Arqueóloga Niède Guidon completa 88 anos nesta sexta-feira (12)

Niède Guidon traçou revolucionou a história com descobertas na Serra da Capivara

niede | reprodução
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Por Marcos Damasceno 

A Serra da Capivara, no Piauí, impressiona pelo visual. É composta por rochas, cânions e platôs que foram formados pelo movimento das placas tectônicas há mais de 200 milhões de anos. O lugar é rico em beleza e história, abriga diversas pinturas rupestres nos sítios arqueológicos.  A singularidade desse ambiente atraiu o olhar da arqueóloga Niede Guidon.

Hoje, dia 12 de março de 2021, Doutora Niède Guidon completa 88 anos de idade. Natural de Jaú-SP, filha de Ernesto e Cândida, professora catedrática e pesquisadora, cidadã do mundo, adotou São Raimundo Nonato-PI como sua terra. Ao tempo em que é filha ilustre, é também mãe deste lugar. A obra fala por si só.

Niède Guidon dispensa comentários ou apresentações. Ela é uma sumidade da Arqueologia, renomada no mundo todo. Mulher intransigente com os seus princípios, nunca abriu mão de seus padrões éticos e de suas convicções. Sua trajetória está alicerçada na luta em defesa da preservação da Natureza, do bem-estar das pessoas e do desenvolvimento da região. 

Niède  Guidon completa 88 anos nesta sexta (12) - Foto: André Pessoa

Ela é porta-voz de uma sociedade livre, ativa e evoluída. Esse foi o caminho que escolheu trilhar, e para qual vive e luta. Honra com sua própria existência e com sua dignidade, além de salvaguardar a dignidade de nossa região. Niède é exemplo da mais elevada aspiração humana: o exercício da cidadania. Sua luta se desenrola cotidianamente, com a lucidez e o brilhantismo de sempre. Ela traduz o verdadeiro significado do que é ser uma missionária. Dedicada por completo. Um tipo de gente que está em extinção. 

Possui formidável capacidade de observar, analisar, interferir, criticar, denunciar e contribuir. Quando se exalta, possuída da extrema angústia, é a agonia que surge do amor que não se extingue pela sua obra. Sua índole é pacífica, o que nela se aponta como ferocidade decorre de uma necessidade instintiva de defesa e sobrevivência. Seu temperamento impetuoso afasta sempre os malfeitores.

Ela não é folha seca, que qualquer vento carrega. É tronco de jatobá (bem enraizado) em beira de riacho, que suporta a força de qualquer enchente devastadora. Ela tem alma guerreira. Combativa, predisposta ao combate. Uma mulher destemida, e de inteira ação. A maior parte de sua vida foi marcada por grandes e honrosas batalhas, por combates ferozes e por grandes desafios. Com sua lucidez característica digladiava à altura, discutindo ou argumentando calorosamente. Niède é sobrevivente de tantas batalhas travadas. Ela é o resultado de tantos sofrimentos, de tantas angústias, de tantas decepções, de tantas frustrações, de tantos ‘não’ recebidos; essas experiências são o sabor amargo de sua vida. Ela é também o aprendizado disso tudo. É ainda a força do amor; amor à sua obra. Ela é a prática da própria luta cotidiana, é o que restou disso tudo: ríspida às vezes, quando é preciso e com quem merece, e educada na maioria das vezes.

Doutora vive em São Raimundo Nonato - Foto: André Pessoa

Foi aos extremos: deparou-se com o que há de melhor e de pior na natureza humana. Experimentou muitos desencantos e momentos de angústia, ao tempo em que viveu alegrias e recebeu graças. Alcançou feitos inacreditáveis. Nada lhe faz desanimar. Mais ainda, nada lhe faz desistir. Foi capazde vencer a dureza da vida e os sofrimentos da alma humana. A sua dor e o seu sofrimento se transformaram em esperança de dias melhores e felizes.  

Sua missão é das mais ingratas. Os desânimos são inevitáveis, e muitas vezes são profundos. O cotidiano é sempre desafiador. Fervem-se por dentro as aspirações, as angústias. Há sempre momentos de angústia, desalento, desamparo e de insegurança. Momentos somente dela, pela imposição do destino. A vida nesses momentos lhe aborrece, lhe deixa triste. Ela tinha todos os motivos (exteriores) para desistir, mas aacreditou na germinação da pequena semente semeada, e sempre teve a certeza do rumo. Por isso, lutou com todas as suas forças. Hoje sabe (mais do que nunca) que valeu a pena lutar.

Conhecida por todos. Querida, festejada e respeitada por muitos. Odiada por alguns; os corruptos, os caçadores, os malfeitores, os mafiosos, os criminosos, os denunciados, os punidos. Com coragem e destino, ela trilhou seu caminho. A cada dia, com o nascer do sol, suas forças se revigoram para mais uma longa batalha. Sua visão de região não se resume ao Parque. Ela é antenada nos acontecimentos regionais e participa do dia a dia da vida do povo.  Sua obra é o centro propulsor desse desenvolvimento. 

Não se pode considerá-la sem lhe reconhecer a luta, a contribuição, a história. Naquela época, tornou-se a própria pedra fundamental da gigantesca obra. Ali, naquele momento, as paixões arqueológicas começam a comandar seu destino. Ora com passos suaves, ora com truculência, sua caminhada chegou até aqui. Sua luta continua. A vida-saga de Niède Guidon é o grande exemplo para todos nós. Ela mostra-se incansável. Desdobra-se para que a gigantesca obra não pare. Ela permanece disposta, empenhada, resistente e corajosa.

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