O consumo compulsivo de três pacotes de salgadinho e de biscoito por dia, sem contar as refeições básicas, resultou em 44 kg a mais no peso do consultor de telecomunicações Frederico Vitols, 46, nos últimos dois anos e meio.
O estresse e as metas excessivas o fazem "descontar a ansiedade na comida". As consequências puderam ser vistas nas roupas, que passaram para o tamanho grande, e nos exames de sangue -os níveis de colesterol e triglicérides estão acima do normal.
Os problemas de saúde não foram suficientes para que ele trocasse o emprego em que está há nove anos. "Tenho bom retorno financeiro e quero mudar a forma de enfrentar os problemas, não de companhia", afirma Vitols.
Ter a rotina alimentar afetada pelo estresse da vida profissional é algo comum, "mas pouco reconhecido pelos profissionais", avalia Eduardo Aratangy, psiquiatra do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
Negligenciar o tempo destinado à refeição é o primeiro erro. "Comer compulsivamente ou não sentir fome pode resultar em transtorno sério", adverte Aratangy.
Uma perda de apetite "aparentemente normal" fez com que o relações-públicas Marcus de Araújo, 52, perdesse 5 kg em um mês. Desenvolveu gastrite, devido à má alimentação, que evoluiu para uma hérnia de hiato (fraqueza do músculo do diafragma).
O motivo de almoços esquecidos e jornadas de trabalho sem comer foi a fusão da indústria em que atuava com uma empresa concorrente. "Fui encostado para não ser demitido", lembra Araújo. Com suspeita de anorexia nervosa, o profissional pediu demissão e recuperou-se.
Para José Roberto Leite, psicobiólogo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), deixar de comer por causa do estresse, como fez Araújo, não é costume do brasileiro. "Em geral, as pessoas exageram na comida."
Sondagem feita no fim de 2010 com mil profissionais pela Isma-Br (International Stress Management Association; associação de estudo do estresse) mostra que 21% deles alimentavam-se compulsivamente em momentos de estresse e 11% reduziam a quantidade de comida.
RECAÍDA
Profissionais que tiveram algum distúrbio alimentar severo no passado, como anorexia, "têm predisposição a recaídas", alerta a nutricionista Marle Alvarenga, coordenadora do Genta (Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares).
A analista de redes sociais T.G., que pediu para não ser identificada, tratou-se da anorexia dos 17 aos 20 anos. Com 1,60 m, chegou a pesar menos de 40 kg. Hoje, aos 25, diz ter tido recaída por causa de problemas com a chefe.
"Com o nervosismo, perco o apetite e esqueço de comer", conta ela, que costuma alimentar-se uma vez ao dia.