Quase 30 vezes mais rápido que um avião comercial, com altura semelhante à de um prédio de sete andares e peso equivalente ao de quatro elefantes africanos. Assim é o foguete que deve protagonizar um momento histórico para o Brasil entre os dias 17 e 22 de dezembro, com o primeiro lançamento comercial a partir da Base de Alcântara, no Maranhão.
A missão marca a estreia do país como líder de uma operação comercial de colocação de satélites em órbita a partir do território nacional. A operação é coordenada pela Força Aérea Brasileira e pela Agência Espacial Brasileira e é vista como um teste decisivo para inserir o Brasil no mercado global de lançamentos espaciais.
Como será o lançamento do primeiro foguete comercial do Brasil?
O foguete que será lançado é o HANBIT-Nano, desenvolvido pela startup sul-coreana Innospace. A missão, batizada de Spaceward, vai levar ao espaço cinco satélites e três dispositivos de pesquisa produzidos por instituições do Brasil e da Índia.
Com 21,9 metros de altura, 20 toneladas e 1,4 metro de diâmetro, o HANBIT-Nano pode atingir até 30 mil km/h, velocidade necessária para vencer a gravidade da Terra e entrar em órbita. Todo o trajeto, do lançamento até a separação das cargas, deve durar cerca de três minutos.
O foguete opera em dois estágios. O primeiro é responsável pelo impulso inicial e utiliza um motor híbrido, que combina combustível sólido e líquido, tecnologia considerada mais segura e econômica. O segundo estágio abriga os satélites, protegidos por uma coifa na ponta do foguete, e é responsável pela inserção dos dispositivos na órbita da Terra.
O lançamento poderá ser visto a olho nu a partir de Alcântara e de partes de São Luís. Cerca de 500 profissionais civis e militares participam da operação, que foi remarcada após a primeira tentativa, prevista para novembro.
Por que Alcântara pode colocar o Brasil na rota do mercado espacial?
Inaugurada em 1983, a Base de Alcântara é considerada estratégica por estar próxima à Linha do Equador. Essa localização permite que foguetes gastem menos combustível para entrar em órbita, o que reduz custos e aumenta a eficiência dos lançamentos.
Além disso, a região tem baixa movimentação aérea e marítima e oferece uma ampla variedade de inclinações orbitais, o que torna o local atrativo para governos e empresas privadas do setor aeroespacial.
Apesar das vantagens naturais, o centro ficou subutilizado por décadas, principalmente após o acidente de 2003, que matou 21 técnicos durante testes do Veículo Lançador de Satélites, e por conflitos fundiários envolvendo comunidades quilombolas da região.
Nos últimos anos, esse cenário começou a mudar. A criação da Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil, a Alada, abriu caminho para a negociação de contratos comerciais e para a entrada do país em um mercado aquecido pela expansão de empresas privadas de foguetes de pequeno porte.
Especialistas destacam que, além da localização privilegiada, o Brasil precisará garantir segurança jurídica, logística eficiente e custos competitivos para disputar espaço com outros centros de lançamento no mundo. Ainda assim, o voo do HANBIT-Nano é visto como um passo decisivo para reposicionar Alcântara e o Brasil no cenário espacial internacional.