O advogado Eliézer Jonatas de Almeida disse que não mais irá representar, a partir desta segunda-feira, o cliente Jorge Luiz Rosa, primo do ex-goleiro Bruno Fernandes, após a entrevista que o rapaz deu ao programa Fantástico, da Rede Globo, veiculada ontem. Almeida afirmou que somente tomou conhecimento da entrevista na manhã do último sábado, um dia antes dela ser exibida.
"Não tinha conhecimento e não o orientei para que desse qualquer declaração. A partir de hoje deixo de ser advogado do Jorge. Apesar de que - vamos esclarecer uma situação - ,ele não precisa mais de advogado, seu caso já foi resolvido", afirmou o defensor, se referindo à pena de 3 anos que o rapaz recebeu da Justiça da Infância e Juventude, da qual cumpriu um ano e dois meses.
O advogado revelou estar preocupado com a segurança de Jorge Luiz Rosa, já que ele mostrou pela primeira vez o rosto na entrevista. "Eu estava tentando preservar a integridade física, a identidade dele. A partir do momento que ele foi a uma emissora de TV em nível nacional, não faz mais sentido", declarou. Depois que deixou o centro de internação onde cumpriu a medida educativa, Rosa foi incluído em um programa de proteção à testemunha do governo de Minas Gerais, do qual não faz mais parte desde o final do ano passado.
"O Jorge nunca quis a proteção do Estado, eu que achei por bem fazer o pedido ao Estado devido ao que aconteceu ao primo dele, o Sérgio (Rosa Sales, assassinado no ano passado). Ele é maior de idade, não depende mais de ninguém, responde pelos atos dele. Ele mesmo resolveu sair do programa, não comunicou a ninguém", afirmou. "A mãe dele ficou muito chateada com essa decisão dele", completou o advogado.
Na entrevista que deu ao Fantástico, o primo de Bruno disse que a morte de Eliza Samudio foi planejada e executada por Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, a quem acusou também de oferecer a ele a quantia de R$ 15 mil para que matasse a atual noiva de Bruno, a dentista Ingrid Calheiros. Rosa afirmou na entrevista que chegou a pensar a aceitar o pedido de Macarrão, mas desistiu.
Após cair em contradição e dizer que Bruno não sabia da intenção de Macarrão, o rapaz pediu para falar novamente e na segunda resposta insinuou que Bruno sabia sim do destino que Eliza teria. Apesar de confessar participação na trama, inclusive confirmando que agrediu Eliza com seis socos no Rio de Janeiro, Rosa disse que não viu Eliza ser morta, como afirmou em depoimento à polícia fluminense em 2010. Desta vez, disse que ouviu de Macarrão a história de que Eliza foi morta e teve pedaços do corpo jogados aos cães.
Perguntado se a moça teria sido morta por Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, Jorge Luiz Rosa se atrapalhou e disse não conhecer o ex-policial, apesar de ter dito, durante o depoimento dado no Rio, que viu Eliza ser estrangulada e esquartejada por Bola. "Aquilo era paranóia, estava "noiado" quando deu aquele depoimento. Aquilo nunca existiu. Tanto é que não se conseguiu prova nada", ressaltou Almeida, que disse desconhecer qualquer interferência dos advogados de Bruno e dos outros réus no convencimento para que Jorge Luiz Rosa desse entrevista incriminando Macarrão e livrando Bruno, como afirmou também ao Fantástico o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro.
Eliézer Jonatas Almeida disse que até esta segunda-feira Jorge Luiz Rosa não teria recebido qualquer intimação da Justiça para que preste depoimento no julgamento de Bruno no dia 4, mas, se isso acontecer, que o rapaz "seja homem" para comparecer e contar o que sabe. "Ele não foi homem suficiente para dar uma entrevista dessa em rede nacional? De cara limpa? Agora que ele enfrente", concluiu o advogado, explicando também que, como não está sob a custódia do Estado, Jorge Luiz Rosa deverá ir até o Fórum de Contagem sozinho.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo. Bruno será julgado em março junto a outros dois acusados: o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, e Dayane Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e acusada de ser cúmplice no crime.
No dia 22 de novembro de 2012, durante depoimento de cinco horas, Macarrão responsabilizou Bruno pelo sumiço de Eliza. Dois dias depois, o júri condenou Luiz Henrique Romão, o Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro, a cinco anos.