O meio-campista holandês Clarence Seedorf, do Botafogo, sugeriu nesta terça-feira que o Campeonato Brasileiro seja iniciado em fevereiro, tendo, ao todo, dez meses de duração. Pela proposta levada pelo experiente jogador durante debate no 10º Footecon, o Estadual começaria depois, sendo disputado de forma simultânea, e com término previsto para outubro.
"O calendário é nosso grande problema. Não pela quantidade de jogos, mas pela distribuição das partidas. Não eliminaria o Estadual, mas começaria o Brasileiro em fevereiro, e levaria o Estadual mais para frente. Teríamos um Brasileiro com 10 meses de duração", afirmou o atleta.
O Estadual viraria uma opção para fazer um rodízio de atletas, pontuou o holandês. Segundo ele, os jogos não perderiam importância, já que poderiam contar com os chamados "reservas de luxo", que são jogadores importantes, que ganham altos salários, e ajudam a compor elenco. Seedorf ressaltou conhecer a importância do Estadual, especialmente no aspecto de revelar novos atletas em clubes de menor expressão.
"Acho que ninguém perderia. Todos os jogadores iriam jogar, a televisão teria um produto de boa qualidade", observou o meia, que salientou que não estava falando em nome do movimento Bom Senso FC, e que a proposta era pessoal.
Para Seedorf, um treinador precisa de tempo para preparar o time, e diante do calendário apertado só é possível fazer isso na base da conversa. Outro fator complicador de atuar no Brasil é a extensão do território, apontou. Ele lembrou que as viagens dentro da Itália duravam, no máximo, um hora e 30 minutos. No Brasil, um deslocamento pode levar até cinco horas, ressaltou.
"Na viagem, você não descansa direito. Você chega, não treina, não come direito. Isso vai causando um desgaste ao longo do tempo. Daí, a imprensa critica o jogador, quando, no fundo, ela não conhece os problemas, que têm fundo emocional. Tudo isso prejudica o espetáculo, e vemos jogos ruins, e estádios vazios", comentou, salientando que futebol é entretenimento, e deve-se buscar apresentar um produto melhor. "O Brasil tem capacidade de criar o melhor produto do mundo", acrescentou.
"Dirigente brasileiro quer ser mais malandro do que o outro", critica o holandês
Na palestra, Seedorf disse não entender a razão de setores de clubes rivais não se relacionarem. Para o holandês, futebol não é guerra, e sim negócio. Ele acrescentou que o Brasil tem quadros capazes e competentes para fazer o esporte funcionar de forma melhor, mas reclamou do fato de os dirigentes brasileiros buscarem tirar vantagem em tudo.
"Convido a todos a fazer o correto. Um quer ser mais malandro do que o outro, quer levar mais dinheiro. O Brasil tem o maior potencial do mundo para virar um exemplo. Basta que todos tenham vontade de fazer correto, tratem as pessoas como pessoas", opinou.
Questionado sobre questões relativas ao Botafogo, o meia se recusou a falar de qualquer assunto sobre o clube. O holandês se esquivou de perguntas a respeito da possível saída do time alvinegro carioca, e não quis comentar o adeus do técnico Oswaldo de Oliveira.