Maltrapilho, 53 kg, pontas dos dedos queimadas, o jovem dorme em plena tarde na esquina das ruas Baronesa de Itu e Barão de Tatuí, em Santa Cecília (região central de São Paulo).
A descrição remete imediatamente aos sem-teto que perambulam pela cidade em busca de crack ou cachaça.
Mas o que difere Tiago Henrique Moreno Lopes, 23, dos demais moradores de rua da região é a barraca montada na calçada.
Jovem de classe média, deixou a casa onde vivia com a mãe e duas irmãs na região de Osasco (Grande São Paulo) para buscar emprego e liberdade na região central.
Porém, experimentou o crack e foi parar nas ruas.
Dentro da tenda, uma bíblia, uma blusa, duas calças, um par de tênis, lençóis, um cobertor e uma vassoura.
Dia sim, dia não, Tiago varre o entorno. "Me liberaram o espaço e me dão comida. Minha contrapartida é deixar tudo limpo", disse à Folha.
Ele vive ali há cerca de um ano. Por conta do vício, abandonou o emprego de atendente numa livraria, perdendo a renda com a qual pagava o aluguel numa pensão.
"Comecei a dar rolê e me perdi." Usa crack? "Não, no momento. Mas sou viciado."
Tudo o que tem, ganhou dos "amigos" da vizinhança. A moradora do prédio deu a barraca, o funcionário da oficina deu a blusa.
"Às vezes eu acordo e alguém me traz um marmitex. Sou tranquilo, não incomodo e eles me ajudam".
"O menino é gente fina. Não aborda ninguém. É na dele", disse o torneiro mecânico Carlos Alberto Trigo, 55, que trabalha na oficina onde Tiago costuma tomar banho. Ele não se junta a outros sem-teto. "Prefiro só eu e Deus".
Já foi convidado por assistentes sociais para ir a um albergue. Meses atrás, foi abordado pela mãe, que o convenceu a ir para uma clínica.
Após 15 dias, estava de volta à mesma esquina."Não gostei. Quero voltar para casa. Mas antes tenho que me acertar com minha mãe".