Seu olhar emana sensações que variam entre tristeza, vergonha e força. A voz, em alguns momentos é firme, decidida e em outros é cortada pelo quase choro de uma lágrima que fica apenas no canto do olho, exigindo grande esforço para não deixá-la cair. Naquele momento, F.C.B., 36 anos, tinha acabado de levantar. ?Hoje eu estava só curtindo minha ressaca?, disse a mulher.
Ela tem quatro filhos e lamenta que seu problema com o álcool reflita diretamente na educação e aprendizado das crianças na escola. ?Todos eles já reprovaram?, assume F. Um deles repete pela terceira vez o 5º ano do ensino fundamental.
O alcoolismo é um dos problemas que vem contribuindo para o mal desempenho de alguns alunos nos colégios de Teresina. Segundo o diretor adjunto da escola Porfírio Cordão, George Andrade, é notável a desestrutura familiar causada pelo álcool. ?A gente percebe que às vezes a mãe tenta dar assistência, mas não consegue?, lamenta o diretor.
F.C.B., por exemplo, sempre vai à escola, não deixa que os filhos faltem às aulas e os coloca no reforço para auxiliar no aprendizado. ?Até eu estou estudando. Sempre gostei, mas tive que largar quando era criança?, afirma.
Por lado, existem mães que não vêem a família como algo importante e, de certa forma, abandonam os filhos na escola sem qualquer acompanhamento. ?Já tivemos um problema assim. A criança vivia em um ambiente onde tudo era bagunça. Todos os adultos bebiam e o menino ficava exposto àquilo?, conta a pedagoga Nayara de Moraes.
Segundo ela, o menino era bastante inteligente, carinhoso, mas tinha algumas atitudes que demonstravam carência de atenção. ?Ele já tinha um trauma por se sentir rejeitado pelo pai, que não o havia assumido. Então muitas vezes era agressivo e perturbador da sala de aula?, relata a pedagoga.
Este ano, ele foi matriculado na escola de tempo integral e Nayara acredita que essa será uma boa oportunidade para ele se livrar daquele ambiente, pelo menos durante o dia.
A luta de uma mãe contra o alcoolismo
Ela bebe desde os 12 anos, mas afirma que somente ao 30 percebeu o vício. Tudo teve início dentro do próprio ambiente familiar. ?Meus pais bebiam e sempre havia uma garrafa lá em casa. Eu comecei apenas experimentando?, revela F.C.B.
No ambiente onde ela deveria encontrar carinho, aconchego e orientação para a vida, a realidade era de sucessivas agressões. O pai batia constantemente na mãe. ?Teve uma hora que ela não agüentou mais e fugiu. Fiquei só com meu pai, que nunca mais matriculou a gente na escola?, conta a mulher.
Todos esses fatos contribuíram para que F. tenha se tornado alcoólatra. Ao longo da vida, acumulou experiências como depressão, internações, alucinações, abandono dos filhos e tentativas de suicídio.
Atualmente, F. reconhece que é alcoólatra e já conquistou muitas vitórias depois disso. Segundo ela, o remédio é ter força de vontade. ?Eu já consigo beber em um dia e não continuar no outro. Só não sei ainda é parar antes de ficar embriagada?, revela.
A mulher conta que qualquer emoção, entre elas alegria, raiva ou tristeza, a faz pensar na bebida. ?Eu vi que se não tentasse mudar, iria enlouquecer de verdade?, disse, acrescentando que ainda precisa do apoio dos filhos para conseguir maiores vitórias.
?Eu digo para eles que é mais fácil procurarem entender o meu problema do que ficarem revoltados, reclamando, demonstrando raiva. E isso dói, assim como quando eles dizem que ao completar 15 anos vão começar a beber?, declara F. tentando segurar a emoção.
A postura da escola
?A gente fica pensando o que pode fazer em uma situação de tamanha desestrutura familiar?, questiona-se o diretor adjunto, George Andrade. Na escola Porfírio Cordão, a iniciativa dos educadores é de ouvir e dar o apoio necessário para as mães.
Eles partem do princípio de que essas mulheres precisam de ajuda e incentivam a busca por grupos como os Alcoólatras Anônimos. ?Foi muito importante para mim quando eu assumi na escola o meu problema. Conversei com eles e senti que estava sendo amparada?, declara F.C.B.
Segundo George Andrade, por diversas vezes já foi necessário ir até a casa de alguns alunos. ?Tem casos que nem é realmente alcoolismo, mas o álcool está envolvido?, disse o diretor adjunto.
Sinais que as crianças dão quando tem casos de alcoolismo na família
Agressividade
Carência
Inquietação
Apatia
Mau desempenho na escola