A rica cultura de saberes e sabores de povos da região semiárida é a pauta do IV Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, que tem como tema: “Guardiões da biodiversidade cultivando vidas e resistência no Semiárido”. Uma delegação com 21 piauienses se reúne à centenas de agricultores e agricultoras familiares dos demais oito estados do Nordeste e também de Minas Gerais, de territórios incluídos na região semiárida. O evento iniciou nesta segunda-feira (06) e segue até o dia 09 de junho na sede do BANESE em Aracajú (SE).
O Encontro é promovido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) uma rede formada por mais de três mil organizações envolvidas com as temáticas da agricultura familiar de base agroecológica e convivência com o Semiárido. O encontro tem como objetivos promover o intercâmbio de agricultores e agricultoras na produção e disseminação de conhecimentos e experiências para a convivência com o Semiárido e fortalecer e valorizar o papel das famílias agricultoras e de suas comunidades enquanto guardiãs de sementes crioulas, assim como das estratégias de gestão coletiva de sementes por meio das casas e bancos de sementes comunitários.
A primeira vez do Encontro Nacional de Agricultores e Agricultoras Experimentadores (as), na bagagem ela afirma que leva muitas expectativas de poder compartilhar experiências com pessoas de vários lugares do semiárido brasileiro. “Um evento como esse é único, rico, e cheio de oportunidade de conhecimentos. Posso levar a experiência da minha comunidade e saber como outras famílias vivem, trabalham e enfrentam as mesmas situações que a gente”, observa.
Da comunidade quilombola Vilão, do município de Massapê do Piauí (PI), o agricultor e apicultor Ailton José da Costa, vai levar a experiência adquirida com os agroecossistemas de sua propriedade. “Trabalho sem usar veneno. Planto abóbora, melancia, cheiro verde, tomate, feijão, milho. Crio também a abelha italiana e faço parte da Associação de Apicultores da Boa Vista. Quero adquirir novos conhecimentos neste encontro e levar minha identificação com a minha região”.
A programação do encontro contará com a feira de saberes e sabores “Agricultoras e agricultores experimentadores cultivando conhecimentos para a convivência com o Semiárido”; visitas de intercâmbio as regiões do Alto Sertão, Sertão Ocidental e do Médio Sertão, plenárias, oficinas temáticas, atividades culturais, feira de troca de sementes do Semiárido.
"Minha expectativa é trocar mais conhecimentos sobre as sementes. As sementes são o maior patrimônio da nossa soberania alimentar", diz Seu José Ferreira, da comunidade Vale do São Francisco, em Pedro II, sobre o IV Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores. Na bagagem ele trouxe diversos tipos de sementes da fartura, como são chamadas as sementes crioulas no Piauí, para trocar com outras pessoas e sua experiência como guardião das sementes da Fartura do Piauí para ser compartilhada com dezenas de agricultores e agricultoras em uma oficina de sistematização.
O coordenador da ASA pelo estado de Sergipe, João Alexandre de Freitas Neto destaca que o encontro é também um espaço para falar de quais ameaças os povos do Semiárido correm, a partir dos retrocessos embasados nos processos históricos das conquistas alcançadas. “Um encontro da magnitude do Encontro Nacional de Agricultores/as Experimentadores/as é um espaço de compartilhamento de experiências e para nós de Sergipe é uma satisfação muito grande receber pessoas de todo semiárido brasileiro para celebrar as conquistas históricas, para denunciar as mazelas e para intercambiar as boas experiências que temos por aqui com as experiências que vem dos estados”, avalia
O encontro faz homenagem ao processo de luta e resistência do povo indígena Xokó, da comunidade Ilha de São Pedro, do município de Porta da Folha (SE). Esse povo foi oprimido por capuchinhos e jesuítas que queriam catequizá-los - o que levou a perda da identidade - e também por fazendeiros que os perseguiam com jagunços e os obrigavam a arrendar sua terras. Mesmo com todos os desafios a aldeia resistiu e lutou para conquistar o título de posse da terra – reconquistaram o território em 1993.
“A identidade Xokó por si só representa pra nós a luta e resistência e isso nos empolga bastante. Ter a participação dos indígenas no nosso encontro será algo imensurável no que concerne a sua representatividade. Teremos algo especial com a participação deles, inclusive com um espaço para exposição e comercialização das suas peças de artesanato”, explica Alexandre.