Acolher ações criminosas é aliar-se ao crime, por José Osmando

O que se vê agora no Brasil são claríssimos sinais de que as ações contra a escola são movimentações arquitetadas dentro da extrema direita.

Twitter mantém ativas ao menos 61 contas que compartilham conteúdos sobre ataques a escolas no Brasil. | Rapeepong Puttakumwong/Getty Images
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No seu excelente, valioso, esclarecedor e emocionante livro Manipulados, a autora Brittany Kaiser conta como a Cambridge Analytica e o Facebook se associaram para invadir a privacidade de milhões de pessoas, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Durante quase quatro anos, utilizaram a coleta de informações pessoais, manipulando-as de forma criminosa, tanto no Reino Unido, durante o Brexit, quanto nos EUA, para permitir que Donald Trump chegasse ao poder em 2016.  

Através de fake news, de mensagens de conteúdo preconceituoso, racista e nutridas de ódio, fizeram ecoar nas mentes de enorme parte da população das duas nações mentiras deliberadas sobre adversários políticos, fazendo crer que Trump era um messias salvador e que a Inglaterra seria um paraíso se finalmente deixasse de integrar a União Europeia

Esse aí foi um marco divisor do avanço da extrema direita no mundo, e uma clara constatação de que a internet e suas redes sociais seriam cada vez mais utilizadas para a tentativa de domínio através da propagação da mentira e do ódio. Ao relatar a perturbadora história de ascensão e queda da Cambridge Analytica e de seu líder Alexander Nix, a competente ativista democrata e cientista política Britanny Kaiser, ilumina nossa compreensão acerca do retorno do fascismo e da extrema direita, com a vitória do Brexit, no Reino Unido, e a eleição de Trump nos Estados Unidos. 

Mais do que isso, nos traz o alerta de que a tentativa de domínio da extrema direita se espalharia pelo mundo, tendo encontrado terreno fértil no Brasil, onde a mentira, a intolerância e a pregação de ódio e violência, com ataques e mortes, entraram no cotidiano da vida brasileira a partir de 2016, e assumiram enorme contundência desde 2019.  

Violência nas escolas

O que se vê agora no Brasil, em face da violência arquitetada contra a escola, o ensino, o conhecimento, mediante a agressão grotesca posta em prática a escolas em diferentes pontos do país, e o registro de mortes de estudantes – crianças e adolescentes-, e também de professores?  

Em primeiro lugar, claríssimos sinais de que as ações contra a escola são movimentações arquitetadas dentro da extrema direita. Sinais que se manifestam nas trocas de mensagens de criminosos nas redes sociais, valendo-se desses instrumentos de comunicação para espalhar ódio e promover desordem. Para eles, o que importa é a derrocada de todo valor institucionalizado. 

Segundo, a existência de uma também muito clara manifestação de que plataformas de internet e redes sociais fornecem velado apoio a essa estúpida exteriorização de ódio e violência, num flagrante desrespeito e agressão à vivência democrática. Exemplo irrefutável, é esse praticado pelo Twitter, que se nega a retirar de suas páginas material que faz apologia da violência nas escolas, confundindo liberdade de expressão com crime e forçando o entendimento de que termos de uso se sobrepõem à Constituição brasileira.  

Extrema direita

O Twitter está hoje nas mãos de ninguém menos do que o bilionário Elon Musk, um fiel escudeiro de Donald Trump e voz importante da extrema direita norte-americana, agora com influência mundial. Depois de uma reunião com o ministro da Justiça, Flávio Dino, a plataforma negou-se a suspender perfis que propagam conteúdos de apologia ao crime, inclusive com incitação a práticas criminosas no ambiente escolar. O Twitter mantém ativas ao menos 61 contas que compartilham conteúdos sobre ataques a escolas no Brasil.

Providências

O ministro Flávio Dino, da Justiça, não parece nem um pouco disposto a aceitar essa intolerável resistência do Twitter. Ele indicou a existência de 73 perfis que propagam conteúdos sobre ataques a escolas. Boa parte desses perfis publica conteúdos que fazem apologia a massacres em escolas, a suicídio, a nazismo, a fascismo, além de homofobia e gordofobia. Identificou-se que estes perfis usam com frequência uma mesma hashtag, como uma forma de conectar pessoas que tenham interesse neste tema. 

Com o crime tão à vista dessa maneira, cabe ao governo brasileiro tomar as medidas judiciais cabíveis. Assim como cabe à Justiça ser ágil e se imbuir da responsabilidade de banir esse criminoso uso das plataformas de internet.

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