Quem diria que o Papai Noel mais piauiense do mundo seria lá da Argentina? A bota deu lugar a um chinelo de couro e uma sombrinha para se proteger do sol. Com escritório no Polo Norte, ter que se acostumar com o calor de Teresina é uma tarefa difícil mas prazerosa para o bom velhinho do agreste que tem sotaque castellano. Atualmente ele anima os corredores do Shopping da Cidade todos os dias de 11h às 13h.
Nascido José Alfredo Gallucci, o Papai Noel piauiense que é da Argentina nasceu no dia 18 de novembro de 1953 na cidade de Rosário, localizada há 320 km da capital, Buenos Aires. Afeito a aventuras, o bom velhinho veio para o Brasil antes mesmo de saber da vocação para andar de trenó e distribuir presentes.
Defendendo um “Papai Noel de verdade”, José Alfredo refuta a ideia do Papai Noel capitalista que está no shopping apenas para fotos pagas. Para ele, o Papai Noel de verdade deve servir a todas as crianças, sem importar a “plata” que os pais têm no bolso. A desilusão com agências de Papai Noel foi um dos motivos para José Alfredo buscar um Papai Noel mais alternativo.
Além de Papai Noel, o Sr. Gallucci também é artista plástico, músico, escritor de oito livros e arteterapeuta. Falando em livros, o bom velhinho deve lançar o 9º volume sobre sua história como Papai Noel pelo Brasil, profissão que defende há pelo menos 15 anos entre indas e vindas por Vitória, Fortaleza e Teresina.
Mas aqui ele calcou o próprio terreno. Após conhecer e se apaixonar por uma Mamãe Noel do Piauí, José Alfredo Gallucci descobriu nesta terra quente um bom lugar para viver. Hoje com ateliê pronto, muitos sonhos na cabeça, participando de campanhas publicitárias de empresas e trabalhando no Shopping da Cidade que o Papai Noel do agreste distribui sorrisos por aqui. Em Teresina, José Alfredo Gallucci virou Papai Noel com o apoio de outro colega de profissão, o também Papai Noel Severino Ferreira, que trabalha em outro shopping. A ajuda de Severino é lembrada com muito carinho por José.
Para conhecer mais o trabalho desse Papai Noel para lá de diferente basta acessar seu Instagram: @papai_noel_piaui. Na rede social é possível ver o Papai Noel andando de helicóptero e outras aventuras.
Jornal Meio Norte: Como é o Papai Noel de verdade?
Papai Noel: O verdadeiro Papai Noel que eu sempre imaginei e sonhei é diferente. Há muitos anos eu trabalhei em uma agência, e era um Papai Noel mercenário, capitalista. Fica sentado em um shopping, ‘oh-oh-oh, cobra caro as fotos dos garotos. Se não tem dinheiro, não tira foto. É tão ordinário e horrível que algumas das personagens ficavam na frente das câmeras de celulares das mães para que a foto não ficasse legal. O certo é ter um fotógrafo, mas se a mãe não tiver como pagar, por que não pode tirar a foto do filho com o Papai Noel de seu próprio celular?
Severino, meu amigo, também faz assim.
JMN: Como é o Papai Noel do Piauí?
PN: O Papai Noel do Piauí não usa botas. Ele usa chinelo de dedo. Uso sombrinha para me proteger do sol forte. As pessoas estão gostando muito. Faço eventos em geral. A última que fiz foi entregar presentes para empresas que eram clientes de uma empresa de publicidade. Fiquei surpreso com o resultado.
JMN: O que você faz além de Papai Noel?
PN: Sou arteterapeuta. Acredito na arte como meio de cura. Sou especialista em mandalas, que muitos pensam ser objetos decorativos, mas tem uma função espiritual profunda. Também sou escritor, músico e artista plástico. Há 12 anos criei a Escolinha de Arte do Papai Noel, em Fortaleza, com recursos próprios, em uma comunidade muito carente. Durou dois anos.
JMN: Quando mudou para o Piauí?
PN: Há seis anos. Casei com uma piauiense. Nesta época eu tinha desistido de ser Papai Noel.
JMN: Por quê?
PN: Estava cansado de ser um Papai Noel capitalista, das agências, de tudo. Tirei a barba, me desfiz das roupas. Estava zangado e enojado com tudo isso. O Papai Noel do Piauí não tinha um modo de ganhar a vida. Até que o Severino Ferreira, meu grande amigo, Papai Noel de um Shopping, disse para eu ser Papai Noel novamente. Na verdade, ninguém deixa de ser Papai Noel. Sem barba e sem roupa as crianças veem Papai Noel em mim. Mas eu estava sem dinheiro e sem roupa. Então Severino emprestou a calça, a jaqueta, os óculos, cinto, gorro. Mas não tinha uma bota, que pode custa até R$ 2 mil. Mas o Papai Noel do Piauí não precisa de bota! Precisa de chinelo dedo neste calor. Está ficando bonito demais.
JMN: Um Papai Noel regional chama mais a atenção?
PN: Sim! Um Papai Noel regional. As pessoas se veem mais em mim. O empresariado local está vendo minha ideia como uma coisa positiva. Fiz uma propaganda comendo pizza, foi muito legal. Também já desci de helicóptero com uma bandeira do Piauí. Por que tem que ter neve se não tem neve aqui? Papai Noel veio do mundo da neve, mas o cenário aqui tem que mudar. Areia, cajueiros belíssimos. Não temos pinheiros, temos cajueiros belíssimos.
JMN: Quando pensou em ser Papai Noel?
PN: Essa é uma história bonita. Eu vivia em Belo Horizonte, com a barba grande, como todo artista. A maioria é por desleixo. Eu estava trabalhando em um banco, ajudando cooperativas populares. Até que uma senhora me viu de costas e me deu um cartão para ser Papai Noel. Passei por uns problemas pessoais e meses depois telefonei. Não tinham mais vagas em Belo Horizonte, então embarquei para Vitória, no Espírito Santo.
JMN: Como foi a experiência?
PN: Horrível. Eu peguei um acordeon, sou sanfoneiro, e fiz um show em uma loja, juntei um monte de gente cantando tango. A dona da loja brigou comigo, disse que eu não poderia fazer isso. Pedi demissão e vim trabalhar em Fortaleza. Eu falava para a empresária que eu queria fazer um Papai Noel de verdade. Gosto de interagir com as crianças, gosto de brincar, fazer oficinas.
JMN: Aqui no Shopping da Cidade você é um Papai Noel de verdade?
PN: Sim. Aqui sou um Papai Noel de verdade. (Por Lucrécio Arrais/Do +Mais)