Nascido em Bangu, zona oeste do Rio, Vagner dividia seu tempo de infância humilde entre pipa, bolas de gude e futebol. Rubro-Negro de berço, ele sempre sonhou jogar no Flamengo, o que virou realidade em 2010. Depois, voltou ao clube em 2012. O que o menino jamais imaginou, nem mesmo depois de crescer e ganhar o apelido de Love, é que um dia iria parar na China, onde é chamado pelo apelido "Lóvi", tem seu nome estampado em ideogramas na camisa de número 40 do Shandong Luneng e é cercado por torcedores ávidos por se aproximar dele ao pegar carona numa moto para se deslocar dentro do centro de treinamento do clube.
Na bagagem para o mundo asiático, Love levou feijão e farinha para driblar a culinária conhecida pelo cardápio que inclui cachorro e espetinho de escorpião. A noiva Lucilene embarcou junto, numa prova de amor sem fronteiras. O casamento sairá em breve. Já o divórcio do Flamengo, quando a diretoria optou por devolver o atacante para o CSKA com a justificativa de conter gastos, deixou mágoa, mas ele não se estende no assunto. E afirma:
- É passado. A vida continua.
Ao trocar o CSKA pelo Shandong Luneng, há menos de um mês, Love admite que colocou um ponto final na relação com a seleção brasileira. Mas ainda aposta em longevidade no futebol e não pensa em aposentadoria. E nega que esteja em dificuldades financeiras.
Por falar em aposentadoria, Love espera que Adriano, seu companheiro de Flamengo no ataque chamado de Império do Amor, em 2010, ainda tenha sobrevida no futebol. O Imperador não atua desde março do ano passado e tem futuro incerto.
- Torço para que ele volte a jogar futebol - disse Love.
Ao contrário de Adriano, Vagner Love parece estar de cabeça feita, mesmo muito distante do calor do Rio, da cerveja gelada e do samba que fazem parte do gosto do atacante. Em vez de praia, apenas mergulhos na piscina do hotel na China. E com um detalhe: de touca, uma regra nas piscinas do país.
GLOBOESPORTE.COM: Você imaginou um dia jogar na China?
Vagner Love: Nunca! Mas estou gostando muito dessa nova experiência. Espero ter bastante sucesso aqui, assim como tive em outras equipes que defendi ao longo da minha carreira.
Na sua chegada à China, os chineses receberam com muita festa, como um ídolo. Imaginava que era conhecido assim em terra chinesa?
Não. Me surpreendi e fiquei muito feliz com a recepção dos chineses.
Por que usar o número 40?
A explicação é que não tinha muita opção. A camisa 9 já estava sendo usada. Então, optei pela 99. Mas aqui a numeração só vai até 40.
Você costuma ter boas estreias, e na China não foi diferente. Como foi esse começo com dois gols e vitória por 3 a 2 logo no primeiro jogo?
Foi maravilhoso. Estrear com dois gols e vencer o jogo... Não poderia ser melhor. Agora é seguir bem e dar continuidade ao trabalho.
A China é um país completamente diferente do Brasil. Como está a adaptação, a dificuldade com a língua? Já escolheu a casa onde vai morar? Sua noiva Lucilene vai ficar com você? O casamento foi adiado?
A adaptação está sendo tranquila. Dificilmente eu vou aprender chinês, pois é muito difícil. Já tenho um tradutor disponível. Também já escolhi a casa. Só estou esperando alguns reparos que estão sendo feitos para me mudar. Minha noiva veio comigo. E onde eu estiver ela estará. Inclusive na China (risos). Sem ela, eu não vivo. Devido à mudança do calendário, estamos analisando a melhor data para o casamento. Com certeza, será em breve.
Você abriu mão de vez da Seleção ao ir pra China?
Abri. Em Moscou já estava difícil; aqui na China ficará impossível.
Quando você deixou o CSKA, disse que poderia ser ?oferta que pode vir uma vez na vida?. Quando você ainda estava no Flamengo, chegou a ser noticiado que você enfrentava dificuldades financeiras por conta da compra de uma mansão e também da separação da sua ex-mulher. A ida para a China teria algo a ver com isso? O que existe de verdade nessa história?
Se eu estivesse com dificuldade financeira, eu não compraria uma mansão. E não voltaria para o CSKA abrindo mão dos meus direitos trabalhados no Flamengo. A proposta foi boa para mim e para o CSKA. Por isso, vim para a China.
Aos 29 anos, o que você ainda projeta para sua carreira? Pretende jogar até quantos anos, quais são suas ambições?
Quero ganhar muitos títulos e fazer muitos gols. Não penso em parar ainda. Falta muito tempo.
Mesmo do outro lado do mundo, ainda acompanha o Flamengo?
Hoje muito pouco. Dificilmente consigo assistir aos jogos devido ao fuso horário.
Ficou alguma mágoa pela forma como foi sua saída?
Sim. Mas é passado. A vida continua.
Ainda é possível sonhar com um retorno, talvez para encerrar a carreira? Sente saudade dos gritos de ?só Love? da arquibancada?
Para encerrar a carreira, não sei. Mas o carinho que sinto pela torcida me faz sentir muita saudade.
Você ainda tem algum contato com Adriano? Se falam? Acredita que ele ainda possa retomar a carreira?
Já tem algum tempo que não tenho contato com ele, ainda mais por eu estar fora do país. Mas torço para que ele volte a jogar futebol.
O Love, como um carioca que gosta de samba, cerveja e praia, está se virando com a culinária que inclui cachorro, escorpião? Como faz?
(Risos) Ainda não tive problema com a comida. E ainda não experimentei nenhum desses tipos exóticos. Já trouxe o feijão e a farinha (risos). E aqui também tenho acesso à comida internacional.