Sites têm ingressos até 42 vezes mais caros para Copa das Confederações

Entradas de R$ 76 passam de R$ 3 mil no mercado informal, com taxas que chegam a R$ 1.610. Acesso ao estádio não é garantido, e Procon investiga

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A Fifa iniciou a troca oficial dos ingressos da Copa das Confederações na última quarta-feira, com centros nas seis cidades-sedes. Mas o mercado informal também tem aproveitado para lucar com o torneio. E muito. As entradas com preços majorados são vendidas livremente na internet, multiplicando o valor de face que ainda é somado a taxas de serviço.

A pesquisa simples com as palavras "ingressos Copa das Confederações" traz dois resultados no buscador Google que aparecem antes do que o portal da Fifa para a compra dos bilhetes: Ticketbis.com.br e Viagogo.com. Duas plataformas que são movimentadas por ofertas para os mais variados tipos de evento oferecidos pelos próprios usuários da página, que têm a opção de comprar ou vender ingressos no ambiente virtual. Até bilhetes com meia-entrada estão à disposição.

O preço de um bilhete de categoria 2, que custaria R$ 266 por vias oficiais para a final da competição, dia 30 de junho, no Maracanã, chega a custar R$ 8.050,00 no site Ticketbis, mais de 30 vezes o preço original, sem incluir a taxa de serviço que, neste caso, é de R$ 1.610,00. O valor total da entrada chega a R$ 9.660,00, ou mais de 36 vezes o preço por via oficial. Vale notar que o preço deste vendedor é superior aos bilhetes de categoria 1 mais caros encontrados na página virtual.

No Viagogo, um ingresso da categoria 4 - a mais popular - para o jogo de abertura entre Brasil e Japão, dia 15, no Mané Garrincha, em Brasília, chega a custar R$ 3.202,56 (com taxas, valor em euros convertido para reais pelo próprio site). Por vias oficiais, o bilhete custaria R$ 76, valor mais de 42 vezes inferior.

O site Ticketbis disponibiliza até bilhetes de meia-entrada, como os de categoria 4 também para a partida abertura. Neste site, neste setor do estádio, para este jogo, existiam quatro vendedores oferencendo meia-entrada, sem oferta de "inteiras". O valor de cada ingresso chegava a R$ 1.035,00 mais taxas. Alguns dos vendedores neste site só permitem venda de bilhetes em pares.

A Ticketbis nasceu na Espanha, em 2009. Além da matriz e da unidade brasileira, a empresa tem filiais no Reino Unido, em Portugal, na Itália, na Alemanha, na Rússia, no México, na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Peru e na Venezuela. A empresa informou que, atualmente, as operações brasileiras representam 35% do faturamento total na América Latina e 20% no mundo. O site oferece ingressos para diversas partidas da Copa das Confederações, de todas as categorias.

Há dois artigos no Estatuto do Torcedor que tratam da venda de ingressos majorados:

"Art. 41-F. Vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Art. 41-G. Fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010)".

Ricardo Noryo, diretor da Ticketbis no Brasil, explicou por e-mail:

- É importante reforçar que a Ticketbis não vende ingressos. Trata-se de um market place para a compra e venda de ingressos. Desta forma, o site apenas atua como uma plataforma virtual onde qualquer pessoa pode anunciar ou adquirir ingressos para qualquer evento, em qualquer lugar do mundo. Portanto, a Ticketbis não tem por objetivo, função ou prática, fornecer, desviar ou facilitar a venda de ingressos a preços abusivos. O que a plataforma oferece aos seus usuários é uma série de facilidades e garantias tanto para quem quer vender como para quem quer comprar ingressos, e são os próprios usuários os únicos e totais responsáveis pela precificação dos ingressos. Ademais, a Ticketbis não dispõe de capacidade técnica para conferir e validar os valores definidos pelos seus usuários.

Curiosamente, na área da página destinada à venda de ingressos, uma das primeiras informações pedidas pelo Ticketbis.com.br é o valor original do bilhete. Somente depois de inserir esse dado e suas informações pessoais o cliente pode prosseguir com a venda.

O Viagogo.com está registrado fora do país. No registro do site encontram-se contatos de São Francisco, nos Estados Unidos, e, acrescentando o ".br" - terminação de endereço de site brasileiro - aparece o nome de uma empresa, a Name Shield do Brasil Ltda, que teria sede em Ipanema, no Rio de Janeiro. Feito o contato no e-mail disposto no registro do site, a Name Shield respondeu que apenas administra o domínio com a terminação ".br" e que não tem qualquer ligação com o Viagogo.com.

Oliver Wheeler, que pediu para ser identificado como um porta-voz do Viagogo.com, entrou em contato por e-mail. Afirmou que o Viagogo foi criado em Londres em 2006 e hoje tem base na Suíça, sendo o "maior mercado de ingressos do mundo", com operações em mais de 30 países e aproximadamente 100 parcerias com "os maiores nomes do esporte e entretenimento" (entre eles, estão listados no site o Bayern de Munique, o Manchester City, o Chelsea, a ATP e Roland Garros). Diz que as pessoas podem usar o site para "comprar e vender ingressos para praticamente qualquer evento, em qualquer país, mesmo quando estão esgotados" e que "todos os preços no site são colocados pelos vendedores, com cerca de metade deles no valor de face". Ele informou ainda que site cobra uma porcentagem de 10% dos vendedores e 15% dos compradores dos bilhetes. Questionado se tinha conhecimento das leis brasileiras a respeito da venda de ingressos com preços majorados, limitou-se a dizer:

- Nós obedecemos às leis internacionais para revenda de ingressos.

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