Rachaduras, infiltrações, janelas quebradas, falta de equipamentos, acúmulo de lixo, dentre outros problemas. É essa a realidade da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), em específico o campus Poeta Torquato Neto.
As denúncias são relatadas constantemente por centenas de alunos, e não é de hoje que a universidade vem sofrendo com problemas na sua estrutura física.
Referente à estrutura, as maiores reivindicações são relacionadas com os laboratórios, porque é algo que afeta os estudantes cotidianamente. De acordo com a estudante do oitavo período de Comunicação Social, Carmen Kemoly, não tem condições de estudar alguns conteúdos sem praticá-los. ?É por isso que muitos estudantes da nossa área, para dar um exemplo, estão trabalhando mais cedo nas empresas de comunicação?, coloca.
Outro ponto considerado crítico da universidade é a Biblioteca. Depois que o teto caiu a primeira vez, o número de estudantes que frequentavam a parte de cima diminuiu.
?Ninguém mais sobe ali se sentindo seguro, a escada treme, o andar de cima treme, é sempre aterrorizante subir ali, você fica sempre se perguntando o que pode acontecer.
Resultado da falta de fiscalização nas obras da UESPI, onde muitas já foram barradas por apresentar problemas, aqui e no interior?, coloca a acadêmica ao ressaltar que os laboratórios do curso estão sem uso.
Sem condições dignas para a realização das atividades dos cursos, os estudantes acabam adotando medidas extremas. Carmen Kemoly exemplifica que, na sua turma, na disciplina de Edição e Diagramação, os professores têm que solicitar a duas pessoas que saibam editar ou diagramar, que façam os trabalhos de toda turma, sobrecarregando-as.
Já aqueles que não sabem, vão passando de período sem aprender nada.
?O êxito vem muitas vezes do próprio esforço, da força de vontade, bem meritocrático mesmo.
No caso da nossa turma de Edição e Diagramação, o conteúdo que a gente deveria aprender e produzir aqui dentro da universidade, e que não tem existido, acaba nos levando a procurar cursinhos particulares pra cobrir essa lacuna, ou ir mesmo aprendendo sozinhos quando já se tem habilidade.
Eu, por exemplo, vou sair de quatro anos desse curso sem saber diagramar nada, e não é falta de vontade, mas foi algo que eu não tive e que está totalmente relacionado com a nossa carência de estrutura?, completa.
Grupo na internet denuncia os problemas da UESPI
Na fan page "UESPI, assim você me lasca", os alunos da instituição postam fotos e outras publicações com conteúdos que evidenciam a precariedade de alguns espaços da instituição. Com mais de mil curtidores, a página coleciona vídeos e fotos dos problemas mais comuns da universidade.
São fotos dos bebedouros quebrados, das rachaduras nas paredes, das salas "alagadas", do acúmulo de lixo em alguns espaços, e outras denúncias.
Em uma das publicações, um estudante coloca: "E mais uma vez o forro de PVC de uma das salas de aula da UESPI caiu devido à chuva.
Dessa vez foi durante a tempestade de ontem à noite, dia 21 de março. Por ter sido durante a madrugada, felizmente a sala estava vazia. Mas fica a pergunta: Será que vai ser preciso que alguém se machuque gravemente para que algo seja feito?".
A acadêmica do 5º período do curso de Turismo, Andrea Barbosa, conta que o medo se faz presente todos os dias quando entra na sala de aula. "Além da biblioteca, outros forros caíram. Na minha sala mesmo o forro despencou.
Nossa sorte é que não havia ninguém lá", disse, acrescentando que entrou na universidade em 2011, e, de lá para cá, não percebeu nenhuma melhoria.
"Eles apenas tentam tapar buracos, mas não resolvem nada. Algo que realmente preste não é feito. São somente gambiarras, e isso influencia diretamente no nosso rendimento.
Na minha sala, o espaço é pequeno e o ar-condicionado lá instalado é velho e não funciona como deveria. Eu me sinto incomodada com isso. Vamos atrás dos nossos direitos e eles ficam nos encaminhando de um lado para o outro", acrescenta.
Reparos são realizados, diz prefeito universitário
Segundo o prefeito universitário da UESPI, Marcos Antonio Lima, realmente a universidade tem muitos problemas estruturais, mas todas as providências são tomadas para resolvê-los de forma imediata.
Ele explica que são feitos constantemente pequenos reparos e que a administração da instituição também realiza obras maiores, que beneficiam toda a comunidade acadêmica.
"Ontem mesmo uma professora me falou de uma goteira numa sala e coloquei o pessoal para resolver isso", explica ao comentar que pequenas reformas estão sendo feitas em todo campus.
"Os pisos estão sendo recuperados, estamos reformando forros de sala de aula, pintando as salas, tirando as rachaduras e construindo rampas de acessibilidade nos diversos corredores.
Além disso, construímos recentemente duas salas de aula e novos espaços para os Centros Acadêmicos dos cursos de História, Química, Matemática, Física e Geografia, e ainda tem a previsão da construção de mais seis para julho", completa.
Já no grupo das obras maiores, de acordo com o prefeito, estão sendo construídos dois laboratórios do curso de Física e ainda foi feita uma reforma no auditório central. "Foi recuperado todo forro do auditório, foram colocadas duas portas de vidro e aumentamos o número da bancada", declara.
Marcos Lima coloca ainda que o Restaurante Universitário, uma das maiores reivindicações da comunidade estudantil da UESPI, está em fase de conclusão e deve ser entregue em 60 dias. "Trabalhamos diariamente para oferecer melhoria na estrutura. Temos compromisso com a comunidade acadêmica", finaliza.
Estudantes se unem por uma UESPI melhor
Na luta por uma universidade mais digna, os estudantes usam várias formas de mobilização. Uma delas é o movimento sistematizado nas redes sociais como #SOSUESPI, que trabalha a luta pela melhoria das condições da universidade. Outras intervenções acontecem em várias manifestações de rua e ocupações de reitoria.
Sem as manifestações, os acadêmicos acreditam que a UESPI estaria numa situação muito pior. "Colocar essa campanha na ordem do dia de pautas e conversas por todo o Estado fez com que a população começasse a enxergar a Uespi com outros olhos, como uma filha da terra mesmo, onde todo mundo tinha o direito de lutar pelos que estão lá hoje, e pelos que ainda estão por vir. A campanha se alastrou por muitas cidades do interior", explica a estudante Carmen Kemoly.
A assistência estudantil é uma das três bandeiras prioritárias na campanha, que são autonomia financeira e democratização dos espaços deliberativos da instituição.
Ano passado o grupo resolveu manter o foco de luta pelo Restaurante Universitário. Foram feitas intervenções na Assembleia Legislativa, na Reitoria do Pirajá e em outros espaços.
"No final de 2012 ele saiu do papel. Com certeza foi um ganho muito grande pra gente. Mas nem tudo são flores. Não é, na verdade, um Restaurante Universitário, é uma Cozinha Popular, com apenas 300 refeições diárias, que só se diz universitário porque está sendo construído dentro da instituição, mas ninguém sabe ainda quanto será o valor cobrado", completa Carmem.