Após a confissão do hacker Walter Delgatti Neto sobre a invasão das contas do aplicativo Telegram de diversas autoridades, a Polícia Federal (PF) direcionou as investigações para os possíveis braços financeiros do grupo preso na última terça-feira. A PF solicitou acesso às movimentações feitas com moedas criptografadas e aos sigilos bancários para verificar, dentre outras coisas, se a versão de que Delgatti não recebeu dinheiro para repassar as conversas dos procuradores da Lava-Jato é ou não verdadeira. As informações são do O Globo.
As investigações que resultaram na Operação Spoofing começaram após a tentativa de invasão da conta do aplicativo Telegram do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Na terça-feira, a PF prendeu quatro pessoas em São Paulo sob suspeita de envolvimento no caso:Walter Delgatti Neto , Gustavo Santos, Suelen Oliveira e Danilo Marques.
Segundo a PF, Delgatti atuaria como líder do grupo, mas pode ter usado os demais para receber pagamentos pelas atividades ilícitas.
A pedido da polícia e do Ministério Público Federal, o juiz da 10ª Vara Federal do DF, Vallisney de Oliveira, autorizou a quebra do sigilo de suas carteiras virtuais e o bloqueio dos recursos de todos os presos. “Em liberdade, poderão acessar e movimentar tais contas de forma a eliminar provas de eventual produto do crime”, escreveu Vallisney.
Delgatti admitiu em depoimento prestado à Polícia Federal, ter sido o responsável pela invasão das contas de diversas autoridades, incluindo procuradores da Operação Lava-Jato. Ele também reconheceu ser o responsável por repassar o conteúdo das conversas para o site “The Intercept Brasil” — segundo ele, de forma anônima, sem editar e nem receber pagamento pelo material.
Braço financeiro
A busca pelo braço financeiro do grupo tem foco em três pessoas: Gustavo Santos, Suelen Oliveira e Danilo Marques. De acordo com a PF, Santos e Suelen operavam no mercado de moedas virtuais. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicam que o casal movimentou R$ 627 mil de forma suspeita entre os anos de 2018 e 2019. Na casa deles, a PF encontrou R$ 99 mil em espécie. Em depoimento, eles disseram que o valor era fruto das operações de Santos com bitcoins — a mais famosa moeda virtual.
Além do dinheiro circulando pelo sistema financeiro convencional, Santos também era um ativo operador de criptomoedas. Em depoimento, revelado ontem pela GloboNews, ele admitiu manter várias carteiras, mas se recusou a informar detalhes — o que deixou os investigadores ainda mais interessados nesses dados.
Santos diz ter obtido os recursos para comprar as criptomoedas a partir de sua atividade com DJ e em jogos online, além de apontar também a venda de veículos como justificativa para suas movimentações financeiras. Os valores dos eventos, no entanto, é pequeno se comparado com as transações identificadas. Suelen disse em seu depoimento que o marido faz de três a cinco festas por mês, e cobra aproximadamente R$ 500 por evento.
Suelen foi presa porque a PF identificou importantes movimentações em suas contas. No depoimento, o marido assumiu a responsabilidade pelas transações e disse que Suelen “desconhece completamente suas atividades comerciais ou negócios que realizava”.
O DJ não sabe dizer se Delgatti mantém carteira de bitcoin na internet e negou ter atuado com ele em fraudes bancárias ou golpes financeiros pela internet. Santos contou, no entanto, que estava com o hacker quando este foi preso pela polícia rodoviária paulista por porte de documento falso — na oportunidade, Delgatti estava com um “extrato bancário editado” de R$ 1,8 milhão. Na versão de Santos, o parceiro teria fraudado o documento apenas “com o objetivo de se vangloriar”.
Outro alvo da PF na busca pelo dinheiro do grupo é o motorista de aplicativo Danilo Marques. A PF aponta que Danilo admitiu ter “emprestado” uma conta no Banco do Brasil para Walter, “que passou a ser utilizada exclusivamente por este para a realização de transferências e pagamentos diversos”. Marques admitiu ter feito, a pedido do amigo, operações de câmbio, totalizando US$ 3 mil, no Rio, Natal e São Paulo.
Segundo Marques, que conhecia Delgatti desde 2002, o hacker dizia que havia extrapolado o limite de compra das corretoras e, por isso, precisava fazer as operações em nome de outras pessoas. O motorista, no entanto, disse que não sabia a origem dos recursos de Delgatti e que o amigo apenas dizia que precisava comprar dólares para poder morar nos Estados Unidos, onde teria permanecido três meses, segundo o motorista. Quando foi preso, Delgatti morava em um imóvel alugado em nome de Danilo.