As autoridades chinesas começaram a acuar com batidas policiais parentes e amigos do dissidente Chen Guangcheng, que escapou na semana passada de prisão domiciliar, segundo relatos de ativistas.
Várias pessoas envolvidas na fuga de Chen foram detidas ou desapareceram nos últimos dias, e outro ativista, Hu Jia, foi detido para interrogatório.
Acredita-se que Chen esteja abrigado na embaixada dos Estados Unidos em Pequim. O governo americano, porém, não confirmou a informação.
Os Estados Unidos e grupos internacionais de defesa dos direitos humanos expressam com frequência preocupação com o tratamento dado a Chen, que é cego, e a sua família.
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, tinha uma visita marcada a Pequim nesta semana, cuja agenda deve ser ofuscada pelo caso de Chen.
Analistas afirmam que a questão é sensível para os dois lados e não será fácil de resolver.
Se Chen realmente estiver na embaixada, o caso trará à tona memórias de um incidente em 1989 no qual outro ativista conhecido, Fang Lizhi, se abrigou na missão americana em Pequim.
Ele permaneceu na embaixada por mais de um ano até que os dois países fechassem um acordo.
Ajuda
Amigos de Chen afirmaram que a fuga de domingo foi planejada durante meses e teve a ajuda de uma rede de colegas e ativistas.
Ele escalou o muro que as autoridades haviam construído em volta de sua casa e foi levado de carro por centenas de quilômetros até Pequim, onde teria passado por vários locais até se abrigar na embaixada.
Sua mulher e sua filha de seis anos permanecem sob prisão domiciliar, mas vários outros familiares foram detidos desde então e outros estão sendo procurados pelas autoridades.
Uma das amigas de Chen, He Peirong, que escreveu em seu blog que havia levado ele de carro até Pequim, também teria sido detida na cidade de Nanjing.
"Eu estava falando com ela e suas últimas palavras foram: "a polícia chegou", afirmou Bob Fu, do grupo ChinaAid, baseado nos Estados Unidos.
O blog de He foi apagado posteriormente, e as buscas na internet pelo nome de Chen ou por outros termos relacionados a ele foram bloqueadas pelos censores na China.
No sábado, as autoridades detiveram Hu Jia, que havia dito anteriormente à BBC que havia encontrado Chen após a fuga.
A mulher de Hu, Zeng Jinyan, afirmou no sábado à noite que foi informada de que seu marido ficaria detido por pelo menos mais 24 horas.
Vídeo
Um dos ativistas mais famosos da China, Chen foi colocado sob prisão domiciliar em 2010 após passar mais de quatro anos preso sob a acusação de prejudicar o tráfico e danificar propriedades.
Ele havia acusado as autoridades locais em Linyi, na província de Shandong, de forçar milhares de mulheres a fazer abortos ou serem esterilizadas como parte da política oficial de filho único.
Após fiugir, no domingo passado, ele divulgou pela internet um vídeo dirigido ao primeiro-ministro do país, Wen Jiabao.
No vídeo, Chen pede que Wen investigue e processe autoridades locais que, de acordo com ele, teriam espancado membros de sua família.
O dissidente também pede garantias de segurança para sua família e faz um apelo ao governo chinês para que enfrente e puna a corrupção no país.
Críticas
As autoridades da China foram alvo de críticas da comunidade internacional devido ao tratamento dado ao dissidente. A filha de Chen chegou a ser proibida de frequentar uma escola e vários amigos ou simpatizantes que tentaram visitá-lo teriam sido espancados.
O caso de Chen ficou famoso no mundo todo.
Chen Guangcheng é conhecido como o "advogado descalço". Ele perdeu a visão durante a infância e não completou estudos jurídicos formais, pois pessoas cegas não têm permissão de frequentar universidades na China.
O ativista também prestou assessoria jurídica a fazendeiros em disputas de terras e fez campanha pela melhora no tratamento de pessoas portadoras de deficiências.