O Big Brother Brasil é um jogo de pressão psicológica e vem chamando atenção na edição de 2021. O isolamento e a alienação sobre o que acontece fora da casa deixa os participantes sempre à flor da pele. Além disso, os brothers podem jogar uns com os outros através de manipulação. Mas para aguentar tudo isso, é preciso estar preparado. A cantora Karol Conká foi apontada pelo público como a grande propulsora das atitudes abusivas contra o ator Lucas Penteado no reality show. Os confinados não tiveram compreensão e empatia com o garoto em momentos de angústia e inquietações, que perpassaram a passagem do brother no programa da TV Globo. O ator não aguentou as opressões que os outros participantes fizeram sobre ele e desistiu do BBB21 no último domingo (07/02).
Nesse sentido, tanto no ambiente de trabalho, familiar, religioso e outros, uma pessoa pode sofrer este sentimento de retaliação, exclusão, inseguranças, deboches e falta de acolhimento, o que pode denotar tortura psicológica. Esse tipo de tortura é uma forma devastadora de violência. Ela destrói a autoestima, a autoconfiança e o amor-próprio das vítimas por meio de ataques sutis. Raramente a pessoa que sofre essa violência reconhece os impactos dela em sua saúde mental e física.
“Cada pessoa tem a sua história e sua maneira de expressar o seu sofrimento. Alguns sinais podem chamar atenção como: baixa autoestima, não se sentindo capaz de ter sucesso na vida e questionamentos sobre sua capacidade intelectual, além do sentimento de inferioridade perante os outros. Perda do ânimo diante da vida, entre outros. Alguns danos emocionais que esses abusos causam são depressão, ansiedade e até pensamentos suicidas. Já os físicos incluem alterações no sono, distúrbios alimentares, abuso de álcool e outras substâncias”, afirma a psicóloga clínica parental Soraya Albuquerque.
Ainda de acordo com a especialista, o primeiro passo é reconhecer que você está sofrendo um tipo de agressão e que é tão maléfica quanto a física. O segundo passo é buscar terapia para trabalhar o autoconhecimento. Vale ressaltar que uma rede de apoio também é importante. Ignorar o sofrimento pode agravar os danos além de promover um ciclo vicioso na vida. Pode potencializar os efeitos levando para um grave adoecimento.
“Entre as consequências mais comuns de um relacionamento abusivo estão a ansiedade e depressão. Em alguns sentidos, o abuso emocional pode ser mais prejudicial do que o abuso físico, já que termina por desintegrar de forma lenta a própria individualidade e valor pessoal, criando cicatrizes psicológicas por toda a vida. É muito complexo realizar intervenção em um relacionamento abusivo. Isso porque é muito difícil que a vítima consiga se reconhecer em um. A culpa e o medo são os principais motivos para essa percepção distorcida da realidade. E se o reconhecimento da relação tóxica é difícil, a libertação dela torna-se quase impossível”, esclarece.
Segundo a psicóloga, é muito importante o profissional ter acesso aos detalhes para ajudar as vítimas e assim poder atuar conforme for necessário. Em um relacionamento abusivo, a vítima será assistida para restabelecer o caminho para consertar a sua autoestima. “Romper a sequência do processo fará com que a vítima possa libertar-se das amarras condicionantes de seu estado emocional, podendo reconstruir novamente seus laços sociais e retomar o curso natural. Como um quadro altamente delicado, a ajuda de um psicólogo é essencial para a superação deste trauma”, pontuou.
Violência silenciosa e que deixa marcas
O abuso emocional acontece dentro de relacionamentos familiares, profissionais e sociais, onde existe o objetivo de causar sofrimento a uma das partes. Críticas maldosas, acusações, xingamentos, ofensas, desprezo, ironia, ameaças veladas, silêncio como forma de punição, controle de todos os passos da vítima, frases ditas com o propósito de confundir e outros comportamentos são repetidos pelo abusador ao longo do tempo. Isso faz com que a pessoa abusada perca o equilíbrio necessário para se ter uma vida plena.
Para a socióloga Marcela Castro Barbosa, falar do abusador em si é bem complexo, pois é importante analisar cada caso, cada realidade é muito peculiar. “No geral podemos relacionar o abusador como alguém que apresenta uma postura dominante, uma forma de poder sedutora, seja por meio do discurso ou de atitudes. O abusador mostra-se uma superproteção, mas o intuito é mesmo comandar a vida de outra pessoa. Esse tipo de prática pode acontecer de forma mais sutil ou agressiva, mas sempre desencadeia alguma forma de violência. A prática do abusador é dominadora, manipuladora, controladora afetando, desde a autoestima da vítima até sua liberdade. Tudo isso reflete diretamente na saúde mental da vítima”, explica.
A pesquisadora nas áreas de violência de gênero acrescenta que o abuso psicológico faz mal ao indivíduo, porque ele afeta diretamente o campo das emoções/saúde mental, podendo gerar doenças como: a depressão, transtorno de ansiedade, transtorno pós-traumático, dentre outras. Essas questões acabam de alguma maneira afetando as relações sociais dos indivíduos, no tocante a sociabilidade dos indivíduos, as relações familiares, a interação social em grupos sociais.
“A violência psicológica deixa marcas profundas na vida de uma pessoa, ela é constrangedora, humilhante. Além disso, gera sentimento de impotência e medo. Muitas vezes, a vítima tem o receio de ser culpabilizada pelo seu sofrimento, ser mal falada, tem vergonha de relatar o que está vivendo. Em muitos casos, falta apoio familiar, falta de conhecimento de serviços da saúde pública e privada relacionada à saúde mental, tem sentimento de serem taxados como “doentes” e “loucos”. O silêncio é utilizado como uma estratégia de resistência, mas na verdade é uma falsa superação, como se tudo estivesse bem, mas na verdade acaba matando as vítimas. Ninguém consegue superar isso sozinho/a. Portanto precisamos romper com qualquer forma de violência, inclusive a violência psicológica, pois ela deixa marcas na alma”, finaliza.
Curar as feridas é difícil, mas possível
O abuso psicológico gera grande prejuízo na vida de quem o sofre. E a tarefa de curar as feridas que ele deixa é difícil porque muitas pessoas sequer percebem que estão sendo vítimas de uma violência, mas segundo a psicóloga Claudia Aline, é possível se curar dos males causados por uma violência psicológica.
“Pode ser uma mudança difícil, mas é possível. Em muitas situações, é possível curar somente quando a violência psicológica não está acontecendo mais. O aspecto sutil da violência psicológica faz com que ela, muitas vezes, não seja percebida. Para a cura, é preciso buscar tratamentos que não foquem somente ou principalmente na sintomatologia, mas que cuidem da fonte do problema e seja uma abordagem mais profunda e certeira. Com a psicoterapia, e/ou com benefícios de conhecimentos e práticas ligados à ciência mente-corpo, à saúde integrativa do ser humano, isso pode acontecer”, afirma.
Ainda segundo a profissional,quando houver medo e ansiedade constantes sempre que o outro estiver por perto, é preciso buscar ajuda no ambiente família, com os amigos e ainda especialistas.
“O impacto do abuso psicológico é indescritível em muitos casos. Quando a pessoa sente que não consegue resolver o problema sozinha, que está sem forças para lutar por sua dignidade, para se proteger e para superar o que está atrapalhando sua felicidade e paz, ela precisa de ajuda. Psicoterapeutas e psiquiatras experientes podem contribuir muito e, em alguns casos, pode ser necessário ajuda de outras áreas, como assistência social e advocacia. O acolhimento, o tratamento e a psicoeducação realizados pelos profissionais podem ajudar a vítima a perceber o abuso de uma maneira mais profunda, a se fortalecer”, recomenda.
Entre as dicas para não seguir pelo caminho do sofrimento é tentar se acolher, buscar ajuda para cuidar da saúde como um todo, se beneficiar do que relações saudáveis podem proporcionar para ajudar a reduzir o sofrimento, procurar ajuda de profissionais de saúde (uma psicoterapia tem grande potencial para ajudar a criar uma vida com menos sofrimento e para buscar um caminho autoconhecimento que ajude nessa e em outras questões associadas).
“Lembrar que o perfil de quem pratica o abuso psicológico não é somente casos graves como psicopatas, sociopatas, pessoas com sérios transtornos não resolvidos, pode ajudar. Isso pode ajudar a observar melhor situações em que uma pessoa aparentemente inofensiva pode praticar ações perversas, que silenciam e impactam na saúde mental do outro perigosamente”, enfatiza.