A conexão que começou ainda no cordão umbilical e foi mantida durante décadas com amor e cuidado, precisou ser potencializada quando uma mãe e uma filha de Curitiba descobriram juntas que estavam com a mesma doença, o câncer de mama.
Apesar da dupla notícia difícil de receber, o elo de Carmen Dolores de Figueiredo Rossilho, de 65 anos, e Faena Figueiredo Rossilho, de 44, foi o que ajudou a enfrentarem o diagnóstico e a se fortalecerem dia após dia durante todo tratamento.
"Foi inacreditável, a gente nunca espera uma coisa dessa, ainda mais duas seguidas. Eu falei para a minha mãe que se avisassem: 'vocês duas vão ter câncer de mama juntas', a gente falaria: 'o que?'. Ninguém imaginava. O pesadelo foi duplo, mas a vitória também foi, estamos vivas, estamos bem", disse Faena.
As duas contam que sempre fizeram os exames de rotina, principalmente Faena que precisava acompanhar alguns cistos que desenvolveu ao longo dos anos. Contudo, o que elas não esperavam era receber, em 2017, o resultado de câncer de mama das duas no intervalo de um dia.
"Acabamos fazendo as biópsias, e o resultado dela saiu em um dia e o meu em outro. Médicos diferentes, sintomas diferentes. A gente estava em uma preocupação maior com ela, né. Foi uma surpresa porque tinha três opções: os dois negativos, um positivo e outro negativo ou os dois positivos, e deu no que deu", relembrou Carmen.
Importância do diagnóstico precoce
O tratamento contra o câncer de mama aumenta a possibilidade de cura quando iniciado cedo, resultado de diagnóstico precoce.
Por conta dos cistos, Faena já ficava atenta aos sinais do corpo e fazia os exames de mama a cada seis meses. Aproximadamente dois anos antes de receber o diagnóstico do câncer, ela contou que já estava sentindo o mamilo mais duro do lado direito.
"Eu estava preocupada, ia ao médico, fazia os exames, falava: 'está meio durinho'. O médico olhava, examinava certinho, eu fazia os exames, e ele falava: 'é um cisto, não tem nada'. Na quarta vez que eu fui fazer o exame, deu alguma coisa. Eu fiz a mamografia e o ultrassom, e foi no ultrassom que apareceu. Então, está aí a importância dos exames complementares porque, às vezes, um exame revela o que o outro não".
Carmen também ficava atenta à saúde e realizava exames anuais. Segundo ela, essa atitude certamente foi a que ajudou as duas a permanecerem bem, considerando que quanto antes se descobre o câncer, antes ele é enfrentado.
"Na época, a gente: 'nossa, mas por que foi acontecer um dia depois do outro e esse tratamento na mesma época?' Mas, hoje, a gente fala: 'foi tão bom ter acontecido isso junto' porque uma deu força para a outra. Então, a gente passou junto, sempre fomos muito amigas e companheiras", revelou a mãe.
Mãe e filha afirmam serem provas de que o cuidado com a saúde nunca é demais e de que não importa o quão corrida é a vida, é preciso ter tempo para olhar para si mesma.
"Sempre que posso, gosto de repetir: façam o autoexame, mas não só isso, façam o exame na clínica, façam acompanhamento médico, não deixem a saúde para mais tarde. Esse é o nosso bem mais precioso", reforça Faena.
Tratamento
Mesmo com o susto, o medo e a incerteza de como tudo iria ser, mãe e filha se apegaram uma à outra na luta pela vida. A primeira ação delas foi voltarem a morar juntas para que pudessem se cuidar mais de perto.
As duas passaram por muitas situações, como quimioterapias, cirurgias e radioterapias.
"Eu, graças a Deus, não tive que tirar a mama toda. Eu retirei o mamilo, depois fiz uma tatuagem no local que ficou bem boa - essa é a cereja do bolo depois de passar por todo o tratamento. Foram 16 sessões, e em cada sessão eu convidei uma pessoa, um amigo próximo, para ir comigo. A quimio dura uns seis meses, seis meses e meio, depois tem que esperar um mês para marcar a cirurgia e depois esperar mais um mês para começar a fazer a radioterapia", disse Faena.
Além disso, elas passaram pelo sofrimento de perder os cabelos no decorrer do tratamento.
"Eu sei que é muito difícil ficar careca, principalmente para a mulher, mas faz parte do tratamento, depois o cabelo cresce. É só um detalhe. Se você está curada, é o que importa", disse a filha.
Carmen também precisou fazer uma cirurgia. Quando começou a quimioterapia, os efeitos foram tão fortes que ela precisou ser internada. Ao invés de 16 sessões previstas, ela fez quatro e de outro tipo de medicamento.
"No meu caso foi retirado um quadrante da mama, só uma parte. Mas eu tive metástase na axila, então teve que tirar alguns gânglios também. Depois fizemos a radioterapia e agora temos que tomar um medicamento todos os dias por cinco anos. Ainda estamos em tratamento na verdade, mas o pior já passou", afirmou ela.
Faena disse que, além do uso desse medicamento para controle da doença, elas realizam o exame regularmente, a cada quatro meses.
"Você nunca recebe alta total, você tem que ficar acompanhando. O médico faz o exame clínico, apalpa, pede o exame complementar, ecografia, mamografia, ultrassom de abdômen, faz a densitometria. Nós nos consideramos curadas, a gente está vivendo uma vida normal, mas ainda estamos em tratamento. Temos alguns efeitos colaterais dos remédios, mas nada que a gente não consiga conviver. É um dia de cada vez".
Atenção e cuidado
No Brasil, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres. Estima-se que surjam neste ano 66.280 novos casos da doença. O Instituto Nacional de Câncer (Inca), aponta que, no Paraná, o número pode chegar a 3.470.
Umas das formas de diagnosticar o câncer de mama é por meio da mamografia, que é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O exame é indicado para as mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos.
Mulheres com idades acima de 35 anos e com fatores de risco também devem fazer o exame. O ideal é que as mamografias sejam realizadas a cada dois anos.
"Claro que na hora de fazer o exame dá um medinho, mas a gente tem que fazer os exames, tem que ter coragem para enfrentar isso, porque se você quer viver com saúde, tem que ir ao médico e se cuidar. A gente não tem outra escolha. A prevenção sempre é mais barata que o tratamento", comentou Faena.