O candidato kirchnerista Alberto Fernández venceu, em primeiro turno, a eleição presidencial argentina na noite deste domingo (27), contra o atual presidente, Mauricio Macri.
Com 90,14% das urnas apuradas pelo sistema de contagem rápida, o opositor tinha 47,66% dos votos contra 40,88% do mandatário. Na Argentina, um candidato vence em primeiro turno com índice superior a 45% ou acima de 40% mais diferença de dez pontos para o segundo colocado.
Qualquer que seja o resultado, os números mostram discrepância em relação às pesquisas, que apontavam para uma vitória avassaladora de Fernández.
Logo após o encerramento da votação, às 18h10, o ministro do Interior, Rogelio Frigerio, com rosto aparentemente abatido, pediu calma à população, dizendo que era necessário esperar os primeiros dados oficiais, que devem ser divulgados a partir das 21h, com cerca de 10% da apuração rápida contabilizada.
Frigelio afirmou que, por conta de denúncias de irregularidades em algumas mesas, era possível que alguns votos fossem impugnados. Pela manhã, o chefe de gabinete do governo, Marcos Peña, disse em um café da manhã com jornalistas que, caso a diferença fosse muito curta, seria necessário esperar até a contagem definitiva, voto a voto, que sairá em alguns dias.
No fim do dia, já no comitê de Macri, Peña voltou a pedir paciência e que a justiça eleitoral divulgasse todos os dados, "porque é preciso defender a democracia e a transparência, pois estamos seguros de que ainda é possível ir ao segundo turno".
Às 18h15, Fernández surgiu no portão de seu prédio, no bairro de Puerto Madero, com os olhos marejados, e agradeceu aos apoiadores. “Vocês sabem que não posso falar nada ainda, mas agradeço a todos. Ele estava acompanhado da mulher, Fabíola Yañez.
Mais cedo, o candidato kirchnerista publicou uma foto em seu Twitter em que faz a letra L com as mãos, símbolo do movimento Lula Livre, e parabenizou o ex-presidente brasileiro pelo aniversário de 74 anos completados neste domingo (27).
"Também hoje faz aniversário meu amigo Lula, um homem extraordinário que está injustamente preso faz um ano e meio", escreveu Fernández. "Parabéns pra você, querido Lula. Espero te ver em breve."
O domingo foi de sol e movimento tranquilo em Buenos Aires. Apesar das filas nos centros de votação, não houve agitação ao menos até as 17h, quando alguns carros passaram a tocar buzinas e acenar com bandeiras da Argentina nas avenidas. Era comum ouvir o canto de “vamos voltar” dos peronistas.
Em um centro de votação no bairro de Colegiales, uma senhor de 84 anos era amparado pelo filho para votar. "Eu sei que não preciso votar [na Argentina, a partir dos 70 é facultativo], mas se é para tirar Macri, achei que valeria a pena vir, pedi para me trazerem."
Em outro colégio, no bairro da Recoleta, havia um grupo de mulheres esperando que outra amiga fosse votar. “Estamos votando juntas e torcendo por uma vitória do presidente. Daqui vamos almoçar e mais tarde iremos para o comitê, temos certeza de que houve fraude nas primárias e de que hoje iremos celebrar.”
Alguns ciclistas andavam pelas ciclovias com cartazes feitos à mão e colados no banco com pequenas mensagens. "Tchau Macri" foi a mais vista, mas também havia "Cristina, não volte mais" e "Cristina e Alberto são iguais".
Nas redes sociais e na imprensa local, ficou famoso o cidadão que, vestido do personagem Coringa (“Guasón”, em espanhol) foi votar dando gargalhadas na cidade de Lanús.
Durante o dia, o governo fez uma série de denúncias de irregularidades à autoridade eleitoral.
“Vemos que nem sempre os presidentes das mesas são neutros e isso se compensa tendo um fiscal”, disse o ministro de Transporte, Guillermo Dietrich, que espalhou fiscais da aliança governista Juntos por el Cambio. “Nosso sistema eleitoral é obsoleto e requer um exército de gente.”
Nas redes sociais, publicou: “Estão chegando dezenas de denúncias de nossos fiscais na Província de Buenos Aires, de Merlo, La Matanza, Pilar e Almirante Brown, de eleitores que aparecem com cédulas de identidade anteriores ou diferentes ao que está no padrão.
Os principais candidatos votaram pela manhã. Assim como nas eleições primárias, Alberto Fernández, 60, favorito para vencer no primeiro turno, saiu para passear com seu cachorro, Dylan, e só depois se dirigiu ao centro de votação perto de sua casa, em Puerto Madero.
Na saída, disse que "a situação econômica era muito preocupante e todos devemos nos preocupar".
Na saída, disse que “a situação econômica era muito preocupante e todos devemos nos preocupar”. Pois, logo após o encerramento da votação, foi convocada uma reunião do Banco Central, a pedido do presidente Macri, para discutir medidas para barrar o aumento do dólar, tendência indicada na na semana passada e que pode se acentuar com a provável vitória kirchnerista.
Ao final de suas declarações, Fernández disse que se lembra de Néstor Kirchner todos os dias e que gostaria de ter falado com ele neste dia, afirmando que ajudaria a Argentina a se levantar novamente.
Já Mauricio Macri votou em Palermo. Também seguindo uma tradição, levou uma bandeja com “medialunas”, espécie de croissant argentino, para distribuir aos jornalistas.
Ao ser questionado como será o dia seguinte à eleição, afirmou que estará cedo na Casa Rosada, trabalhando, “seja qual for o resultado”.
Macri também afirmou estar “ansioso, como todos os argentinos”, mas que era preciso esperar os resultados provisórios. “Se a brecha for muito apertada, além dos resultados provisórios, vamos ter de ter paciência para esperar a contagem final”, afirmou
A candidata a vice na chapa de Fernández, a ex-presidente Cristina Kirchner, votou cedo em Río Gallegos, na Província de Santa Cruz, onde vive.
Esquivando-se das perguntas dos jornalistas com bom humor, afirmou que “vocês sabem que o jornalismo não é o meu forte”. Cristina almoçou em família e voaria às 18h para Buenos Aires, para se juntar a Fernández no “bunker” de campanha do peronismo.
No início da manhã, o palco já estava sendo armado na avenida Corrientes, com as ruas ao redor cercadas. Enquanto Macri costuma fazer seus discursos pós-eleitorais dentro do complexo cultural e comercial Costa Salguero, a festa kirchnerista ocorre na rua.
Segundo as sondagens de boca de urna dos partidos, o kirchnerismo também teria ganho o governo da cidade de Buenos Aires, que tem status de província, com o ex-ministro da economia Axel Kicillof. Já para a prefeitura de Buenos Aires, teria sido reeleito o macrista Jorge Larreta.
O órgão eleitoral confirmou que, neste pleito, votaram 81% dos eleitores, ou seja seis pontos percentuais a mais do que nas primárias.