94% dos Yanomami de 9 comunidades estão contaminados por mercúrio

Pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Socioambiental (ISA)

94% dos Yanomami de 9 comunidades estão contaminados por mercúrio | Foto: Fiocruz/Divulgação
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Um recente estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Socioambiental (ISA) revelou que nove comunidades da Terra Indígena Yanomami enfrentam uma grave contaminação por mercúrio. Os resultados divulgados hoje indicam que 94% dos indígenas participantes da pesquisa estão expostos a níveis elevados deste metal pesado.

AMOSTRAS DE CABELO: Amostras de cabelo foram coletadas de 287 membros do subgrupo Ninam do povo Yanomami para o estudo. Os resultados revelaram que os indígenas que residem em aldeias mais próximas aos garimpos ilegais apresentam os níveis mais elevados de exposição ao mercúrio. As comunidades envolvidas na pesquisa estão situadas às margens do Rio Mucajaí, um dos cursos d'água mais afetados pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami. Este território, localizado entre os estados do Amazonas e Roraima, é lar de 31 mil indígenas distribuídos em 370 comunidades.

AMOSTRAS COLETADAS EM 2022: Em outubro de 2022, as amostras foram coletadas nas comunidades Caju, Castanha, Ilha, Ilihimakok, Lasasi, Milikowaxi, Porapi, Pewaú e Uxiú, localizadas na região do Alto Rio Mucajaí. A seleção dessas aldeias foi realizada atendendo a um pedido da Texoli Associação Indígena Ninam.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE: Das 287 amostras de cabelo examinadas, 84% apresentaram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 μg/g (micrograma), enquanto 10,8% registraram concentrações superiores a 6,0 μg/g. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio no cabelo não devem exceder 1 micrograma por grama. 

DÉFICITS COGNITIVOS: Os pesquisadores ressaltam que os indígenas com níveis mais altos de mercúrio demonstraram com maior frequência déficits cognitivos e danos nos nervos periféricos, afetando áreas como mãos, braços, pés e pernas. 

TERRA YANOMAMI: A Terra Yanomami, com 9,6 milhões de hectares, é o maior território indígena do Brasil e enfrenta uma crise grave, com casos de malária e desnutrição severa entre os indígenas. O garimpo ilegal, que ocorre há décadas, intensificou-se recentemente, afetando diretamente o modo de vida dos povos originários. A invasão resulta na destruição do meio ambiente, violência, conflitos armados e poluição dos rios devido ao uso do mercúrio. Em 2022, a devastação no território atingiu 54%.

QUAL O IMPACTO DO MERCÚRIO NA SAÚDE? O mercúrio, usado pelos garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos, é altamente tóxico para os seres humanos e causa poluição ambiental quando descartado nos rios. O metal entra na cadeia alimentar dos animais, afetando a saúde da população, especialmente dos povos tradicionais. Um estudo recente da Fiocruz, em colaboração com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e com o apoio do ISA, analisou 47 amostras de peixes, todas mostrando contaminação por mercúrio, com níveis variando de 0,021 a 0,535μg/g. 

A análise de risco do consumo de peixes mostrou que a ingestão diária de mercúrio excede três vezes a dose de referência recomendada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U.S. EPA), que é de 0,1 μg/kg pc por dia. Embora a água também tenha sido examinada, não foi encontrada contaminação.

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