Neste sábado, o Palmeiras enfrenta o Chelsea na briga pelo título do Mundial de Clubes. Para o torcedor alviverde, trata-se da busca pelo bicampeonato por conta da conquista do Torneio Internacional de Clubes Campeões de 1951. Acontece que a alcunha de "Mundial" para a competição é contestada por rivais e esclarecida de forma atabalhoada pela Fifa. Independentemente disso, é inegável que a disputa teve um enorme valor histórico e precursor.
Para entender melhor o que foi essa competição que também é chamada de Copa Rio, o LANCE! foi atrás de Fernando Galuppo, historiador e assessor de comunicação do Verdão, que contextualizou o momento do país, do mundo, e a importância daquele evento tanto para o clube quanto para o futebol brasileiro, que tinha acabado de sofrer a derrota em casa para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, no que ficou conhecido como "Maracanazzo".
- Era um momento de reabertura do mundo em todos os setores, era um momento de pós-guerra, era um momento em que o mundo se abria em todos os níveis, nas artes, na música, e o futebol propriamente dito. E num recorte especifico do Brasil, tinha também a simbologia da construção e idealização do estádio do Maracanã como grande palco, como maior palco do futebol até então naquele momento, a euforia pela realização de uma Copa do Mundo pós-guerra, quer dizer, que traria um alento para toda a população depois de um momento tão traumático, da vida, do mundo.
- Então o futebol ele traz essa simbologia de união de povos e é o primeiro evento do pós-guerra, de grande impacto. Obviamente no plano específico do ponto de vista do povo brasileiro, você tem aí o trauma do desfecho, entre aspas, inesperado, da derrota na final para os uruguaios diante de duzentas mil pessoas que ficou conhecido como o “Maracanazzo” - contou Galuppo.
Na última quinta-feira, em mais uma referência ao Mundial de 1951, a Fifa citou a competição como o primeiro campeonato mundial interclubes, que "foi sonhado e discutido por anos pelos maiores dirigentes do futebol da época e finalmente foi agendado para 1951". A citação corrobora com o que Fernando Galuppo relatou à reportagem sobre a participação direta da entidade, que havia acabado de realizar com êxito a Copa do Mundo de 1950 no Brasil.
- Desde que ela é concebida, o grande sonho da Fifa era a realização de um torneio interclubes e ele não acabou sendo concretizado antes, por conta de questões logísticas e, até então, substituído por uma competição de seleções, e aí é o nascimento da Copa do Mundo. A Fifa vê a oportunidade logística do êxito que se teve com a questão da Copa do Mundo de seleções de 50 e ela reproduz isso por meio dos clubes.
- A Fifa formou comissões esportivas com todo seu staff técnico, mesmo staff técnico que organizou e que participou da Copa do Mundo de seleções. Quer dizer, mostra a importância e o contexto do Torneio Internacional de Clubes Campeões, que popularmente as pessoas abordam como a Copa Rio, nome da taça em si, do troféu físico é Copa Rio porque é uma cessão do Governo do Rio de Janeiro, um dos promotores também do evento junto com a CBD (Confederação Brasileira de Desportes), a atual CBF, e amparado pelos órgãos da Fifa e pelos seus comitês, inclusive árbitros, a bola, regulamentos, enfim, toda a estrutura que a entidade utilizou um ano antes para a concessão da Copa do Mundo de seleções.
Ao longo dos anos, no entanto, a Fifa deixou no esquecimento esse projeto e não citava esse marco em competições de intercontinentais. Foi aí que o Palmeiras preparou um dossiê, já no século XXI, para atestar e resgatar a importância histórica do evento. Segundo Galuppo, autor do livro "Palmeiras Campeão do Mundo 1951", isso traz para a luz um sonho antigo da entidade.
- Essa exaltação (atual) da Fifa pela competição é de fato um reconhecimento de um torneio ambicionado pela própria entidade que até então, ela mesmo, não tinha um amplo conhecimento da sua própria história, ela acabou participando de toda a elaboração do torneio, mas efetivamente ao longo do tempo ela foi, vamos dizer assim, usando um termo até forte, mas negligenciando a sua própria história.
- Quando o Palmeiras traz à luz mais efetivamente a importância dessa competição, o clube faz um movimento de trazer à tona parte importante da história da própria entidade que a entidade mesmo, ao passar do tempo, desconhecia e ignorava. Então, para nós, esportistas de uma maneira geral, para a entidade de uma maneira geral, para quem vive imerso nas questões do futebol, o pertencimento dessa competição ela traz um sonho ambicionado pela entidade desde a sua existência e materializado num momento de euforia, de pós-guerra, em que o mundo se abria para o novo e traz parâmetros para aquilo que a Fifa mesmo reproduz nas competições que ela idealiza.
Com informações Lance!