O adolescente Matheus Nunes, de 12 anos, ainda tenta entender o que aconteceu no último domingo (22) em Taquarituba (SP). Matheus jogava bola em um ginásio que desabou durante o tornado que atingiu a cidade. Ele foi salvo pelo amigo, Edson Mateus Pereira, que evitou com um abraço que os destroços o esmagassem. Edson, de 21 anos, não resistiu aos escombros do desabamento que caíram sobre ele e morreu.
Matheus contou ao G1 que ele e mais nove jovens amigos do bairro, entre eles, Edson, estavam jogando bola no ginásio de esporte. A reunião do grupo para as disputas era frequente. Na maioria das vezes, as partidas eram feitas na rua, mas no domingo eles decidiram ir até o ginásio. O garoto ainda conta que naquele dia, Edson havia dito que não participaria, no entanto, de última hora ele apareceu.
Enquanto jogavam, começou um vento muito forte. Matheus afirma que os garotos ficaram com medo e até falaram em ir embora, no entanto, todos ficaram. Alguns minutos depois, a ventania aumentou.
O ginásio tinha como estrutura apenas grades laterais, telas e a cobertura metálica, portanto, o vento chegava até o jogadores. Alguns correram para o banheiro, mas os outros ficaram na quadra. Como a maioria dos jogadores era crianças, eles se agarraram na grade para não serem arremessados.
O adolescente estava agarrado à grade também quando Edson conseguiu chegar perto dele e o protegeu com o corpo. ?Ele chegou perto de mim e falou: "Vou salvar você". Foi quando ele colocou o corpo sobre mim e tudo desabou?, relembra o menino.
Matheus ainda afirma que ficou com muito medo durante a passagem do tornado. ?Pensei que era o fim do mundo quando vi o vento. Não sabia que era um tornado. Fiquei com medo?, afirma. Os dois jovens foram resgatados por vizinhos. Matheus afirma que ao ser retirado dos escombros, viu o amigo desacordado, mas só soube depois que ele tinha morrido. ?Agora que comecei a entender o que aconteceu?, diz.
Edson e Matheus moravam na mesma rua. A mãe do adolescente, a dona de casa Rosemar Nunes, conta que viu o rapaz crescer. Ela afirma que sente um grande pesar pela morte do jovem, mas será eternamente grata por ele ter salvado a vida do filho. ?Eu acho que Deus deu essa missão para ele aqui na terra: salvar o meu filho. Não era para ele estar lá, mas ele foi justamente no dia em que o Matheuzinho [apelido do Matheus] poderia ter morrido se ele não estivesse lá?, afirma.
Rosemar ainda conta que a mãe da vítima está em estado de choque. ?Nem conseguimos conversar com ela. Infelizmente, esta é a segunda tragédia na vida dela. Há 21 anos, quando ela estava grávida do Edson, outro filho, que na época tinha três anos, morreu atropelado. Ela está inconsolável?, conta a amiga.
Sobre o dia da passagem do tornado, Rosemar conta que viveu momentos de pânico. Após a passagem do furacão, ela foi até a rua para ver os estragos. A casa fica em uma área alta e de lá conseguiu ver o ginásio no chão, no entanto, não imaginava que o filho estava sob os destroços. ?Eu não sabia que ele tinha ido ao ginásio. Quando eu soube, ele já tinha sido resgatado pelos vizinhos e levado para o hospital?, conta. Matheus sofreu arranhões na cabeça e nas costas. Os outros garotos também não tiveram ferimentos graves.
Para o pai de Matheus, o pedreiro Nei Nunes, é muita alegria ver o filho novamente brincando e jogando bola na rua, mas também lamenta a morte do jovem. "Ele morreu protegendo o meu filho. Não tenho palavras para dizer o que sinto", finaliza.