Enquanto planejava sua festa de casamento com a apresentadora Ticiana Villas Boas, em 2012, o empresário Joesley Batista, deu uma ordem para a cerimonialista: seu nome viria antes do da noiva nos convites impressos.
Dias depois, disse que iria jogar uma bolsa Louis Vuitton para as convidadas como se fosse um buquê. A responsável por organizar a festa conseguiu demovê-lo da primeira ideia com o argumento de que "não era chique", mas Joesley não abriu mão de lançar o acessório na festa que teve mil convidados.
Na época, o goiano era apontado como o símbolo do "novo empresariado brasileiro". Arrojado e destemido, colhia os louros de ter transformado a JBS na maior processadora de proteína animal do mundo com a aquisição de grandes empresas estrangeiras do setor, como a Swift.
As compras porém, só aconteceram por causa dos aportes bilionários como os do BNDES, que injetou R$ 14,8 bilhões nos negócios de Joesley, e da Caixa Econômica Federal, que beneficiou o grupo com R$ 5,5 bilhões.
A generosidade dos órgãos federais com a empresa, que se expandiu para outras áreas sob o guarda-chuva da holding J&F nunca teve explicação convincente até Joesley confessar em sua delação premiada que os benefícios estavam atrelados a pagamento de propina.
Até negociar o acordo, o vínculo com os políticos sempre foi motivo de orgulho do empresário, que, segundo ex-funcionários, gostava de falar que tinha relação com todos os partidos do Brasil.
No seu casamento, com orçamento de R$ 6 milhões, reuniu o ex-presidente Lula, o presidente Michel Temer e o governador Geraldo Alckmin.
Após a cerimônia, as celebrações continuaram, mas na residência do casal no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo, onde ocorriam de micaretas a desfiles de moda.
Em uma organizada na varanda da casa em 2013, ao som da cantora Preta Gil, Joesley recebeu centenas de convidados, como o empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo, o publicitário Nizan Guanaes e o hoje ministro Henrique Meirelles, que já trabalhou para o grupo.
Meirelles, ao contrário dos demais presentes, não quis vestir o abadá confeccionado para a ocasião.
A agenda de Joesley era intensa, tomada por jantares em sua casa para tratar de negócios lícitos ou ilícitos. Segundo políticos que participaram dos eventos, eles eram marcados por trilha sonora de axé ou sertanejo e prato que era a especialidade da casa: a picanha JB, batizada com as inicias do anfitrião.
Entre os convidados frequentes de Joesley estava o operador do PMDB Lucio Bolonha Funaro, que, segundo a delação do empresário, recebeu dinheiro dele para se manter calado depois de ser preso. Funaro está detido em Brasília, agora também como delator.
O operador era figura constante na casa de praia do dono da JBS, em Angra dos Reis (RJ), comprada do casal global Luciano Huck e Angélica.
Na piscina, sempre com um drinque a tiracolo, segundo pessoas próximas, Funaro se apresentava a quem o interessava, geralmente empresários como o anfitrião, e oferecia seus serviços.
Um executivo relatou que conheceu o operador ao ser abordado na casa de Joesley em Angra, no verão de 2014. Antes de se apresentar, Funaro deu detalhes sobre os negócios do empresário, mostrando que sabia com quem estava falando e em que áreas poderia ajudar.
Além de levar amigos para a mansão em Angra, Joesley também os convidava para temporadas em seu iate em Saint Barth, no Caribe, e em seu apartamento de Nova York, comprado de Nizan Guanaes.
Segundo amigos, ele demonstrava a generosidade nos passeios pela 5ª avenida, comprando sempre o que levava para si para a pessoa que o acompanhava.
Com a aparição do nome da JBS e do seu em operações da Polícia Federal e do Ministério Público, o empresário passou a adotar uma postura mais comedida. Saiu de cena e fechou as portas de sua casa. Uma das últimas aparições de Joesley foi em janeiro de 2016, em um baile de gala beneficente promovido pelo ator Sean Penn em Beverly Hills.
A chegada dele a Brasília nesta segunda (11), onde passará os próximos quatro dias preso, foi amplamente registrada. O seu jato particular Legacy, no entanto, foi substituído pelo avião da PF que busca presos.
Na superintendência da PF, ele divide cela, sem banheiro e com um cano de água fria, com o ex-funcionário da empresa Ricardo Saud, que também se entregou. Consigo trouxe apenas algumas roupas, produtos de higiene e um terço que beijou ao descer em Brasília.