Disciplina rígida, paciência, criatividade e respeito à natureza. São essas as principais virtudes que a arte do Bonsai tem trazido aos residentes da Fazenda da Paz, que há três anos faz uso dessa arte, como terapia ocupacional.
No Piauí, a Fazenda da Paz é a pioneira em promover o Bonsai como suporte no tratamento para os dependentes químicos, possibilitando uma melhor inclusão na sociedade e também uma segunda chance à vida.
O contato dos residentes com a arte oriental ocorre através do Projeto Bonsai da Paz, em que são desenvolvidas oficinas, com aulas no primeiro domingo de cada mês, durante seis meses. Nelas, 20 residentes recebem informações e conceitos sobre miniaturização de árvores.
A comunidade terapêutica do Piauí, desde 1994, tem procurado diversos métodos de tratamento ao seu público-alvo. Segundo Célio Barbosa, coordenador geral da Fazenda da Paz, são nas oficinas onde os residentes têm a oportunidade de ocupar a mente e garantir uma vida mais digna e harmônica.
“A oficina de Bonsai foi um ganho muito importante. Porque quando estamos perdidos nas drogas, perdemos a noção de tudo, de respeito, de amor, de carinho, de dignidade. Perdemos todos os valores. Então, é preciso resgatar e fazer uma limpeza dos males, mas logo em seguida deve haver técnicas para preencher esse vazio com coisas boas”, ressalta.
Para o coordenador geral da Fazenda da Paz, o que mais chama atenção da equipe é a transformação no comportamento dos dependentes químicos.
“Em um mês de oficina, já notamos resultados positivos. Os indivíduos que antes demonstravam raiva ou ódio vêm adquirindo uma harmonia em si, sem espaço para a raiva e o ódio que antes sentiam”, destaca.
As Oficinas de Bonsai da Paz, que ocorrem das 9h às 12h, são realizadas na Comunidade Terapêutica Luz e Vida - Fazenda da Paz, localizada na estrada da Cacimba Velha, zona rural da capital. Além do espaço para realização de palestras, no espaço há também um viveiro onde se aplica a teoria na prática.
Bonsaístas debatem novas técnicas
A Fazenda da Paz, através do Projeto Bonsai da Paz, uma vez ao ano, convida bonsaístas para debater novas técnicas e experiências entre os residentes. Este ano, os profissionais convidados foram os bonsaístas Luiz Galvão e Leonilson Bastos. Ao final da palestra, houve a distribuição de certificados, como incentivo à profissionalização.
Nas oficinas são ensinadas técnicas que vão desde a escolha, cultivo e manutenção do Bonsai. Segundo Luiz Galvão, professor de Bonsai, o cultivo da planta requer do tratador uma avaliação da qualidade do vegetal.
“Para cultivar um Bonsai, uma árvore em miniatura, é preciso escolher um bom material, o que garante plantas bem estruturadas e com movimentos. Quando escolhemos plantas com o tronco bom, a parte aérea é bem mais fácil de ser estruturada”, explica. Outro bonsaísta que visitou a Fazenda da Paz foi Leonilson Bastos, que é demonstrador de Bonsai. Ele explica de que maneira a arte contribui no tratamento dos dependentes químicos.
“A técnica envolve o cultivo de uma planta como ser vivo, exige que as pessoas tenham um cuidado redobrado. Para quem está em recuperação, se dedicar a um Bonsai muda o foco, faz com que ele comece a se preocupar não só com ele, mas com o que está ao redor. Proporciona paciência, humildade, meditação e disciplina”, esclarece. (M.G.)
Bonsai é terapia para internos
A ideia de utilizar o Bonsai como terapia aos dependentes químicos surgiu de uma conversa informal entre membros da Fazenda da Paz e bonsaístas. Foi a convite do coordenador geral da instituição, Célio Barbosa, que a arte de cultivar passou a ser uma forma de recuperar essa população. E pelo visto tem dado certo.
Ocelo Rocha, bonsaísta e voluntário no Projeto Bonsai da Paz, disponibilizou-se a realizar trabalhos voluntários, após conversas com a equipe da Fazenda da Paz. “A gente estruturou um minicurso de apoio e adequado à metodologia da casa. Atualmente, fazemos um trabalho voluntário, mensalmente, para despertar nas pessoas algumas características que o bonsaísta tem que a gente considera positivo, como a humildade, paciência, observação, estudo e o respeito à natureza”, considera.
O jovem Wênio Sousa, 21 anos, que há três meses vem estudando o cultivo de Bonsai, confessou que sentiu uma transformação pessoal, já que era considerado agressivo e impaciente.
“Comecei a passar por muitas tribulações desde os 17 anos. Quando entrei na Fazenda da Paz minha vida mudou, ainda mais com o Bonsai. Tenho aprendido muitas coisas, mesmo em detalhes do meu dia a dia. Acredito que tudo isso vai me ajudar a melhorar os meus defeitos”, conta.
O residente relata que não conhecia a técnica e o contato com a natureza despertou o interesse em aprender as técnicas de miniaturização. “Não conhecia a arte do Bonsai. Mas quando vi, fiquei muito curioso para saber como faz uma árvore ficar tão pequena e a cada dia me interesso mais”, pontua.