na rua (não ter gastos com estrutura é um exemplo) como uma opção a mais, e não somente como a única alternativa. Foi o caso de Gerson Luis da Silva, de 31 anos. Desde que voltou de Brasília, onde morou toda a juventude, chegou a Teresina com o intuito de trabalhar por conta própria. Na capital do Brasil, Gerson teve a experiência de trabalhar em uma transportadora, onde levava frutas para a região Norte do país, mas explica que voltou para Teresina por saudades da família e de sua terra natal.
No Piauí, foi um amigo que mostrou a alternativa de ganhar dinheiro vendendo bugigangas. E até hoje é da venda de tapa-sóis para veículos, brinquedos para crianças e até mesmo enfeites de casa que tem garantido o sustento de sua família, esposa e duas filhas.
?Eu sempre quis trabalhar para mim mesmo. É melhor, mas às vezes tem seus tempos ruins. Tem mês, quando a venda fica fraca, que consigo tirar só um salário mínimo, mas dá para sustentar a família?, conta.
Sem gasto algum com estrutura e apresentando produtos pendurados em uma corda, que vai de uma árvore à outra, ele faz do meio-fio da Avenida Presidente Kennedy o seu ponto de negócio. Gerson também trabalhou por muito tempo em outro lugar, mas desde que optou por trabalhar na zona Leste da cidade ele conta as vantagens.
?Já trabalhei na zona Sul, por menos de um ano, mas sempre vinham os fiscais e chegavam até a recolher as mercadorias. Aqui é bom porque isso não acontece tanto. E a renda que consigo aqui é bem melhor que lá?, afirma.
Além desses ofícios, muitos outros jovens, pais e mães de família aproveitam a oportunidade que aparece para conseguir o sustento do dia a dia, seja da venda de bugigangas, da arte, ou da venda de frutas ou doces. Para muitos, é o único meio de vida de quem não encontra ou pouco encontra alternativas de sobrevivência. ?Quem não tem opção precisa se virar com o que tem?, conta Gerson.