Uma vistoria realizada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) aponta que a microrregião de Picos, com população de mais de 500 mil habitantes, dispõe de apenas uma ambulância com suporte avançado.
O Conselho fiscalizou mais de 15 unidades de saúde, a maioria delas gerenciadas pelo próprio município, e constatou que a má gestão dos recursos tem deixado a população das pequenas cidades sem os serviços básicos de saúde. A vistoria encontrou ambulâncias sucateadas, sem macas, com materiais vencidos e sem nenhuma condição para atender casos de urgência.
Os hospitais privados também foram fiscalizados e nem mesmo estes apresentaram condições adequadas de funcionamento. De acordo com o presidente do CRM, Emanuel Fontes, faltam nestes municípios equipamentos de ressuscitação cardiopulmonar, ventilação e entubação.
“O sistema de transporte entre esses municípios e os hospitais de maior suporte, localizados em Picos e Teresina, é extremamente deficitário. Só tem uma ambulância na região de suporte avançado.
Se um paciente estiver sendo transportado, toda as demais cidades ficaram descobertas. Se, por exemplo, ocorrer um acidente na BR, não tem como dar cobertura, já que as demais ambulâncias estão sucateadas e não possuem suporte básico para socorrer vidas”, explica.
O CRM constatou ainda que as crianças destes municípios estão ainda mais desamparadas. Nenhuma das unidades de saúde fiscalizadas possuem equipamentos de ressuscitação cardiopulmonar específicos para crianças.
“Um bebê que nasce com dispneia, falta de ar ou com algum problema cardiorrespiratório não receberá atendimentos devidos na região e não terá como se deslocar para outras unidades”, lamenta.
O quadro de plantonistas das unidades de saúde fiscalizadas também é motivo de alerta. O CRM identificou unidades com déficit de profissionais, enquanto que alguns postos apresentam excesso de profissionais ociosos.
“Sugerimos que haja um remanejamento de equipe”, pontua Emanuel Fontes ao destacar que na rede privada o déficit de profissionais também é motivo de preocupação. “Os hospitais particulares também encontram-se em uma situação complexa”, completa.
O Conselho de Regional de Medicina está na fase de conclusão do relatório de vistoria do hospital de Picos, porém antecipa que o local apresenta sérios problemas de infraestrutura. A unidade de saúde não possui um respiradouro no pronto-socorro.
No centro cirúrgico, a única a maca de cirurgia possui mais de 30 anos e não oferece condições adquedas para realização de procedimentos cirúrgicos. O hospital de Picos é o maior da região.
Para Emanuel Fontes, a estrutura precária nas unidades de saúde destes municípios deve-se à má gestão dos recursos repassados. “Muito se fala em falta de recursos, mas na verdade eles não são bem gerenciados.
A interferência política é grande nas cidades interioranas. A intenção do CRM é sensibilizar gestores, do governador ao prefeito, para que desenvolvam uma política de curto a médio prazo”.
Além das fiscalizações e das notificações, o CRM vai fornecer recomendações que poderão melhorar a situação e ainda encaminhar os relatórios ao Ministério Público do Estado. A microregião de Picos engloba 68 municípios.