Aposentado negociava tela e violinos falsos por mais de US$ 100 mi

Idoso oferecia violinos como Stradivarius e quadro como obra de 1599. Material foi apreendido pela PF e perícia vai dizer se são falsos

Quadro que seria falso foi apreendido pela Polícia Federal na terça-feira (11) no Rio | Divulgação
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Com um cavanhaque, costeleta e óculos, o delegado Fábio Scliar, da Delegacia do Meio Ambiente e Patrimônio Histórico (Delemaph) da Polícia Federal (PF) foi disfarçado a um apartamento localizado na Praia de Botafogo, na Zona Sul do Rio e conseguiu apreender uma tela que era negociada por US$ 100 milhões (cerca de R$ 207 milhões) pelo oficial de Justiça aposentado Juarez Padilha, de 82 anos. Também foram apreendidos dois violinos que o idoso oferecia como sendo Stradivarius, a mais famosa marca do instrumento no mundo, por US$ 3,5 milhões (R$ 7 milhões) cada um.

A obra seria, segundo o anúncio publicado pelo aposentado no jornal "O Globo", um "quadro histórico" do "mestre Rubens", em referência ao artista renascentista Peter Paul Rubens, que teria pintado aos 21 anos, em 1599.

A obra e os intrumentos seriam falsificados, segundo o delegado. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) confirmou que o quadro não apresenta características de originalidade e que não seria do artista por ter traços típicos do estilo rococó, e também por ter características que remetem à cidade do Rio de Janeiro.

De acordo com o delegado, ele e mais um agente fingiram ser representantes de um colecionador de Minas Gerais e negociaram a compra das peças que seriam transformadas em dinheiro no exterior. O acordo foi aceito de imediato pelo aposentado.

"Nossa investigação foi iniciada há um mês, quando começamos a monitorar os anúncios que o Juarez colocava nos jornais. O fator estranho veio por conta de que, além dos valores das peças serem bem altos para quem residia em Botafogo, se realmente estes materiais fossem originais, eles seriam bem mais caros do que os preços pelos quais eram negociados por este cidadão", explicou o delegado.

Na casa do aposentado, foi encontrado ainda um cartão-postal atribuído ao artista francês Pierre-Auguste Renoir.

"A residência dele era totalmente preparada para caso ele fosse pego em alguma arapuca. Além do cartão que ele disse ser de Renoir, havia material de marcenaria para consertar o violino e instruções de como é realizada uma perícia para descobrir se uma peça é falsa ou não. Ou seja, tudo nos dá a entender que ele realmente agia de forma ilegal", completou.

Acesso ao espólio e investigação

O delegado acredita que Juarez conseguia essas peças e instrumentos por ter trabalhado durante muito tempo como oficial de Justiça avaliador, ou seja, ele tinha acessos a diversos espólios (todos os bens deixados por alguém que vem a falecer). O aposentado não foi preso devido à idade e também por não ter sido pego em flagrante. No entanto, ele irá continuar a ser investigado pelos crimes de estelionato e receptação de bens ilícitos.

"Vale lembrar também que esses materais apreendidos ainda serão periciados para termos a constatação de que são realmente falsos. A Polícia Federal vai continuar a realizar operações como estas para podermos terminar com este tipo de crime", concluiu Fábio Scliar.

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