Uma pesquisa realizada pela Nova Escola, organização de impacto social que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira, em parceria com o Instituto Ame a Sua Mente, revela que 70% dos professores de todo o país não contam com apoio para saúde mental, ainda que tenham experienciado quadros de ansiedade e depressão.
Para os professores, a pandemia mudou a rotina e intensificou algumas questões associadas à saúde mental. Para 60% dos respondentes, sentimentos intensos e frequentes de ansiedade ficaram mais intensos, já 48% alegam que sentem cansaço excessivo ou baixo rendimento e 42% têm problemas com o sono (insônia ou sonolência). Outro ponto de atenção é o sentimento intenso e frequente de tristeza, observado em 36% dos educadores. Ainda assim, 70% dos educadores alegam que não contam com suporte de psicólogos ou psiquiatras para a saúde mental.
Todo esse cenário fez com que, nos últimos meses, 33% dos educadores pensassem em se afastar do trabalho por conta da saúde mental.
O estudo também mostra que para mais de 74% dos respondentes, os problemas de saúde mental agravados com a pandemia, ainda permanecem nos dias atuais. Para tentar melhorar esse quadro, 30% recorrem à psicoterapia ou terapias alternativas, realizam atividade física (40% deles), participam de grupos religiosos (29%), cuidam da alimentação (33%) ou se mantêm conectados com os amigos e a família (36%).
5.203 professores ouvidos
Desde 2020, com o início da pandemia, a Nova Escola vem acompanhando a saúde mental dos educadores do Brasil com essa pesquisa anual sobre o tema. Esse é o terceiro levantamento, que ouviu 5.203 professores de todo o Brasil, majoritariamente da rede pública de ensino. Mais de 47% lecionam em escolas na área urbana central, 41,3% estão na área urbana periférica e 11,2% na zona rural.
Segundo a pesquisa, os educadores da rede privada têm mais apoio psicológico que os da rede pública, contudo, a diferença não é alarmante: apenas 5% entre os professores de escola privada (40%) e os da escola pública (35%).
Em comparação à edição anterior do estudo, que traz dados de 2021, houve um aumento significativo na proporção de educadores que alegam ter tido algum tipo de apoio advindo da própria escola sobre a saúde mental. Em 2021, 21,9% disseram que contaram com suporte da escola. No levantamento atual (2022), esse índice subiu para 36,5%. Já o índice de educadores que consideram sua saúde mental boa ou excelente apresentou oscilações. Em 2020, eram apenas 26%, em 2021, o número subiu expressivamente para 47,8% e, em 2022, 33,3%.
“Com a Pandemia, a saúde mental passou a ser assunto das conversas em casa, na escola, no trabalho… e a melhor forma de combater o preconceito e o estigma em relação a esse tema é por meio da disseminação do conhecimento.”, afirma o psiquiatra e presidente do Instituto Ame Sua Mente, Rodrigo Bressan.
Já o índice de educadores que seguem sem suporte profissional para cuidar da saúde mental se manteve estável. Em 2020, 72% não tinham apoio psicológico, em 2021, 73% e em 2022, 70%. Entre os motivos para não buscar ajuda, citam a falta de condições financeiras ou indisponibilidade de tempo.
Saúde mental no contexto escolar
Assim como os educadores não têm recebido apoio para suas próprias demandas relacionadas à saúde mental, muitos deles afirmam que não se sentem preparados para lidar sobre esse tema com os alunos. Em uma escala de 0 a 5, onde 1 é nada preparado e 5 é totalmente preparado, apenas 5,8% optaram pela escala 5. A maioria, cerca de 60,8%, escolheram a escala 2 e 3, o que significa pouco ou moderadamente preparado. Mais da metade (55%) dos entrevistados têm interesse em participar de formações em saúde mental.
“O professor é quem está na linha de frente da Educação e, portanto, um dos principais agentes de transformação social. Não é possível zelar pela educação do país, sem zelar pela saúde deles. Esses profissionais precisam de apoio e ferramentas para que as crianças tenham as melhores condições de aprendizagem”, comenta Ana Lígia Scachetti, pedagoga e Diretora da Nova Escola.
As consequências da pandemia no rendimento escolar também se relacionam com a saúde mental dos estudantes. Para 58% dos professores, houve um aumento da diferença entre os níveis de conhecimento dos alunos, além de menor motivação em relação às atividades escolares, problemas de relacionamento entre os alunos e familiares, e maior introspecção por parte das crianças e jovens.
“Com o acesso desigual à internet e com condições sociais tão distintas — que fazem com que alguns alunos possam estudar em casa, enquanto outros não possuam as ferramentas necessárias — o nivelamento educacional foi seriamente comprometido no período de escolas fechadas. Com isso, agora é importante promover estratégias de recomposição das aprendizagens, o que também inclui um olhar atento para a saúde mental no ambiente escolar, tanto dos alunos, como dos professores”, completa Ana Lígia.
Metodologia
O levantamento trata-se de uma pesquisa espontânea, com 5.203 professores de todo o Brasil via formulário online. Dos respondentes, 49,2% dos educadores são da região Sudeste, 21,7% do Nordeste, 14,7% do Sul, 7,5% do Norte e 6,9% do Centro-Oeste. 86,5% dos educadores que responderam ao estudo são do sexo feminino; 13,4% masculino.
Entre as idades, a maioria tem entre 31 e 40 anos (39%), em seguida, a faixa dos 21 aos 30 anos (24,9%) e 41 a 50 anos (23,7%). Um pouco menos de 8% tem de 51 a 60 anos, e 4,2% são menores de 20 anos.
O estudo ouviu majoritariamente profissionais da Rede Pública de ensino, que corresponde a 84,6% dos respondentes. Os outros 15,3% são da rede privada. A maioria são professores/as (81%), em seguida coordenadores/as (14%) e diretores/as (5%).
Sobre a Nova Escola
A Nova Escola é uma organização de impacto social, sem fins lucrativos, que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo de seu potencial. Referência absoluta no desenvolvimento de conteúdo para professores desde 1986, quando atuava no segmento de revista impressa, em 2015, com o apoio da Fundação Lemann, transformou-se em uma plataforma digital, com mais de 3,1 milhões de acessos mensais.
Produz Reportagens, Cursos autoinstrucionais, formações, Planos de Aula e Materiais Educacionais, gratuitos, para apoiar professores, coordenadores pedagógicos e diretores que atuam na Educação Básica das escolas públicas brasileiras. Saiba mais em www.novaescola.org.br
Sobre o Instituto Ame Sua Mente
O instituto Ame sua Mente é uma organização sem fins lucrativos que tem como propósito criar uma nova cultura de saúde mental no Brasil. Atuamos por meio de programas e projetos com foco prioritário no ambiente escolar, principalmente, na figura do educador da rede pública de ensino, além de ações de conscientização da sociedade sobre a cultura da promoção, prevenção e manejo da saúde mental. Para saber mais, acesse www.amesuamente.org.br