A necessidade de retirar a mentira das nossas vidas, por José Osmando

Embora, portanto, a mentira seja uma coisa bem antiga, é inegável constatar que ela hoje é muito mais robusta e muito mais perigosa, porque ganhou imensa forma de divulgação e propagação nas redes sociais da internet

Com as redes sociais, mentiras ficaram mais perigosas | div
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Por José Osmando  de Araújo 

A mentira é tão velha quanto a política, mas, seguramente, veste-se, hoje em dia, de roupagem nova, ganhando amplos contornos. Atiçada pelo descontrole da Internet e suas redes sociais, a mentira domina e ocupa espaço na vida pública. 

O sábio pensador e escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, tornou-se célebre- além da qualidade e criatividade de seus belos textos-, pelas verdades incontestáveis que proclamava. Uma delas, ao referir-se a nossa realidade atual, disse que ”o tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias. 

MAIS PERIGOSA 

Embora, portanto, a mentira seja uma coisa bem antiga, é inegável constatar que ela hoje é muito mais robusta e muito mais perigosa, porque ganhou imensa forma de divulgação e propagação nas redes sociais da internet. 

NUNCA SE MENTIU TANTO… 

Alexandre Koiré, filósofo francês, de origem russa, que deixou importante legado sobre história e filosofia da ciência, já nos dizia, em artigo publicado em Paris em 1943: “Nunca se mentiu tanto quanto em nossos dias. Nunca se mentiu de forma mais descarada, sistemática e constante.” 

MENTIRAS DE HITLER 

Essa sua fala completa agora 80 anos e o que ele expressava era, certamente, motivado pelo que observava na Alemanha, nos anos 1940, quando lá passou um bom tempo, estudando, e presenciando as práticas mentirosas expostas ao mundo por Adolfo Hitler, o sanguinário ditador alemão que fazia da mentira seu atributo de maior utilização e propagação.

VERDADE E POLÍTICA 

Na mesma linha de observação, a filósofa política alemã Hannah Arendt, falecida em 1975, trata de maneira lúcida e contundente do binômio verdade e política, considerando os riscos e choques entre verdade e mentira no interior da política, defendendo que a verdade necessita de amparo, de proteção, de modo a mantê-la como um valor nas questões de natureza pública. 

PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA 

Desde que os meios tradicionais de comunicação perderam o monopólio para a internet e suas redes sociais, e em que cada indivíduo passou a ser emissor de informação, sobretudo de opinião, a mentira passa à mesma faculdade humana relacionada à política, a saber, a imaginação. E, sem qualquer controle externo, cada pessoa sentiu-se no direito de usar esses meios para difundir o que pensa, na maioria das vezes extrapolando qualquer limite, para falsear a verdade, mentir, e expor sentimentos agressivos de rancor, indiferença e ódio, contribuindo enormemente para a prevalência da violência. 

CONSPIRAÇÕES 

Vive-se numa época não apenas de mentira, mas sob o domínio de conspirações, que são invenções fantasiosas ao gosto de quem as cria, tendo como mero objetivo confundir e fazer desacreditar pessoas, e sobretudo, instituições. As verdades factuais são afastadas, tangidas para longe, muitas vezes com violência, para dar lugar a outras crenças desprovidas de fundamentação e veracidade. 

CONTER ESSA ONDA 

A Internet, penso, veio para democratizar a comunicação , reduzindo o monopólio imposto por veículos tradicionais, muitos deles sem qualquer interesse público. Mas não se imagina manter uma Internet e suas redes firmando-se a serviço da mentira e do ódio. É urgente conter essa onda.

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
SEÇÕES