Eram 9h55 no Brasil, 20h55 no Japão. Em polos distintos do planeta Terra, o tempo marcou hora com a história e congelou na cabeça de um homem. Predestinado. No lugar certo, na hora certa. Um forte impulso para o alto, uma cabeçada precisa. Três adversários de azul tentam, em vão, impedir que ela entre mansamente na rede do Chelsea, para deixar 1 a 0 no placar. Gol. Do Corinthians. De Paolo Guerrero. Que, exatos 22 anos depois do primeiro brasileiro, reviveu Tupãzinho e se eternizou como talismã do bi mundial do Corinthians.
O herói do título nacional de 90 vestia a mesma camisa 9 quando entrou para a eternidade ao marcar o gol da primeira conquista brasileira do Corinthians. Foi no dia 16 de dezembro de 1990 que Pedro Francisco Garcia puxou contra-ataque pelo meio, tabelou com Fabinho e entrou de carrinho para encerrar o trauma. Tupãzinho. Um dos grandes xodós da torcida corintiana, que agora certamente reservará um lugar de honra para seu mais novo herói. Paolo Guerrero.
Minutos antes do gol salvador, um torcedor descontrolado na arquibancada do Estádio Nissan gritava em direção ao técnico Tite. Ele parece alterado, impaciente. "Tite, seu burro, tira o Guerrero daí". Dois companheiros ao seu lado, estimulados pelo timbre de voz do colega, engrossam o coro e exigem a saída do atacante de campo. À frente do banco de reservas, o treinador parece ter coçado a cabeça e refletido um pouco. Martínez? Romarinho? O que fazer?
Para a sorte dos outros 30 mil alvinegros presentes, Tite ignorou os torcedores que pediam a troca de Guerrero. Como sempre, o técnico corintiano seguiu seus próprios instintos. O peruano, quieto em seu setor no ataque corintiano, parece ter escutado a impaciência da torcida e também a confiança do treinador em seu poder de decisão. E respondeu como sabe, fazendo aquilo que veio fazer com a camisa do Corinthians. Com a 9.
Paolo Guerrero tem um pouco de Tupãzinho com esse número nas costas. Não fazia partida ruim quando acabou o primeiro tempo. Foi dele o passe para a única bola de perigo da equipe brasileira na partida, quando dominou no peito com maestria, dividiu com a marcação e tocou com classe para Emerson desperdiçar aquela que poderia ter sido a bola do jogo. Mas não foi. Ainda tinham os 45 minutos finais
Com dores nas pernas, o peruano estava sofrendo um pouco o preço da infiltração que fez dias antes para jogar o Mundial. A lesão sofrida contra o São Paulo, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, por pouco não lhe custou a participação no torneio. Sua saída de campo era questão de tempo quando Jorge Henrique puxou contra-ataque pelo meio, Paulinho deu para Danilo finalizar e a bola espirrou para o alto, com destino certo. A cabeça do 9 corintiano. E o gol.
Guerrero chegou ao Corinthians em julho sob desconfiança. O ídolo Liedson vivia má fase, amargurou a reserva na campanha vitoriosa na Copa Libertadores e deu adeus. Tite queria um homem de área, e pediu a chegada de um nome experiente para disputar um torneio como o Mundial de Clubes. Em rota de colisão no Hamburgo, o peruano surgiu como figura certa para assumir a camisa que já foi de ídolos históricos. De Luizão. De Ronaldo. De... Tupãzinho, em 1990. Agora, também de Guerrero. Para sempre.