Um cliente chega ao caixa da loja para fazer o pagamento de uma televisão de 46 polegadas que havia acabado de escolher e avisa a funcionária: “Moça, acho que você vai querer me matar”. Em seguida, acomoda sobre o balcão sacos com R$ 1,4 mil em moedas. Em vez do esperado ataque de fúria, a vendedora e a colega que estava ao lado começaram a aplaudir.
O comprador foi o engenheiro agrônomo Murilo Kfouri, que é de São Paulo e tem 27 anos. Ele teve a ideia de começar a juntar moedas em 2005, quando conseguiu reunir R$ 800. Depois de gastar o primeiro montante, decidiu começar a juntar novamente para atingir um valor maior.
Terminou 2014 com R$ 1,7 mil em moedas, dos quais R$ 300 eram de R$ 0,05 e R$ 0,10 e foram trocados por notas em uma lanchonete. Os outros R$ 1,4 mil em moedas maiores foram acrescidos de cerca de R$ 800 em notas para completar o valor da compra da televisão. “Quando eu fui trocar o pessoal começou a bater palma pra mim na loja, falaram ‘parabéns’. Achei que iam me matar, mas agradeceram. Falaram que estavam precisando”, conta Murilo.
A operadora de caixa que recebeu o pagamento foi Izabel Garcia Mendes. “A gente agradeceu, falou que foi um presente de Ano Novo porque estávamos zeradas de troco. Se tivesse uma vez por semana um cliente desse seria maravilhoso”, diz a atendente, que precisou de cerca de 20 minutos para contar todas as moedas com ajuda da colega do caixa.
O gerente, Diogo Mendes da Silva, diz que, mesmo os produtos vendidos na loja sendo de valores maiores, sempre há necessidade de moedas para troco. “No pagamento de carnê, o cliente pagando antecipado ou adiantado tem um desconto ou acréscimo. Isso quebra o valor”, diz ele, explicando que o perfil de clientes da rede varejista é mais adepto ao pagamento em cartão ou dinheiro vivo, deixando cheques em segundo plano.
Apesar de inusitada, a compra da TV em moedas não foi a primeira situação do tipo vista por Diogo, que trabalha há 10 anos na rede. “Em uma loja de Pirituba, outro cliente levou R$ 1,1 mil em moedas para comprar uma TV também, em outubro de 2013”, afirma ele.
Já para a vendedora Josefa Peixoto, que atendeu Murilo, o caso foi inédito em 12 anos trabalhando na loja. “Eu nunca tinha visto. Fiquei preocupada porque vi que a venda não entrava no sistema, demorou. Depois as meninas me disseram que precisaram conferir as moedas.”