Os pais de crianças do Piauí e do Brasil estão assustados. Um vídeo com conteúdo infantil, hospedado no Youtube, aparece com imagens aleatórias de uma boneca chamada Momo, que interrompe a exibição com mensagens incentivando as crianças a cometerem suicídio.
Durante o vídeo a boneca ensina passo a passo como cortar os pulsos. O conteúdo também é reproduzido através de mensagens de Whatsapp. Assim como o desafio da baleia azul a boneca Momo é mais uma corrente que circula pelo WhatsApp e outras redes sociais.
A boneca,de aparência macabra, na verdade, é uma escultura que está situada numa galeria em Tóquio. A imagem tem sido usada por pessoas do mundo inteiro para assustar crianças e adolescentes, além de arrancar informações pessoais e, em última instância, propor desafios perigosos.
A criança já assistiu o vídeo. O que fazer?
De acordo com psicólogo clínico Mário Faustino, com ampla experiência no atendimento de crianças, é preciso analisar os fatores traumáticos com cuidado e atenção. No caso de crianças menores, o ideal é evitar ao máximo a exposição a este tipo de conteúdo. No entanto, cabe um diálogo aberto com crianças que tenham a maturidade mais desenvolvida, de acordo com a idade.
O principal é ver as mudanças de comportamento. “E isso não é só em relação ao vídeo. Tudo que está em evidência chega à criança e gera curiosidade. Se você tocar no assunto com uma criança menor que nunca viu esse vídeo, é possível que ele procure ver. Outra coisa mais importante é discernir bem para as crianças o que é real e o que não é. Não adianta botar medo com bicho-papão, por exemplo. E o principal: é preciso bloquear este tipo de conteúdo”, explica o psicólogo Mário Faustino.
No caso de crianças menores, o principal trauma será o medo do próprio boneco. “A maioria dos filmes de criança são de monstros. Mas muitas crianças sem estrutura familiar podem chegar a seguir o boneco. No entanto, é preciso uma coragem muito grande para fazer esse tipo de coisa. Toda vez que vejo casos assim é com adolescentes, não com crianças. Dependendo do estado emocional, da autoestima, é possível que aconteça esse tipo de coisa”, acrescenta.
Crianças com idade maior podem receber orientação abertamente dos pais. “No caso das crianças maiores, é preciso mostrar ou conversar com a criança o que é o boneco e o que ele representa. Perguntar abertamente o que a criança entende daquilo. Se você perceber que não se instalou nenhum tipo de trauma, é não falar mais sobre o assunto e o principal: ficar vigilante para que o conteúdo não seja passado novamente”, recomenda o psicólogo.
Em caso de medo do boneco, a terapia é a principal recomendação. “No entanto, se a criança já tiver aprendido o significado do medo, ela sofre ameaça por esse boneco. Então no caso o trauma estaria instalado. Trabalhar o trauma instalado depende de terapia. Inicialmente, é preciso levar ao psicólogo. Pois ele terá condição de analisar o trauma e indicar ou não uma terapia conjunta, com psiquiatra”, aponta Faustino.
Suicídio é mais comum a partir dos 8 anos de idade
O psicólogo tranquiliza as famílias com relação ao suicídio de crianças menores, pois é um fenômeno bastante raro na natureza humana. Com a mente imatura para chegar a este tipo ação, a curiosidade é que termina sendo o maior problema para causar acidentes. A criança menor, por natureza, é esquiva a situações onde ela possa sentir dor. No entanto, a partir dos 8 anos a taxa é mais elevada.
Dos 3 a 7 anos não há um pensamento simbólico real. Eles ainda não sabem idealizar uma questão desses, pois ainda vivem a fantasia da infância. “A criança não tem maturidade para cometer suicídio. É uma elaboração mental muito grande. Isso acontece mais a partir da pré-adolescência, onde os hormônios, agressões e as questões de vida estão mais afloradas. A criança é mais esquiva. Para isso acontecer é preciso um trauma muito grande ou um transtorno já estabelecido, mas isso é muito pontual”, explica Mário Faustino.
No entanto, isto não tira a gravidade da situação. A orientação é que os pais estejam atentos ao conteúdo exibido aos filhos. “A criança assistir esse conteúdo é grave. Mas tem que ver o nível de maturidade dela. Uma coisa é a criança ouvir aquilo e não entender o que significa. Mas o que, de fato, ela entendeu? É um ‘boneco malino’, poderíamos dizer. O que ele causa? Medo. E o medo gera traumas. A família tem que olhar como a criança interpretou e externalizou sobre aquilo”, conclui o psicólogo.